Capatazes e jagunços ainda são os mesmos e as aparências não enganam não

"Quando magistrados condenam apenas com base em convicções próprias, sem provas, à margem da Constituição e da Lei, do devido processo legal e das garantias legais, usam politicamente as instituições públicas para favorecer grupos políticos e econômicos nacionais e internacionais, vê-se que o país está dominado por déspotas, inimigos da democracia", diz o colunista Laurez Cerqueira; "A condenação sem provas e a prisão do ex-presidente Lula, a maior liderança popular do país, por razões puramente políticas, pelos mesmos que se dizem 'combatentes da corrupção', 'defensores da pátria', da 'ordem' e da 'democracia', é a mais sagrada prova de que os capatazes e jagunços ainda são os mesmos e as aparências não enganam não"

Capatazes e jagunços ainda são os mesmos e as aparências não enganam não
Capatazes e jagunços ainda são os mesmos e as aparências não enganam não


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Eles gostam dos salões dos palácios, de sinecuras, honrarias, fardões de gala, medalhas, e subserviência. Afinal, são filhos das cortes, servidores e protetores de monarcas, dos negócios de proprietários e rentistas, tutores "da lei e da ordem" ao longo da história.

Ainda são muito atrasados, não se civilizaram. Não conseguem sequer ser republicanos, democratas, cidadãos como os das sociedades modernas, desenvolvidas. Parecem viver como sebastianistas, sonhando com a monarquia engolida pelo tempo.

Como têm prerrogativas de uso de armas e de canetas para ameaçar os poderes democráticos constituídos, mandar pessoas para os cárceres, costumam demonstrar que os demais poderes da República são subordinados aos seus desígnios.

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Assim se formam os poderes marginais.

Quando militares e policiais rompem com os fundamentos da hierarquia e disciplina, inscrito na Constituição, viram bandos armados.

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Quando magistrados condenam apenas com base em convicções próprias, sem provas, à margem da Constituição e da Lei, do devido processo legal e das garantias legais, usam politicamente as instituições públicas para favorecer grupos políticos e econômicos nacionais e internacionais, vê-se que o país está dominado por déspotas, inimigos da democracia.

Quando deputados e senadores corruptos se juntam com ministros de tribunais para forjarem falso processo por crime de responsabilidade, a fim de cassar o mandato de uma presidente da República honesta, democraticamente eleita, para no lugar dela colocar um vice-presidente comprovadamente corrupto, seria possível dizer que o país foi vítima de um golpe de uma organização criminosa?

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Em 1988, em pleno funcionamento do Congresso Constituinte, o general Leônidas Pires Gonçalves, na época Ministro do Exército, atravessou a Esplanada dos Ministérios, com seu staff militar, para ir ao gabinete do presidente da Câmara, Ulysses Guimarães, ameaçá-lo com a possível volta dos militares ao poder, caso não fosse inserida na Constituição a tutela militar, sintetizada na expressão "defesa da pátria, da lei e da ordem". Assim o artigo 142 foi imposto e vigora como se os demais poderes da República fossem subordinados a ele.

Salvo as devidas exceções, as forças armadas militares, policiais, judiciárias e políticas, dominantes, sempre estiveram do lado dos poderosos, na manutenção da "ordem" do Estado colonial, imperial, republicano, que manteve a escravidão e o extermínio de indígenas por bandeirantes facínoras, dos senhores do tráfico, comércio e escravização dos negros, açoitados nos pelourinhos, humilhados e ofendidos séculos a fio. Capatazes e jagunços seriam magistrados, policiais e militares da época. Era quem decidia sobre encarceramentos e outras barbaridades, com base em convicções próprias. Guardadas as devidas proporções, a empáfia e a ideologia dessa gente permanecem encrustadas no Estado contemporâneo como herança perversa e bizarra expressa no governo Bolsonaro.

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No Brasil, os defensores da "ordem" homenagearam exterminadores de nações indígenas, de quilombos, com nomes em palácios, monumentos, rodovias, como em São Paulo, o Palácio dos Bandeirantes, rodovia Raposo Tavares, Fernão Dias, até Rede Bandeirantes, ruas, praças e edifícios públicos, Palácio Anhanguera, em Goiânia, e em cidades espalhadas por todo o país.

