O CRU e o COZIDO

A depressão não mata, mas faz o cabra se matar. O depressivo deve, sempre, procurar ajuda. O amigo e o familiar têm o dever moral de lhe dar suporte. A depressão pegou Bourdain, em seguida veio o suicídio

Anthony Bourdain
Anthony Bourdain (Foto: Lelê Teles)


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a depressão não mata, mas faz o cabra se matar.

o depressivo deve, sempre, procurar ajuda.

o amigo e o familiar têm o dever moral de lhe dar suporte.

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a depressão pegou Anthony Bourdain, aos 61 anos, em seguida veio o suicídio.

ele tinha um histórico de complicações com o abuso de drogas.

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dito isso, digo mais.

Bourdain diferia completamente de seus colegas de métier enfeitiçados pela televisão: pouco cultos, deslumbrados e exibicionistas.

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à maneira do estruturalista Lévi-Straus, autor do seminal O Cru e o Cozido, Bourdain usou a gastronomia como um hipermediador.

era de cultura que ele falava quando falava de culinária.

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você bem o sabe, nenhuma troca foi mais significativa para estabelecer contato entre culturas do que a troca de alimentos.

e é aí que ocorrem as trocas simbólicas, lembremos aqui de Bourdieu.

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você sabe muito bem o que quer dizer "aqueles ianques comedores de hambúrguer".

e conhece o valor simbólico de uma comida colorida à mesa, regada a um bom vinho e a uma boa companhia.

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o cara que diz ter nojo de comer um gafanhoto assado na Tailândia é o mesmo que come com prazer uma lesma (escargot) na França.

a brasilidade é, sobretudo, a junção de pratos de três continentes e nada africaniza mais a Bahia que o acarajé.

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o mineiro é o cara do pão de queijo e do cafezinho, o gaúcho é o chimarrão e o churrasco.

foi em busca de especiarias que se "descobriu" o novo mundo. a culinária é uma produção cultural simbólica e um canal aberto de comunicação.

você é o que você come porque o alimento produzido na sua cultura está carregado de sentido identitário. sociedades que conviveram com a escassez por longos períodos formataram um padrão alimentar único, aproveitando-se, de forma criativa, do que dispunha.

por isso tem gente espetando insetos na brasa ou comendo comida crua.

antes de se entregar a seus verdugos, Jesus comeu com seus discípulos, foi à mesa que ele revelou a grande trama.

foi com alimento que ele produziu milagres e com alimento fez parábolas.

ele era à beira do fogão à lenha que a vovó transmitia valores culturais, no bate papo temperado e defumado.

a cozinha preserva a memória de um povo, seu ethos, sua trajetória histórica, sincrônica e diacrônica.

Anthony sabia de tudo isso, como um excelente storyteller ele permitiu com que todos viajassem em suas viagens.

ao contrário do viajante sélfico que viaja para tirar fotos de edifícios e pontes, Bourdain sentava-se à mesa e sentia o sabor e o saber da gente que visitava.

Bourdain, ao se permitir sentar em cantinas e biroscas, tendas e salões, chairs e tamboretes, vivenciava uma experiência quase etnográfica.

ele estava em busca da alteridade.

os chefetes de hoje só estão interessados em exibir autoridade.

fará falta!

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