Quando o preconceito se disfarça de ideologia política

A atitude dessa pediatra, que ainda encontrou eco na voz do presidente do sindicato médico do Rio Grande do Sul, Paulo de Argollo Mendes, abre precedentes para que sejam cometidos outros crimes em nome da ideologia política e partidária de alguns

A atitude dessa pediatra, que ainda encontrou eco na voz do presidente do sindicato médico do Rio Grande do Sul, Paulo de Argollo Mendes, abre precedentes para que sejam cometidos outros crimes em nome da ideologia política e partidária de alguns
A atitude dessa pediatra, que ainda encontrou eco na voz do presidente do sindicato médico do Rio Grande do Sul, Paulo de Argollo Mendes, abre precedentes para que sejam cometidos outros crimes em nome da ideologia política e partidária de alguns (Foto: Nêggo Tom)


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A cada capítulo dessa novela envolvendo a tentativa desesperada da direita em aplicar um golpe contra a presidente Dilma Roussef e retomar o poder, assistimos ao vivo e a cores cenas que têm revelado o que há de pior na essência de algumas pessoas. A rivalidade, que já superou a clubística, entre os que são contra o impeachment e os que são a favor dele, atinge níveis de irracionalidade absurdos. Há poucos dias uma pediatra se recusou a seguir atendendo a uma criança porque descobriu que a sua mãe era petista. Pode até parecer mas não é matéria do Sensacionalista. A piada é bem sem graça e perigosa. 

A médica Maria Dolores Bressan informou a mãe da criança que não podia passar por cima dos seus princípios atendendo o filho de  uma pessoa ligada ao partido que ele quer ver fora do poder. Em mensagem enviada a Ariane Leitão, mãe da criança, e publicada pela Folha de São Paulo, a médica alega que: "depois de todos os acontecimentos da semana passada e culminando com o de ontem (quarta, 16/03), onde houve escárnio e deboche do Lula ao vivo e a cores, para todos verem (representante maior do teu partido), eu  estou sem a mínima condição de ser pediatra do teu filho." É difícil de acreditar que estamos lendo isso, mas estamos. E ainda dito por alguém que faz um juramento de amor ao próximo para poder exercer a sua profissão. 

Este episódio lamentável protagonizado por essa médica, me fez pensar em tantas outras situações, tão graves ou até mais graves do  que essa, que ocorrem em nosso dia a dia sob outros pretextos ou ideologias que apenas expressam o preconceito internalizado no consciente de alguns. A falta de ética profissional dessa pediatra e a sua falta de  sensibilidade em não conseguir superar uma diferença ideológica em detrimento do bem estar de uma criança de apenas  1 ano de idade, deveria acender em todos nós um sinal de alerta  que  indica a nociva degradação do caráter do ser humano  e a revelação da face obscura, porém a verdadeira, de muitos que se apresentam como cidadãos de bem. 

Na verdade essa médica representa o pensamento de uma porção egoísta e preconceituosa da nossa sociedade. Aquela porção que também usa a ideologia política como máscara para segregar os mais pobres, para perpetuar o racismo e para poder legitimar o seu preconceito de forma institucionalizada. É aquele tipo de "cidadão de bem" que se recusa a sentar a mesa com o outro porque o outro não pertence a sua classe econômica e isso vai de encontro aos seus conceitos de aceitação social. É aquele tipo de pessoa que se recusa a aceitar que um negro possa estar numa boa universidade ou ter um mínimo de dignidade, porque isso fere o  seu conceito de superioridade racial. Ele não consegue lidar com isso. É demais para a sua formação escravocrata. 

