Pobres Cunhas

Que diabos de Cunha é você, se a sua senhora jamais terá aulas de tênis com o professor da Sharapova? Como Cunha? Que Cunha, amigo, se a única Suíça que o senhor conhece é a limonada? Somos milhões de Cunhas, orgulhava-se a faixa durante as raves cívicas. Pobres Cunhas, faltou emendar

Eduardo Cunha e a mulher Claudia Cruz
Eduardo Cunha e a mulher Claudia Cruz (Foto: Lelê Teles)


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somos milhões de Cunhas, orgulhava-se uma faixa durante as raves cívicas. 

Cunha, como se sabe, é um sobrenome. 

sabemos, também, que esses milhões de Cunha autodeclarados naquela faixa não são da família do encrencado parlamentar. 

hhmmm. então por que diabos? você se pergunta.

Cunha, filho do homem, nesse caso é uma alcunha, um qualificativo. 

e porque queriam ser Cunha aquela multidão de revoltados? ora, porque estavam sobre o torpor da midiotia. 

ser Cunha aí era ser contra a corrupção, era ser ético, era ser a favor da família, da heterossexualidade, do mercado, de Deus e do dinheiro.

e, sobretudo, ser contra o PT.

e por que usar o epíteto Cunha assim, metonimicamente?

a mídia explica.

não faz muito tempo, qual o nosso inesquecível Pixuleco, a mídia inflou Cunha, um boneco vivo que cresceu a olhos vistos. 

manchetes de jornalões e revistonas alardeavam o seu "súbito poder" aos quatro ventos estocados; que Cunha era um herói, um "sabotador da República", um homem-bomba, um salvador da pátria, the impeachment man.

certa vez ele fez uma manobra canalha e, à sombra, encaixou um jabuti dando isenção fiscal à igrejas.

os jornalões disseram que ele agiu de forma inteligente, conhecedor profundo da legislação, e blá, blá, blá.

passaram a requalificar suas malandragens, ressignificá-las. 

inflavam o boneco. 

fariam dele o perfeito boneco de ventríloquo. 

seria a voz terceirizada da grande mídia, dos grandes perdedores e do grande capital; a voz do golpe, cheia de verniz e adornada com a cosmética semântica.

para deixar claro que ele crescia como um ícone, João Roberto Marinho, o infante, lhe permitiu uma visita no dia 20 de julho. 

ambos tiveram um longo encontro na casa de um amigo comum.

Marinho também se deixou fotografar apertando-lhe a mão no plenário da Câmara, gesto artificial, tramado e de forte simbolismo.

esse é o nosso homem, queria dizer. 

por isso, os midiotas adotaram Cunha por antonomásia. 

Jesus os perdoaria. eles de fato não sabiam o que estavam a fazer, o faziam bovinamente.

algum "ativista" muito ativo e liberal já estava a confeccionar máscaras Cúnhicas para o carnaval.

grana certa.

estavam todos inebriados pela droga que a mídia lhes aplicava homeopaticamente.

a explicação é essa.

os barões da mídia - que falam por ventriloquia - não deram tantas qualidades a Cunha por ingenuidade, mas por esperteza. 

todos sabiam que Eduardo chegara ao poder nos braços de PC Farias e já chegou pecefarando.

era uma criatura de submundos, que não andava sob o sol para que ninguém percebesse que era um homem sem sombra.

sua sombra agia pelos subterrâneos da criminalidade, esfregando-se pelas paredes, enquanto sua alma orava, cinicamente, num templo imundo e seu corpo disfarçava purismo e puritanismo para as câmeras e para a Câmara.

enquanto isso, em corpo, sombra e alma, sua esposa e filha flanavam mundo afora, deslumbradas e gastãs, esfregando cartões de crédito em fendas de maquininhas luxuosas.

um vício.

mas aí, da Suíça veio a luz que tirou Cunha das sombras. 

e atentai bem, não são ilações de torturados psicologicamente a fazer deduração premiada em uma cela imunda, só na saliva.

agora são documentos, provas físicas, concretas, assinaturas, notas, rastros...

fedeu.

com mil diabos, dizem ex-Cunhas.

agora, não se pode mais cunhar Cunha como uma alcunha qualificativa.

porque Cunha, agora, é pejorativo.

passou de alcunha a vulgo.
 
"seu Cunha", dirão ativistas indignados, dedo em riste, ao apontar um político ladrão.
 
"aquilo é um Cunha", afirmarão delegados e investigadores ao se referir, daqui pra frente, a toda sorte de gatuno do colarinho branco: falsários, sonegadores, estelionatários, achacadores, escroques e corruptos em geral.
 
tudo Cunha.

portanto você, que por ingenuidade, analfabetismo político ou, mesmo, por caradurismo, cunhou; descunhe-se.

desculpe-se, reconheça, diga a seu cunhado ainda hoje no churrascão dos amigos: cara, cunhei, mas já descunhei, me desculpa.

e lhe dê um abraço.

ele também lhe dirá que caiu na real.

afinal, que raios de Cunha é você aí num churrasco onde cada um traz o que vai beber. 

que diabos de Cunha é você, se a sua senhora jamais terá aulas de tênis com o professor da Sharapova?

como Cunha? que Cunha, amigo, se a única Suíça que o senhor conhece é a limonada?

somos milhões de Cunhas, orgulhava-se a faixa durante as raves cívicas. 

pobres Cunhas, faltou emendar.

palavra da salvação.

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