Deixem de ser odiosos e cruéis, negros racistas!

A missionária angolana Ruth Catala usa a famigerada história do turbante, que a jovem branca de Curitiba usava e que deu o que falar, para minimizar, distorcer e até ridicularizar todo um movimento e toda uma história de luta contra o racismo



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O sistema é mesmo perverso e suas técnicas de manipulação são, digamos, diabólicas. E ele consegue cooptar, facilmente, missionários, voluntários e adeptos, ávidos por notoriedade e por realização pessoal, e que se dispõe a reverberar as suas mensagens e a disseminar as suas intenções. Que, normalmente, não são nada boas e muito menos tem um sentimento humano e socialmente igualitário.

Quantas vezes já ouvimos muitas mulheres dizerem, quando outra mulher foi estuprada ou sofreu abuso sexual, que a mesma facilitou, que não tinha nada que passar por ali sozinha, ou estava com uma roupa curta demais ou que se ela estivesse indo para a Igreja, nada teria acontecido. Qual o efeito desse tipo de discurso? Ele minimiza e relativiza o crime de estupro e ainda atribui à vítima, a motivação e até mesmo a culpa por ter sido estuprada. Com isso, toda a luta e toda mobilização para que as mulheres sejam respeitadas e para que esse tipo de crime seja punido com rigor, acaba sendo minada. Usei o exemplo do estupro para introduzir o meu desabafo e manifestar a minha indignação com o discurso que alguns pretos, muitos deles cooptados pela casa grande, que vem de encontro a toda luta por igualdade racial e aos poucos avanços obtidos através dela. J&aac ute; conhecemos Fernando Holliday, o ativista do MBL que se elegeu vereador, com o financiamento e com as bênçãos da direita golpista, que o escolheu como o capitão do mato do neoliberalismo.

Mas vendo que o homem não podia ficar só, os deuses, digo, os golpistas, resolveram dar-lhe uma companheira. Talvez ela nem seja filiada ao movimento, mas o seu discurso é o mesmo e foi compartilhado com muito gosto pelo time de juniores do golpe. Trata-se de uma missionária angolana, chamada Ruth Catala. Me deparei com um vídeo seu rolando na rede, que por sinal estava sendo muito festejado por adeptos da direita e por fãs do Bolsonaro, e tive a curiosidade de assistir. O que vi e ouvi me deixou preocupado e indignado. Não pela contraposição ao que eu penso, mas pela oposição ao bom senso. A missionária angolana usa a famigerada história do turbante, que a jovem branca de Curitiba usava e que deu o que falar, para minimizar, distorcer e até ridicularizar todo um movimento e toda uma história de luta contra o racismo.

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O desserviço prestado pela Missionária angolana é um up grade no discurso da direita escravocrata, em toda a sua essência fascista. Tanto é que o MBL postou o vídeo com a sua logomarca e o intitulou de: "Angolana destrói movimento negro vitimista". A casa grande está em festa. A missionária chama os pretos de egoístas que precisam aprender a compartilhar os seus brinquedos com os colegas brancos e insinuou que a luta por igualdade racial desenvolvida no Brasil não carrega igualdade e honra e fere o direito e a liberdade de outros seres humanos. No caso os brancos. Se eu fechasse os olhos eu poderia jurar que não era uma mulher preta falando. A missionária também disse que é preciso reavaliar a nossa estratégia de combater o racismo, porque além de se valerem do vitimismo, os pretos estão querendo mostrar que também podem escravizar os brancos. Assistam ao vídeo.

É preciso levar em consideração a falta de conhecimento da tal missionária, com relação ao racismo praticado à moda da casa e avaliar cuidadosamente as suas reais intenções com a publicação do vídeo. Usar o nome de Jesus para defender os seus interesses pessoais e financeiros, nós já sabemos que é uma prática muito utilizada por aqui. Agora usar o nome de Jesus para contribuir com a perpetuação do racismo e da desigualdade, é uma nova tendência. O seu perfil é quase irresistível de tão crível e pode levar a muitos, a caírem na armadilha. Uma mulher preta, angolana, missionária cristã, falando em nome de Deus, mas se comportando como a casa grande gosta. Bingo! Quem será o publicitário por trás dessas campanhas? O cara é fera! Conseguiu tran sformar um jovem preto, pobre e gay, no queridinho da elite escravocrata e símbolo de ética, boa conduta e meritocracia. E ainda o elegeu vereador.

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Não devemos permitir que a luta por igualdade e contra qualquer outro tipo de preconceito ou violência, seja diminuída ou menosprezada. Usar o membro de um grupo oprimido para legitimar a covardia do opressor é uma tática antiga, mas que ainda funciona. Aliás, a opressão só se mantém, graças aos cúmplices que os opressores conquistam entre os próprios oprimidos. Quando a missionária angolana diz que os pretos estão sendo cruéis e odiosos em sua estratégia de luta contra o preconceito, ela faz inverter a falta de valores que motiva o racismo e tenta atribuir o ódio e a crueldade contidos no mesmo, a reação e ao posicionamento de quem luta contra a segregação. Assim como no caso de estupro que citei mais acima, a vítima é transformada em culpada e condenadas, muitas vezes, por suas iguai s de gênero.

Além de falar, sem muita propriedade, sobre apropriação cultural, encontramos muitos outros equívocos no discurso da missionária. Talvez pelo fato de não conhecer bem a história do negro no país e as mazelas locais. O principal equívoco cometido por ela, foi ter usado a história (ou a pseudo história) de um simples turbante para contextualizar dentro de um tema tão sério e importante, que é o racismo e a luta por igualdade racial no Brasil. A missionária foi ainda mais infeliz ao dizer que os pretos brasileiros estão criando grupinhos e recriando a segregação. Assim, mais uma vez, ela torna o cachorro vítima da lingüiça. Falando em cachorro, ela também recomenda a quem se sentir solitário e isolado por causa de preconceito, citando grupos como os gordos, as mulh eres pretas, os gays, os índios, entre outros, que comprem um cachorro para lhes fazer companhia.

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Apesar de usar argumentos primários, frágeis e de fácil desconstrução, o que nos permite, com toda razão, associá-la ao MBL, a missionária, assim como Fernando Holliday, cumpre muito bem a missão de transformar todas as queixas de racismo, em puro mi mi mi, induzindo as pessoas, e até mesmo outros pretos mais distraídos, a entenderem que lutar por igualdade e respeito é uma grande bobagem e que devemos fazer cara de paisagem e deixar as coisas como estão. Afinal, todos sofrem preconceito por algum motivo ou condição, e ficar tentando conscientizar as pessoas de que é errado discriminar ou se apropriar da cultura alheia, apenas fomenta mais ódio e mais divisão entre as pessoas.

Deixem de ser odiosos e cruéis, negros racistas!

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