Como proteger a Petrobras de novos ataques especulativos?

Qualquer operador do mercado financeiro que tivesse a informação sobre a decisão de Parente pode ter ganho alguns bilhões de dólares. E isso é um crime financeiro. Essa é a razão pela qual fatos relevantes só são comunicados ao mercado após o fim do pregão

Qualquer operador do mercado financeiro que tivesse a informação sobre a decisão de Parente pode ter ganho alguns bilhões de dólares. E isso é um crime financeiro. Essa é a razão pela qual fatos relevantes só são comunicados ao mercado após o fim do pregão
Qualquer operador do mercado financeiro que tivesse a informação sobre a decisão de Parente pode ter ganho alguns bilhões de dólares. E isso é um crime financeiro. Essa é a razão pela qual fatos relevantes só são comunicados ao mercado após o fim do pregão (Foto: Miguel do Rosário)


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O senhor Pedro Parente pediu demissão da presidência da Petrobras no meio do pregão, provocando uma grande instabilidade no preço das ações da estatal, que sofreram bilionária desvalorização – quase R$ 60 bilhões de prejuízo. Quer dizer, além do prejuízo monstruoso causado à economia pelo aumento criminoso no preço dos combustíveis, além dos danos provocados pela greve dos caminhoneiros, que também chegam a dezenas de bilhões de reais, igualmente causados por uma política irresponsável de preços, o senhor Pedro Parente ainda causou um prejuízo de mais de R$ 60 bilhões ao se demitir, abruptamente, no meio de um pregão, sem negociar com governo e mercado uma transição para sua gestão.

Ao refletir sobre esses valores, que são ligados puramente à movimentos de destruição, não temos como esquecer a operação Lava Jato. Os supostos desvios apurados pelo juiz Sergio Moro, da ordem de 1 ou 2 bilhões de reais, para se materializarem, exigiram a construção de plataformas, oleodutos, navios, refinarias, investimentos generosos em pesquisa e tecnologia...

Qualquer operador do mercado financeiro que tivesse a informação sobre a decisão de Parente pode ter ganho alguns bilhões de dólares. E isso é um crime financeiro. Essa é a razão pela qual fatos relevantes só são comunicados ao mercado após o fim do pregão.

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Como presidente da estatal, a decisão de Parente é, portanto, duplamente criminosa. Afinal, entre suas virtudes não se encontrava a de homem experiente em mercado?

Sempre é bom lembrar que Parente possui uma empresa (hoje em nome de sua esposa) que administra a fortuna de algumas centenas de milionários. Será preciso investigar se houve movimentação suspeita nos últimos dias, ou mesmo semanas.

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Espera-se que as autoridades responsáveis, tanto do mercado financeiro, como a SEC e a CVM, investiguem profundamente o caso. O mesmo vale para o Ministério Público Federal e para a Polícia Federal.

Além dessa questão policial, outras vieram à tôna com a demissão de Parente. Uma delas, obviamente, é a política de preços. Depois de tantas voltas, a opinião pública nacional se esborracha na seguinte verdade: a política de preços de Dilma era rigorosamente justa. Se ela segurou os preços por mais tempo que devia, agora sabemos que não foi um erro tão grande, se é que foi mesmo um erro. Dilma podia ter mil defeitos, mas tinha uma visão justa sobre a função social da Petrobras. A falta dessa visão, notória em Michel Temer e em seus patrocinadores da mídia, acaba colocando em risco a própria existência da estatal, ameaçada por movimentos de insurgência popular (mesmo que iniciados por entidades patronais).

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Outro debate importante é sobre a exposição exagerada da estatal, e por consequência, da economia brasileira, a ataques especulativos de forças obscuras do mercado financeiro.

Essa exposição compromete a democracia e a segurança nacional. As ações da Petrobrás, desde já algum tempo, espelham não propriamente a saúde financeira da empresa, e sim a disposição de entregar nossas riquezas, no curto prazo, ao capital estrangeiro. Qualquer sinalização política de que a estatal assumirá algum tipo de compromisso com a estabilidade dos preços domésticos dos combustíveis, as ações desabam. E qualquer sinalização contrária, de que a estatal está disposta a fazer o jogo sujo do mercado financeiro, em detrimento do interesse nacional, as ações disparam.

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Quem não se lembra de 2014, quando as ações da Petrobras oscilavam de acordo com as pesquisas de intenção de voto? O mercado financeiro só gosta de governantes neoliberais, de direita, e portanto as ações da estatal se valorizavam sempre que Aécio Neves subia nas pesquisas.

A quem isso interessa?

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A Petrobras é uma estatal altamente lucrativa, que domina a venda final de combustíveis para um dos maiores mercados do mundo, encontrou novos campos de petróleo de altíssima qualidade, e tornou-se líder mundial no domínio das tecnologias para exploração de petróleo em águas profundas. Para que a Petrobras precisa continuar se humilhando perante interesses que não são dela, nem do Brasil?

Muitas estatais, mundo afora, não são negociadas na bolsa, ou tem exposição relativamente pequena.

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A Saudi Aramco, da Arábia Saudita, maior empresa de petróleo do mundo, foi inteiramente incorporada ao governo, nos anos 70 e hoje pertence 100% ao Estado. Não consta que a empresa tenha tido qualquer problema de capitalização nas últimas décadas. O governo saudita, sob nova liderança, tem prometido, de uns dois anos para cá, abrir 5% do capital da companhia. Mas ainda não bateu o martelo.

As três próximas empresas de petróleo no ranking global são estatais chinesas, controladas integralmente pelo governo: Sinopec, CNPC e Petrochina.

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Ainda no topo da lista das maiores empresas de petróleo domundo, temos a estatal Kuwait Petroleum Corporation, a qual, como quase todas as estatais do oriente médio, foi 100% adquirida pelo governo a partir do final dos anos 70.

A Equinor (novo nome da Statoil) pertence ao governo da Noruega: segundo o site da empresa, o governo possui 67% das ações da empresa. Mais 3% pertencem a um fundo de pensão controlado pelo governo, de maneira que pode-se dizer que o governo controla 70% da empresa.

O caso da russa Gazprom é um pouco diferente. Com o fim do regime soviético, houve um processo caótico de privatização, que provocou uma crise econômica e social que levou milhões de russos à miséria. Após uma longa e dura luta política, o governo russo conseguiu reassumir, em 2005, o controle da Gazprom, ao aumentar sua participação acionária para 51%.

A venezuelana Pedeveza é 100% controlada pelo governo, assim como a companhia de petróleo iraniana.

A mexicana Pemex é igualmente controlada 100% pelo governo.

Não seria o momento de iniciarmos um debate sobre as vantagens, para nossa economia, para nossa democracia, e para o próprio futuro da Petrobras, do governo brasileiro assumir 100% do controle acionário da estatal, blindando-a contra qualquer tipo de especulação?

Para compensar o "fechamento" da Petrobras ao mercado financeiro, uma nova empresa mista poderia ser criada, focada em investimentos em novas energias, em novas tecnologias, em inovações de todo tipo.

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