O Vaticano vai ao bordel?

Este mundo não é para amadores, dirá todo diplomata de carreira. Se não o era quando os colonizadores eram Estados Nacionais, imagine neste século XXI no qual o grande colonizador é um sistema: o sistema financeiro internacional, que abrevio denominando “banca”

Vaticano
Vaticano (Foto: Pedro Augusto Pinho)


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Este mundo não é para amadores, dirá todo diplomata de carreira. Se não o era quando os colonizadores eram Estados Nacionais, imagine neste século XXI no qual o grande colonizador é um sistema: o sistema financeiro internacional, que abrevio denominando “banca”.

A banca são a meia centena de famílias que dominam os fluxos financeiros mundiais; algo entre um terço e a metade do que circula, diariamente, entre bancos, financeiras, cambistas, brokers e similares. É um poder imenso. A transferência de um país para outro de valores controlados pela banca causará dano violento não apenas nas finanças, mas na economia, na política, derrubando governos e empobrecendo populações.

Para o bom desempenho de seu poder, a banca criou o mito da globalização e  o mito da libertação em questões transversais, ou seja, que são motivo de disputas políticas e culturais em todos os países, como as questões ecológicas, de gênero e igualdade racial.

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Assim, ela se insere e domina partidos e movimentos tão díspares como os socialistas – franceses, espanhóis, gregos – e os conservadores – ingleses, estadunidenses, alemães.

O formato atual da banca é do século XX, após a derrocada do colonialismo inglês. Constituiu diversas instituições, algumas de conhecimento público outras  ocultas dos olhos de quase todos. Também dominou a comunicação de massa, como se constata pelo controle das agências de notícia e de inúmeros jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão.

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Se o caro leitor dedica boa parcela de seu tempo diante da telinha plim-plim, certamente terá uma visão distorcida pelos “analistas”, “especialistas”, âncoras e quem mais surja para lhe doutrinar. Assim achará que a Venezuela, a Rússia, o Irã são países do “mal” e os condenará, sem saber que o fazendo estará prestando um serviço à banca, pois a destruição dos Estados Nacionais é um de seus objetivos.

Vamos refletir sobre caso concreto, que nem é para amadores nem para os desinformados globais: a presença de um representante do Vaticano na reunião anual do Grupo Bilderberg. Soaria desconcertante, de certo modo o é, mas coloca mais uma vez a dialética marxista como capaz de uma resposta.

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O Grupo Bilderberg, um braço conhecido da banca, foi criado, de acordo com o escritor e jornalista Thierry Meyssan, em 1954, pela CIA e pelo MI6. O pesquisador argentino Walter Graziano (Hitler ganó la guerra, 2004) adiciona que surgiu do estadunidense Council of Foreign Relations (CFR).

Em 2018, a reunião anual do Bilderbeg (BG) ocorreu entre 7 e 10 de junho, em Turin (Itália). Além dos convidados habituais – CIA, MI6, OTAN – dois chamaram a atenção: a primeira ministra da Sérvia (Ana Brnabic) e o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano.

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Sob a presidência de Henri de Castries, do Instituto Montaigne – um “think tank” francês que assumiu o poder com a eleição de Emmanuel Macron – compareceram cerca de 130 pessoas, dentre as quais a dona do Banco Santander (Ana Botín), os presidentes da Royal Dutch Shell, da Norsk Hydro, da Fiat Chrysler, o Governador do Banco da Inglaterra, a diretora geral da Unesco e figuras conhecidas como Henry Kissinger.

A banca tem estruturas para pensar, como a Rand Corporation, o Center for Strategic & International Studies (CSIS), da Georgetown University, e o Royal Institute of International Affairs (RIIA), outras para agir, como o Fórum Econômico Mundial, cujo atual presidente, Borge Brennan, esteve na reunião em Turin.

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Às reuniões do Bilderberg costumam comparecer pessoas destas estruturas (pensar e agir) como demonstra a composição de convidados, que inclui também muitos homens de imprensa (editores e donos).

