Allez Les Blacks!

O dia 15 de julho de 2018 para o futebol francês, é o novo 14 de julho de 1789, data da tomada da bastilha, o evento central da revolução francesa. É a data na qual os imigrantes, que são vítimas de preconceito e que gozam de menos respeito e de menos direitos como cidadãos naquele país, ergueram a taça e soltaram o grito de campeão

Allez Les Blacks!
Allez Les Blacks! (Foto: Kai Pfaffenbach-Reuters)


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Minha admiração pelo futebol francês, começou quando eu, ainda criança , conheci já quase  em final de carreira, a arte e a habilidade de Michel Platini. Que, pelo pouco que eu vi - e que ainda perdura na minha memória afetiva - foi melhor do que Zidane. Mas, isso é outro papo. O campeonato Italiano de futebol despertava o interesse da molecada da minha época e Platini jogava na Juventus. O torneio era transmitido pela Rede Bandeirantes, dentro do “Show do Esporte” e os jogos eram narrados por Silvio Luiz. Mama mia! No pau! Pelas barbas do profeta! Foi foi foi foi foi foi ele......

A primeira copa do mundo que eu assisti, foi a de 1986, quando a seleção brasileira foi eliminada, justamente pela  França, de Platini, Giresse, Fernandez e de Tiganá, na época o único negro titular do time. Vejam como a questão da representatividade étnica é importante, para a formação de uma criança de 8, 9, 10 anos de idade. Após aquela copa, eu ganhava um ídolo preto do futebol internacional, para “interpretar”, nas "peladas” com os amigos na rua. Quem nunca fingiu ser um? A cada passe dado com maestria ou a cada gol feito, fosse no golzinho improvisado com chinelos ou nas traves da quadra de futebol do colégio, a minha auto narração soltava a plenos pulmões: TIGANÁ! Além de brasileiro, eu podia ser francês também. Tiganá me representava. 

A seleção francesa que derrotou o Brasil, na final da copa de 1998, já tinha mais jogadores negros no grupo. Thuram, Desailly, Vieira, Anelka, Henry, Karembeau, faziam parte da equipe que deu a França, o seu primeiro título mundial. Nesse momento em que a política de imigração vem sendo muito discutida em alguns países, o título conquistado pela França no mundial da Rússia, veio bem a calhar. Uma França que por pouco, não se viu governada por Marine Le Pen, uma xenófoba de carteirinha e que pode ser considerada uma versão feminina de Donald Trump. Outro inimigo declarado dos imigrantes.

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Com um discurso na base do “Não somos racistas, mas queremos que a França continue francesa”,  Le Pen foi despertando o interesse e conquistando a simpatia da direita e dos conservadores franceses.  Com uma retórica ufanista,  similar a um candidato a presidência que temos por aqui, Le Pen já era considerada um mito por alguns franceses, que já davam como certa a sua vitória nas urnas. O que não aconteceu, para sorte da França, dos imigrantes e do futebol daquele país.

O bi-campeonato mundial dos Les Bleus, se deve em grande parte, aos jogadores imigrantes que atuam pela seleção do país. 78% do elenco é de imigrantes. Majoritariamente negros, oriundos de países como Congo, Guiné, Camarões, Angola, Marrocos, Togo e Senegal. O galo francês não teria cantado tão alto na Rússia, se não fosse a determinação tática de Kanté, a visão de jogo de Pogba, a experiência de Matuidi, a força física de Umtiti e a habilidade e velocidade de Mbappé. A atual campeã do mundo, é uma seleção multiétinica, com raízes em 17 países. Vale lembrar que, Zinedine Zidane, craque que conduziu a França ao título em 1998, é de origem argelina.

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Eu não sei se Le Pen e seus apoiadores, estão comemorando o título, mas tenho a certeza de que o grito de campeão dos imigrantes da seleção francesa, está soando em seus ouvidos como uma espécie de: “Vocês vão ter que me engolir”, eternizado pelo velho lobo, Zagallo. Se a França se mantivesse etnicamente francesa, como no sonho ideológico de Marine Le Pen e dos “marineminions” que a queriam no poder, talvez Paris não estivesse em festa nesse momento. O dia 15 de julho de 2018 para o futebol francês, é o novo 14 de julho de 1789, data da tomada da bastilha, o evento central da revolução francesa. É a data na qual os imigrantes, que são vítimas de preconceito e que gozam de menos respeito e de menos direitos como cidadãos naquele país, ergueram a taça e soltaram o grito de campeão.  

Liberté, Egalité e Mbappé!

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