Em nome da "ordem colonial, imperial, republicana", enforcaram, decapitaram, esquartejaram, salgaram, corpos de Felipe dos Santos, Tiradentes, Antônio Conselheiro, Zumbi dos Palmares, Lampião e muitos outros. Exterminaram inúmeras nações indígenas. Na ditadura militar instaurada em 1964, prenderam, torturaram e mataram muitos brasileiros, hipocritamente "em defesa da democracia".

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A ladainha da "ordem" é a mesma do golpe civil-militar da República, dado para reprimir os escravos libertos e proteger interesses da coroa portuguesa e inglesa, de seus descendentes, e de outros golpes civis-militares, como o de 1964 e de 2016, também para proteger negócios de grandes banqueiros, de grandes impérios empresariais, nacionais e internacionais.

Além disso entregar as riquezas do país como petróleo e gás, minério, terras, e agora a entrega da Amazônia aos Estados Unidos.

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Guardadas as devidas exceções, o sistema estatal formado por forças armadas militares, policiais, judiciárias e políticas conservadoras, sempre protegeu os poderosos, interesses dos Estados Unidos, sempre foi inimigo da democracia e indiferente às aviltantes desigualdades sociais, às condições de vida dos pobres e dos trabalhadores.

As estatísticas estão aí para mostrar a realidade. Os seis brasileiros mais ricos têm o mesmo patrimônio dos 100 milhões da base da pirâmide social, a grande maioria formada por negros e seus descendentes, escravizados durante 350 anos, e indígenas, abandonados à própria sorte nas periferias das cidades brasileiras em condições subumanas. Segundo estudos da Anistia Internacional, as forças policiais brasileiras são as que mais matam no mundo. A grande maioria negros.

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Os golpes civis-militares no Brasil não foram para assegurar democracia coisa nenhuma. Essa mentira repetida tantas vezes precisa ser abatida. Foi para garantir que com a violência do Estado fossem mantidos e aperfeiçoados os mecanismos de acumulação do capital e apropriação de bens e serviços públicos pela minoria rica do topo da pirâmide social, por grandes corporações e bancos nacionais e internacionais, privilégios de classe e a exploração cruel do trabalho dos de baixo.

Com a mão de ferro dessas forças, o Brasil tornou-se o país mais desigual do mundo, segundo pesquisas publicadas no best-seller, O Capital no Século XXI, do economista e acadêmico francês Thomas Piketty.

O lucro líquido dos quatro maiores bancos saltou, em 2018, de R$ 65 bilhões para R$ 73 bilhões. Somente o Banco Itaú, o lucro foi de R$ 24.977 bilhões, o maior da história do sistema financeiro brasileiro.

Os bancos levaram, de perdão de dívida, do golpista Michel Temer, R$ 62 bilhões. O mesmo Michel Temer perdoou R$ 47,4 bilhões de dívidas de tributos de grandes empresas, um dos maiores volumes de recursos públicos perdoados, enquanto cortou de programas sociais destinados às camadas mais pobres, e congelou investimentos da área social por 20 anos. O golpe de estado que derrubou a ex-presidente Dilma foi para essas e outras falcatruas.

Aqui impera um dos mais injustos sistemas tributários do mundo, onde 71.000 milionários recebem anualmente R$ 300 bilhões a título de lucros e dividendos, valor sobre o qual são isentos de imposto de renda.

Os grandes produtores rurais estão conversando com o governo do capitão Bolsonaro, a fim de obter perdão de dívidas no valor de R$ 75 bilhões. Enquanto isso desmontam e cortam recursos das políticas sociais de inclusão e proteção social.

Na proposta de reforma da previdência social, colocaram a questão da idade mínima e tempo de contribuição como biombo, para esconder o objetivo maior da reforma, que é retirar da Constituição a contribuição do empresariado e perdoar R$ 450 bilhões de dívidas das grandes empresas, principalmente estrangeiras, que não pagam a previdência e não têm nenhum compromisso com o país. O que lhes importam são os lucros que carreiam daqui para as nações centrais.

No entanto, os governos que tentaram, com políticas públicas de distribuição de renda, reduzir a desigualdade e promover a soberania do Brasil foram derrubados.

A condenação sem provas e a prisão do ex-presidente Lula, a maior liderança popular do país, por razões puramente políticas, pelos mesmos que se dizem "combatentes da corrupção" , "defensores da pátria", da "ordem" e da "democracia", é a mais sagrada prova de que os capatazes e jagunços ainda são os mesmos e as aparências não enganam não.

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