O ódio à democracia

"A extrema direita alcançou a segunda colocação com um discurso de ódio e de defesa da liberação de armas. O ódio insuflado no processo do golpe de 2016 se converteu em plataforma política e a eleição virou palco de ataque aos direitos humanos", diz o líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta (RS); De acordo com  parlamentar, "não há normalidade no atual momento histórico do Brasil"; "Ninguém merece ser executado! Ninguém merece ser torturado! Ninguém merece ser estuprado! Ninguém merece ser agredido! Ninguém merece ser esfaqueado! Ninguém merece ser injustiçado!"

O ódio à democracia
O ódio à democracia (Foto: Dir.: Valter Campanato - ABR)


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O título deste artigo, coincidindo com o da obra homônima de Jacques Rancière, é relevante porque precisamos ir além da superficialidade e buscar compreender a complexidade das relações que exacerbaram a fúria antidemocrática no Brasil. Fenômeno que emergiu justamente após mais de uma década de expansão democrática no País, vale ressaltar.

Grande parte da população, pobre e trabalhadora, quer trazer de volta aquele Brasil com garantia de direitos, democratização do acesso à saúde, à educação, à moradia. Tanto que a luta pela liberdade do ex-presidente Lula se transformou em símbolo da esperança, da resistência à retirada de direitos e de denúncia à miséria que cresce. Não por acaso, a candidatura Lula atingiu quase 40% de intenções de voto.

A extrema direita, no entanto, alcançou a segunda colocação com um discurso de ódio e de defesa da liberação de armas. O ódio insuflado no processo do golpe de 2016 se converteu em plataforma política e a eleição virou palco de ataque aos direitos humanos.

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E deu no que deu! Depois de vários atentados contra a esquerda, veio o também o ataque ao candidato da ultradireita conhecido por defender a Ditadura e estimular o ódio.

Com esse episódio veio à tona a reflexão sobre o ódio à Democracia. Um debate fundamental que, até então, não mereceu atenção das instituições do Estado que, com uma postura omissa, dão ar de normalidade às recorrentes e graves violações de direitos humanos no País.

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No caminho contrário, temos reiterado que não há normalidade no atual momento histórico do Brasil. A violência tem uma origem e é gerada dentro de determinado contexto. A análise desse contexto nos permite compreender a construção do ódio como ameaça concreta à Democracia.

Dissemos que a Democracia não comporta o abuso de poder, a perseguição política, a prisão sem provas. Essa denúncia foi reconhecida pela ONU, mas rechaçada pelo nosso sistema judicial interno.

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Denunciamos os ditos “cidadãos de bem” que fecharam estradas para impedir um candidato oponente de entrar em cidades do interior do País. Reagimos ao grave fato que foi a formação de milícias armadas para atacar a caravana do ex-presidente Lula no Sul.

Por compreender a gravidade da fabricação do ódio na sociedade, jamais consideramos “piada” o fato de um grupo de jovens da classe média, universitários, usar relho para agredir adversários políticos. Entendemos que os aplausos odientos de autoridades públicas confirmavam a fascistização de parte da sociedade.

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Alertamos o poder público a cada ação arbitrária e afrontosa às liberdades democráticas. Sempre tivemos ciência de que a posição inerte das instituições do Estado diante dessas violências era um fato ainda mais grave. 

Em “O Futuro da Democracia”, Norberto Bobbio alerta para a atenção às regras do jogo com as quais se desenrola a luta política em determinado contexto, afirmando que aí está um princípio que distingue um sistema democrático dos não-democráticos. Usando uma metáfora do autor, podemos dizer que no Brasil passou-se a considerar lícito que um dos jogadores pudesse levar socos e pontapés.

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Deu no que deu! Uma milícia ruralista disparou tiros contra o ônibus que conduzia dois ex-presidentes, Lula e Dilma. Não se pode deixar de falar no crescimento de assassinatos no campo, do feminicídio e da desestruturação de medidas como o combate ao trabalho escravo.

