Comparações inadequadas ajudam a criar clima de instabilidade

Na situação atual, a desvalorização cambial até melhoraria a solvência do Estado, já que desde o governo Lula, nossa dívida externa líquida é negativa, o que significa que temos mais ativos do que dívidas em dólar

Na situação atual, a desvalorização cambial até melhoraria a solvência do Estado, já que desde o governo Lula, nossa dívida externa líquida é negativa, o que significa que temos mais ativos do que dívidas em dólar
Na situação atual, a desvalorização cambial até melhoraria a solvência do Estado, já que desde o governo Lula, nossa dívida externa líquida é negativa, o que significa que temos mais ativos do que dívidas em dólar (Foto: Paulo Teixeira)


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Comparações inadequadas a respeito do momento econômico têm se multiplicado nos jornais e nas análises apressadas de alguns políticos. Ao distorcer nossa História recente a fim de manipular a opinião pública, essas comparações prestam um desserviço para o país e contribuem para criar um ambiente de instabilidade.

Ao insistir na ideia enganosa de que a atual crise é a pior desde a criação do real, a meta é desconstruir os avanços conquistados nos últimos 13 anos. O receituário é antigo: confundir para convencer, convencer para dominar. "Toda guerra baseia-se no logro", escreveu Sun Tzu.

É preciso desmistificar as comparações inadequadas para que possamos debater com seriedade a conjuntura econômica e discutir as alternativas para a retomada do crescimento. A primeira desmistificação necessária talvez seja a da cotação do dólar.

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A desvalorização cambial recente tem levado alguns analistas a produzir comparações entre o valor atual do dólar, na casa dos 4 reais, e patamares registrados em períodos anteriores. A conclusão de muitos é a de que vivemos o momento mais fraco da moeda brasileira desde sua implementação, há 21 anos.

Na realidade, é preciso diferenciar valor nominal e valor real da taxa de câmbio. O primeiro é o índice de conversão que aparece nos jornais, enquanto o segundo é calculado levando-se em conta a inflação no Brasil e em outros países.

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Para o trabalhador e também para o empresário, seja ele industrial, produtor agrícola ou dono de uma sorveteria, a taxa de câmbio que interessa é a real, pois é ela que revela o poder de compra da moeda. O câmbio real está longe de repetir seu pior momento.

O patamar nominal de 3,99 reais atingido pelo dólar em 2002 representaria hoje uma taxa real de câmbio de aproximadamente 7 reais. Ou seja: se o câmbio real estivesse no mesmo patamar de 2002, seria preciso ter 7 reais no bolso para comprar o que se comprava com 1 dólar naquela época.

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Em segundo lugar, alguns analistas têm feito comparações indevidas do atual momento da economia com outras crises pelas quais passamos, em particular nos dois governos FHC. Diferentemente de outras crises externas brasileiras (como as de 1999 e 2002), a oscilação da taxa de câmbio observada nos últimos dias não decorre de uma fragilidade brasileira na sua capacidade de financiamento externo. Não se discute nossa solvência, ou seja, a capacidade do país de honrar suas dívidas em moeda estrangeira. O volume de reservas cambiais é hoje dez vezes maior do que o observado na crise de 2002.

Soma-se a isso o fato de que o país não perdeu capacidade de atrair investimentos estrangeiros diretos e em carteira. Apesar da turbulência recente, não se observa fuga representativa de capitais, como ocorreu nas crises dos anos 1990 e 2000, quando o Brasil apresentava grande fragilidade externa, com sua dívida pública dolarizada e poucos ativos em moeda estrangeira. Ao contrário, o fluxo cambial permaneceu comportado, com a entrada de US$ 900 milhões de dólares no país na semana encerrada em 18 de setembro. Note bem: entrada.

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Na situação atual, a desvalorização cambial até melhoraria a solvência do Estado, já que desde o governo Lula, nossa dívida externa líquida é negativa, o que significa que temos mais ativos do que dívidas em dólar. Em outras palavras, o Brasil é muito mais seguro e resistente a ataques especulativos do que no passado, afastando completamente a necessidade de recorrer ao FMI, como aconteceu três vezes nos governos FHC.

Artigo elaborado em co-autoria com Guilherme Mello, economista do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica da Unicamp

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