“O Brasil tem um enorme passado pela frente”

A frase do grande Millôr Fernandes está mais atual do que nunca. Em tempos de golpe, prisão de ex-presidente líder nas pesquisas, intervenção militar no Rio de Janeiro e cooperação entre agentes públicos brasileiros e norte-americanos, o livro “Brasil - As histórias por trás da História recente do país”, de Geneton Moraes Neto, publicado pela editora Objetiva em 1997, é a confirmação, digamos, oficial, da sabedoria de Millôr



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A frase do grande Millôr Fernandes está mais atual do que nunca. Em tempos de golpe, prisão de ex-presidente líder nas pesquisas, intervenção militar no Rio de Janeiro e cooperação entre agentes públicos brasileiros e norte-americanos, o livro “Brasil - As histórias por trás da História recente do país”, de Geneton Moraes Neto, publicado pela editora Objetiva em 1997, é a confirmação, digamos, oficial, da sabedoria de Millôr.

Oficial porque o livro é totalmente fundamentado em relatórios outrora "secretos" ou "confidenciais" produzidos por órgãos dos governos da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, que só foram disponibilizados ao público - muitos deles com cortes e tarjas pretas - após décadas.  

A seguir, trechos cujas semelhanças com os últimos anos da vida nacional não são mera... vocês sabem:

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Dossiê “top secret” do governo norte-americano, produzido em junho de 1955, liberado “com cortes”.

Período referido: menos de um ano depois do suicídio de Getúlio Vargas.

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Deve-se continuar a prática de consultar o Brasil, sempre que possível, antes de tomarmos medidas que afetem os brasileiros ou para as quais necessitamos de seu apoio. As consultas devem ser executadas por oficiais do Departamento de Estado em relação à Embaixada brasileira, por representantes americanos em organizações internacionais e pela Embaixada americana no Rio, no caso do ministro das Relações Exteriores. (p. 191)

Fazer com que cidadãos americanos proeminentes visitem o Brasil periodicamente para aumentar o prestígio americano e influenciar a opinião pública; e convidar brasileiros de destaque a visitar os Estados Unidos. Tal programa não deve ser exagerado, mas longos intervalos entre uma e outra visita criam, no Brasil, a impressão de que os Estados Unidos estão desinteressados. (p. 192)

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Realizar uma vigorosa campanha para informar o público brasileiro sobre os perigos do comunismo e para criar um clima hostil; expor e tornar sem efeito atividades comunistas em todos os setores da sociedade; induzir e apoiar o governo brasileiro a tomar medidas efetivas para destruir o Partido* no Brasil. (p. 192)

*Partido Comunista Brasileiro, então clandestino.

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Com cuidado e discrição, e por meios informais, deve-se encorajar o establishment militar brasileiro a continuar a eliminar elementos comunistas das Forças Armadas e exercer influência sobre a atual e a futura administração para tomar medidas que impeçam a infiltração comunista e a subversão de organizações federais e estaduais. Revisar e ampliar o programa de treinamento, com a seleção de aproximadamente 40 a 60 líderes trabalhistas, como no começo de 1955, para vir aos Estados Unidos para treinamento. O programa deve ser mantido por um mínimo de 5 a 10 anos e, se possível, estendido. (p. 193)

Os Estados Unidos, sozinhos, não podem resolver o problema comunista no Brasil, mas com o uso criterioso de sua influência e assistência, devem fazer todo esforço para induzir os brasileiros a assumirem fortes e efetivas ações anticomunistas. (p. 196)

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Jango

Relatório “pessoal e confidencial”, enviado a Londres em 29 de dezembro de 1961.

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Washington começa a demonstrar algumas agudas reservas em relação ao Brasil de Goulart, agora que Tancredo Neves e seu gabinete demonstraram profunda incapacidade. (..) É o tipo de situação profundamente deprimente e frustrante que faz com que os pensamentos se voltem para o que eu chamaria de soluções “rápidas”; corre-se a tentação de imaginar, apesar das lições da experiência, se algum tipo de cirurgia política seria ou não uma boa solução. Mas quem é e onde está o cirurgião? (p. 109)

Relatório “restrito” da Embaixada britânica de 11 de abril de 1963.

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Compartilho com a opinião da Embaixada e do presidente Kennedy de que a América Latina é, sob muitos aspectos, uma região chave na Guerra-Fria - e o Brasil é um lugar-chave na América Latina. Se a América Latina, com seus vastos recursos, suas semi-desenvolvidas potencialidades, assim como suas reais tradições de culturas ocidental (muito mais enraizadas lá do que na Ásia ou na África), cair nas mãos dos comunistas, poderemos ficar num estado lamentável. (p. 101)

Politicamente, o Nordeste é centro de uma intensa atividade esquerdista. Se a evolução social e econômica não tomar o rumo desejado, o Nordeste pode ser uma das primeiras áreas a se tornar comunista. É uma grande homenagem a nós que os brasileiros estejam querendo confiar cargo tão vital a um economista britânico*. (p. 102)

*Governo brasileiro pediu assessor econômico “de primeira classe” para a Sudene (agência do governo para incentivar o desenvolvimento do Nordeste).

Juscelino Kubitschek

Relatório “confidencial” despachado pela Embaixada britânica para Londres, em 10 de junho de 1964.

Já o ex-presidente Kubitschek é uma figura muito popular no Brasil, a tal ponto que, entre os possíveis candidatos disponíveis imediatamente depois da revolução, ele provavelmente venceria as eleições presidenciais previstas para 1965. (..) Ao mesmo tempo, a cassação é uma demonstração de força e uma admissão de fraqueza. O regime se sente suficientemente forte para lidar com possíveis demonstrações a favor do Sr. Kubitschek, mas, na prática, admite que não terá apoio popular suficiente até 1965 para impedir o Sr. Kubitschek de reconquistar a presidência. (p. 48)

O Sr. Kubitschek pode tornar-se um mártir. Pode atrair uma quantidade ainda maior de seguidores, particularmente entre aqueles, na esquerda, que ficaram sem líderes depois da revolução. Em consequência, o atual regime, que precisa tomar medidas austeras (e, consequentemente, impopulares), para obter resultados no campo econômico, pode-se tornar ainda mais impopular. (p. 49)

Temos ou não um enorme passado pela frente?

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