O que expressaram sobre isso os diversos setores que, de forma genérica, dizem defender a Democracia? Nada! Aceitaram esses crimes, enquanto a Democracia se esvaía como um valor e, por conseguinte, como prática política.

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Por óbvio, a intolerância não atingiria apenas os partidos e os movimentos de esquerda. Não é difícil entender a relação entre a apologia ao estupro, à tortura, ao racismo, à homofobia e a crescente violência na sociedade.

Sem qualquer sombra de dúvida, o golpe de 2016 abriu as portas para o ódio à Democracia. Os saudosos da Ditadura saíram dos porões. Sobre a Comissão Memória e Verdade, o presidenciável da extrema-direita disse que “quem gosta de osso é cachorro”. Em várias sessões da Câmara, inclusive no seu voto pelo impeachment em 2016, o mesmo presidenciável elogiou um notório torturador e, portanto, criminoso. O desprezo aos direitos humanos se tornou um discurso banal e corriqueiro.

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Deu no que deu! A vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), foi vítima da fúria antidemocrática. A sua execução, além do descaso com a punição dos culpados, foi alvo de deboche para alimentar ainda mais o ódio. Não é exagero dizer que a omissão é cúmplice e faz o fascismo vitorioso.

Por tudo isso é preciso enfrentar quem trata a educação em direitos humanos com desprezo, como faz o movimento de ultradireita “escola sem partido”. É preciso questionar a quem interessa transformar a eleição em guerra. Um conflito aqui, outro ali, em vários pontos da América Latina, e perdemos conquistas democráticas. O que nos torna mais vulneráveis à dominação econômica, ao entreguismo e à perda da soberania.

É preciso interrogar as instituições políticas e jurídicas e a mídia sobre o descaso ao recente episódio em que o presidenciável da extrema-direita estimulou eleitores do Acre a metralhar petistas. O interlocutor do ódio à Democracia passou impune e, de dentro do hospital, enquanto se recupera de um atentado, volta a estimular a violência com sua marca de campanha: o gesto com as mãos simulando o uso de arma de fogo.

Temos aí os resultados dos episódios misóginos contra Dilma Rousseff, dos tiros contra a vigília Lula Livre e tantos outros. Esse é o contexto ao qual veio se somar o ataque ao presidenciável que ofende mulheres, quilombolas, gays e a todos que defendem os direitos humanos.

O que precisamos aprender com a história é que o ódio à Democracia tem como alvo toda sociedade. Não é aceitável que tal candidato faça um gesto de matar usando as mãos de uma criança, em total desrespeito ao nosso marco legal de defesa e proteção de crianças e adolescentes. A Constituição tem sido desrespeitada consecutivamente! Não podemos fingir que a violência não é estimulada e usada como instrumento de disputa nestas eleições.

Nesses tempos em que as pesquisas indicam a derrota da cúpula do golpe no Brasil, a extrema-direita parece melhor servir ao que Rancière define como a compulsão ao governo oligárquico: “compulsão a se livrar do povo e da política”.

Essa constatação dá mais nitidez ao cenário político do “apetite insaciável”. Nessa trajetória de enfrentamento ao golpe já desmentimos várias farsas antidemocráticas. A hora é de resistir ao retorno da extrema-direita e daqueles que a ela se unem para a solapar a Democracia.

Paradoxalmente, não há dúvidas de que o ódio à Democracia se expandiu à medida em que a própria Democracia se expandia pelo Brasil. O que temos é um contexto de vale tudo para o desmonte dos direitos trabalhistas e dos sistemas públicos de saúde, de assistência e de previdência social.

Sim, nós repudiamos veementemente a violência!

Ninguém merece ser executado! Ninguém merece ser torturado!

Ninguém merece ser estuprado! Ninguém merece ser agredido! Ninguém merece ser esfaqueado!

Ninguém merece ser injustiçado!

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