Quem desejar se aprofundar nos organismos da banca, há o notável trabalho de 1996, de Adrián Salbuchi: “El cerebro del mundo. La cara oculta de la globalización”, Ediciones del Copista, Argentina, sendo a mais recente atualização do Editorial Solar, Colômbia, em 2004. Também o site Réseau Voltaire, de Thierry Meyssan, editado em alguns idiomas, trás informações sobre organizações da banca, como o Instituto Montaigne e o Grupo Bilderberg.

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Analisemos, inicialmente, a presença de Ana Brnabic.

As “Primaveras Árabes”, o desmonte da Ucrânia, entre outras façanhas da banca, foram, antes de ocorrerem, temas do Bilderberg. Estaria a Sérvia neste caminho?

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Andrey Afanasyev, do Katehon, informa no site Dinâmica Global que Brnabic é “funcionária de inúmeras ONGs americanas, apoiadora da legalização dos chamados “casamentos entre pessoas do mesmo sexo” e uma lésbica aberta”. É um caso da transversalidade onde a banca vem assumindo o controle para alterar legislações, substituir governantes e assumir o poder em Estados Nacionais.

Também foi-me surpreendente o número de convidados turcos, cinco (superior aos alemães, holandeses, franceses e idêntico aos donos da casa, italianos), entre eles o vice premier Mehmet Simsek, dois empresários, um acadêmico e um jornalista.

A área do Oriente Médio, Ásia Menor, tem sido inquietante para os Europeus, principalmente pela questão dos refugiados. E a banca teme o estilhaçar da União Europeia.

Temos então temas que fogem às tradicionais investidas econômicas e políticas da banca. Lembrar que na 65ª reunião, ano passado, a presença notável foi a China. Uma questão nitidamente econômico-financeira.

A transversalidade pode ser observada sob a ótica estritamente humanista, onde inseriremos adiante o representante do Vaticano, e sob a questão de emergências políticas.

Vamos exemplificar. O Papa Francisco deve ver, nas levas de africanos, árabes, palestinos, asiáticos que chegam a todo instante à Europa, a busca pela vida mais segura, mais decente. Daí seu apoio e suas palavras de recriminação às selvagerias do capital e das guerras, que são, na verdade, uma só.

Logo o Vaticano, pelo seu Sumo Pontífice, defende os direitos de ir e vir dos emigrantes.

Mas a banca os avalia de modo diferente. Eles irão quebrar uma homogeneização nacional: francesa, alemã, austríaca, qual seja, e enfraquecer o sentido patriótico, nacionalista. Abre-se, então, a oportunidade de eliminar as barreiras nacionais e facilitar o trânsito dos capitais; sem carimbos, sem restrições tributárias.

A brilhante escritora e perspicaz jornalista de Porto Alegre, Tania Faillace, vem escrevendo que a questão do gênero tem sido um instrumento da banca em dois sentidos: no de agitação política e no da redução populacional; outro vital projeto da banca, pois seus dois mais importantes inimigos são o crescimento demográfico e o nacionalismo.

Para entender bem o significado do crescimento demográfico, é só lembrar a concentração de renda, princípio básico da competitividade rentista, financeira.

Temos então a contradição que aponto no título; pode o Papa que tem se notabilizado pela preocupação humana, com os pobres, os oprimidos, aceitar o convívio com o mais cruel, bélico e exterminador capitalismo financeiro?

Agora, o televiciado global terá uma síntese dialética a resolver.

Não cabe o simplismo da corrupção. Isto só serve para os políticos, não é mesmo? Também não se aplicam as agressões bolsonarianas, ou o Papa seria um arco íris disfarçado de banqueiro?

Falta a consciência cidadã. A capacidade de resolver contradições da existência humana no regime capitalista, o único que sobreviveu no século XXI. E não é tarefa para um artigo nem para avô, aposentado.

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