Declaração de voto

Imaginem se os membros de minha seção passassem a questionar nas redes sociais e na imprensa o resultado da eleição por não contemplar aquilo que eles queriam? No mínimo seriam chamados de loucos ou ignorantes



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Meu voto já estava definido e decidido há um bom tempo. Aliás, meus votos, haja vista que foram sete clicadas na urna, pois em Campinas também votamos no plebiscito de criação de dois distritos.

Toda justificativa de escolha é válida, desde as de anti-voto (nulo, branco ou votar no 'menos pior') até as baseadas no contra-voto: votar contra o PT ou contra os tucanos, votar contra os programas sociais ou votar contra a má gestão dos recursos hídricos, votar contra o governo, qualquer que seja!

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Passei a ser simpático à linha de pensamento que Hélio Schwartsman tem defendido em suas colunas na Folha de S. Paulo, mostrando que nossas escolhas são individualistas na essência e mesmo o altruísmo é praticado quando interesses individuais são atendidos. Assim, pouco importa se a escolha em quem votar é porque "vou me dar bem, conseguir uma boquinha na administração ou deixarei de pagar mais imposto" ou porque "as ideias se alinham com minha ideologia, o plano de governo beneficiará o maior número de pessoas ou sacrifícios devem ser feitos agora para um futuro mais tranquilo".

De qualquer forma, não é simples conhecer todas as alternativas e consequências do poder. Eu vivi por seis anos dentro de um Comitê de Bacias Hidrográficas que avaliava a gestão de recursos hídricos e alertava para a iminente escassez de água no Estado de São Paulo, fato ignorado por 'instâncias superiores', mas nunca estive na pele de um nordestino que receba Bolsa Família para saber o quanto eu dependeria desse recurso para viver ou o quanto isso me inibiria de procurar alternativas, caso existam.

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Nessas eleições, houve muita crítica à propaganda da mentira, mas muitos se esquecem ou não vivenciaram a época recente – 40 anos atrás – quando o problema era que não se podia falar a verdade. Escutar mentiras é, com certeza, muito melhor que o silêncio ditatorial. A verdade poderia ser envenenada com chumbo naqueles tempos.

Eu não me importo quando alguém afirma que votou no Alckmin por considerá-lo um excelente governador, um gestor eficaz, um transformador do Estado no melhor do país, com saúde, educação e segurança boas. Mas fico preocupado quando alguém sustenta o mesmo voto dizendo que os demais candidatos eram muito ruins e, por falta de opção, votou pela reeleição do governador paulista. Mais ainda quando declaro meu voto em outro candidato e sou apontado como ignorante ou cego. Sei que já estou precisando de óculos para ler, mas insisto em não me considerar alheio às questões políticas de meu estado e de meu país.

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De sorte que as incoerências foram muitas olhando, é claro, pelo prisma que me é apresentado. Um médico me disse que estava preocupado com a ascensão de Marina Silva na disputa com Dilma Rousseff, pois se as duas fossem para o segundo turno, seria PT x PT, pois a pessebista nada mais era do que 'PT disfarçado'. No entanto, quando ficou constatado que Aécio Neves passou para o turno seguinte e obteve apoio daquela 'petista', o médico silenciou e apenas externou a tranquilidade de ter em quem votar. Mas e a coerência com aquele argumento? Ficou apenas na minha memória e neste registro. Tanto esses, como os que associam o Bolsa Família à compra de votos, não poderiam ter votado no tucano que defendeu de forma veemente o programa social e se aliou àquela que era considerada petista de alma (seja lá o que isso signifique). Para mim, seria muito mais justo e honesto dizer: meu voto é contra o PT, independente de o candidato tucano usar de subterfúgios para ganhar votos, enganar, mentir, espalhar boatos; o importante é a derrota do PT e ponto final. Trágico, mas honesto.

Por ter sido professor por algumas décadas e pai por um tempo um pouco menor, eu acompanho a evolução da educação, em todos os níveis, e sei da quase impossibilidade de levar qualidade à quantidade (no caso da educação básica) ou mesmo manter a excelência (no caso das universidades) com tanta ingerência dos governantes. Assim, insisto que o problema mais sério é a educação – não somente aquela de berço, de casa – refiro-me àquela da escola, a formal. Os xingamentos e a estigmatização mostram total desconhecimento (palavra mais leve que ignorância) de matemática e geografia. Há sim regiões fortemente eleitoras de Dilma e outros redutos de Aécio. No entanto, os números mostram que mais da metade dos votos de Dilma veio do Sul e Sudeste do país. A separação entre Norte e Sul não considera que houve muitas diferenças dentro de todos os estados, com inserções fortes de um e outro candidato no reduto alheio.

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Mas e em cada urna, em cada seção? Você baixou o mapa da sua urna para ver como os demais eleitores, seus vizinhos, que estavam na mesma fila, votaram? Na minha seção, no primeiro turno, venceu Aécio e Luciana Genro ficou em segundo! Números: 36,6% para Aécio, 25,0% para Luciana Genro, 17,6% para Dilma, 15,3% para Marina e 5,1% para Eduardo Jorge. O meio ponto faltante foi um voto em Zé Maria do PSTU. E para governador: 38,2% para Alckmin, 25,5% para Padilha, 17,2% para Skaf. Significaria, então, uma revolta dos que moram perto de mim que queriam segundo turno entre Aécio e Luciana Genro para a Presidência e também um segundo turno claro entre Alckmin e Padilha para o Palácio dos Bandeirantes? Seremos nós segregados, agora que foi revelada a composição de votos da urna, de todo o resto do país? Imaginem se os membros de minha seção passassem a questionar nas redes sociais e na imprensa o resultado da eleição por não contemplar aquilo que eles queriam? No mínimo seriam chamados de loucos ou ignorantes. Vejam só! Não é a mesma legitimidade que teriam os que estão vociferando em relação aos resultados nacionais? Isso é o que estamos longe de aprender: que a democracia é o voto da maioria.

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