A mesma médica  representa ainda aquela porção que ainda não se acostumou com a presença dos menos favorecidos em alguns ambientes que antes o acesso lhes era negado. Eles se recusam a estar no mesmo avião que um pobre, que antes viajava apenas de ônibus e assim deveria estar fazendo até hoje. Isso é um insulto a tudo que lhes fora ensinado pelos nossos colonizadores. Afinal, lugar de pobre é na cozinha e não sentado na poltrona que sempre foi cativa aos mais abastados. A recusa da médica Maria Dolores Bressan também representa o totalitarismo que a nossa direita política sempre quis impor no país. Um governo no estilo "bom xi bom xi bom bom bom", onde o rico cada vez deve ficar mais rico e o pobre cada vez mais pobre. E de preferência lhes servindo fielmente e agradecendo pelas migalhas que lhe oferecem. 

O preconceito disfarçado de ideologia também pode se manifestar de outras formas. É o caso do sujeito que demoniza o outro porque não aceita a sua crença religiosa ou a sua orientação sexual. Não que sejamos obrigados a compartilhar das mesmas escolhas ou absorvê-las como legítimas, mas devemos ter o bom senso de respeitar ou de no mínimo não sermos tão cruéis com as diferenças. Deveria ser tão simples evitarmos fazer aos outros o que não gostaríamos que fizessem conosco, se o egocentrismo não se sobrepusesse a razão e a boa educação. Atitudes como a dessa médica expressam o pensamento de uma parte da elite que dá aos seus filhos o que há de melhor, mas se recusam aceitar a criação de um mísero bolsa família que assiste a muitas crianças que têm fome e sede. E n&at ilde;o apenas de alimentos, mas principalmente de dignidade.

A atitude dessa pediatra, que ainda encontrou eco na voz do presidente do sindicato médico do Rio Grande do Sul, Paulo de Argollo Mendes, que elogiou a atitude da médica e disse, entre outras coisas que: "Ela tem que se orgulhar disso. Não tem que se arrepender", abre precedentes para que sejam cometidos outros crimes em nome da ideologia política e partidária de alguns. E se por acaso outro médico inspirado no exemplo dessa pediatra, resolve negar atendimento a um paciente porque ele é filiado a um partido que ele não gosta e o mesmo vir a óbito? E se um Juiz, mesmo sem analisar o processo resolve sentenciar um réu como culpado apenas porque o mesmo é a favor do governo o qual ele é contra? Isso é criminoso e característico dos golpistas que não aceitam ideias contrárias as suas e apelam para a força irracional a fim de provocar a ruptura do regime democrático. 

O que se vê é uma manifestação de insanidades e despropósitos por parte de um segmento da sociedade liderado e induzido por aqueles que querem tomar o poder na marra. Eles estão fazendo ameaças, intimidações e promovendo agressões verbais e até físicas sob o pretexto de ideologia política. Até o deputado Jair Bolsonaro já avisou que os deputados que não votarem a favor do impeachment terão dificuldades para sair do congresso ao término da votação e ainda convocou os militares e os simpatizantes da causa para sitiarem o congresso nacional no dia do pleito, num claro intuito de intimidar os parlamentares votantes. Esse é o tipo de democracia que eles querem instituir no país, mas haverá forte resistência. Os que outrora eram excluídos, hoje estão mais fortalecidos e não abrirão mã o de lutar pela inclusão que lhes possibilitou acesso a um pouco mais de dignidade e que deve continuar possibilitando a outros o mesmo benefício. 

É bom que uma parte da sociedade esteja revelando a sua verdadeira face nesse momento político que atravessa o pais. É bom que algumas caras e bocas, ricas, bem nutridas, perfeitas e aparentemente do bem, apareçam na foto sem maquiagem ou foto shop para que possamos identificar com clareza as suas rugas (e rusgas também) e as suas marcas de expressão mais secretas que eles sempre tentaram esconder, mas que todo mundo sempre soube que estava lá sob diversos cosméticos capazes de fazer mágica e transformar pele de lobo em cútis de cordeiro. É o Brasil mostrando a  verdadeira cara de uma boa parte da nossa elite que é, sempre foi e sempre será fascista, racista, reacionária, absolutista e principalmente covarde. 

Não vai ter golpe! 

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