O último ato: cassação do registro do PT

O circo montado no Congresso em 2016 não teve por objetivo apenas o afastamento da presidente Dilma Roussef, mas a volta definitiva da agenda liberal, derrotada nas urnas em 2002, 2006, 2010 e 2014; tal agenda privilegia exclusivamente interesses do mercado



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Em 1954 o Presidente Getúlio Vargas foi levado ao suicido em razão de uma conspiração civil-militar, semelhante àquela que levou o país à ditadura a partir de 1964 e afastou definitivamente João Goulart.

Penso haver enormes semelhanças entre esses eventos.

Em 1954 e em 1964 ocorreu um rápido processo de radicalização e polarização, gerando enorme tensão social e institucional.

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Em 1954 o heroico suicídio de Getúlio salvou as instituições, mas em 1964 a ausência de heróis, com os agravantes decorrentes da guerra fria, as instituições naufragaram, com apoio de boa parte da mídia e da classe média.

Tanto em 1954, quanto em 1964 havia pressão inflacionária e os planos econômicos, de natureza keynesiana, que exigiam investimentos estatais, aumento dos salários dos trabalhadores, etc., não decolavam. A política desenvolvimentista de Vargas e Goulart colidia com as políticas de austeridade que interessava aos credores internacionais, que defendiam seus interesses, o faziam diretamente ou através da imprensa e do FMI.

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Além das questões econômicas o monopólio estatal do petróleo, através da PETROBRÁS, sempre desagradou os interesses plutocráticos internacionais, interesses que – presumivelmente – financiavam a imprensa para amplificar as tensões e instabilidade.

Some-se a tudo isso o fato de que, nas crises dos governos Vargas e Goulart, sobravam acusações de corrupção, acusações nunca comprovadas.

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Os fatos que tiveram início após a derrota de Aécio Neves em 2014 e em 2016 culminaram com o afastamento da presidente da república (chamado insistentemente de impeachment, assim como o golpe de 64 foi chamado de "revolução" pelos conspiradores e traidores da democracia) tem os mesmos elementos dos de 54 e 64: polarização ideológica, crise econômica interna, interesses econômicos internacionais, acusação de corrupção, campanha difamatória pela imprensa, etc., etc.

Não me filio àqueles que tem certezas, tenho dúvidas, muitas dúvidas.

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Mas os elementos essenciais e que diferenciam 2016 de 1954 e 1964, aqui em comento, estão no fato de que hoje não se vê tanques ou armas, a ruptura institucional foi sustentada e legitimada por setores do judiciário e do congresso, que usaram pretextos jurídicos para legitimar e encobrir o que Sergio Machado e Romero Jucá escancararam.

O circo montado no Congresso em 2016 não teve por objetivo apenas o afastamento da presidente Dilma Roussef, mas a volta definitiva da agenda liberal, derrotada nas urnas em 2002, 2006, 2010 e 2014; tal agenda privilegia exclusivamente interesses do mercado.

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Para isso o sucesso do intendo exigiu-se a destruição das grandes empresas nacionais, a criminalização da Política e, seletivamente, dos políticos de esquerda e centro-esquerda, um tribunal regional declarou Estado de exceção, e operou-se o afastamento do candidato do centro-esquerda das eleições de 2018. O último ato será a cassação do registro do maior partido de centro-esquerda do país.

Esse é o roteiro.

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Temos uma elite autoritária, que construiu um Estado autoritário, orientado por um Direito autoritário, "o direito da Casagrande", como escreveu Roberto Amaral, um Direito que sempre tratou o país e o povo como senzala, uma elite que vê como ideal uma democracia sem povo, uma elite que não pensa o país, uma elite alienada e sem compromisso com um projeto nacional.

Por essas razões mantenho a minha opinião: Lula errou ao não orientar um coligação que tivesse Ciro Gomes como candidato a presidente e Fernando Haddad como vice-presidente.

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Defender #LulaLivre, denunciar o Golpe de 2016 e a cooptação de setores do Poder Judiciário pela ideologia do mercado exigiria vencer as eleições, ampliando desde o 1º Turno a coligação com forças de esquerda, centro-esquerda e até mesmo com patriotas e democratas de centro-direita.

É como penso.

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