Paulo Freire: escola como espaço livre para a construção da cidadania

A ideia da "escola sem partido" é ideológica e conservadora, pois procura acomodar os alunos ao mundo existente, a educação na qual acredito defende a inquietação, a pluralidade. Se apresenta como iniciativa de estudantes e pais, que estariam preocupados com o grau de contaminação político-ideológica das escolas brasileiras, mas é apenas exemplo da inflexão conservadora que vivemos

Paulo Freire: escola como espaço livre para a construção da cidadania
Paulo Freire: escola como espaço livre para a construção da cidadania


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O mais célebre educador brasileiro, autor da "Pedagogia do Oprimido", que defendia que o objetivo da escola é ensinar o aluno a "ler o mundo" para poder transformá-lo, tem sido citado de forma injusta e negativa pela turma da marota ideia da tal "Escola Sem partido".

Paulo Freire, com atuação e reconhecimento internacionais, é conhecido principalmente pelo método de alfabetização de adultos que leva seu nome; ele desenvolveu um pensamento pedagógico assumidamente político.

Para ele, o objetivo maior da educação é conscientizar o aluno. Levá-las a entender sua situação e agir em favor da própria libertação.

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Quem o critica se opõe aos direitos à conscientização e à liberdade.

Quando Paulo Freire propõe uma prática de sala de aula que desenvolva a criticidade dos alunos, ele indica que a escola é instrumento de interação social transcendente.

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A ideia da "escola sem partido" é ideológica e conservadora, pois procura acomodar os alunos ao mundo existente, a educação na qual acredito defende a inquietação, a pluralidade. Se apresenta como iniciativa de estudantes e pais, que estariam preocupados com o grau de contaminação político-ideológica das escolas brasileiras, mas é apenas exemplo da inflexão conservadora que vivemos, é um movimento político que busca afirmar sua própria ideologia e o faz de forma dissimulada. Tenta apresentar-se ideologicamente asséptico, mas não é.

O que pretende é implantar uma espécie de macarthismo em nossas escolas, odiosa censura, através de uma vigilância policialesca a conteúdos apresentados pelos professores.

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Sob o pretexto de defender princípios tais como "neutralidade política, ideológica e religiosa do Estado", "pluralismo de ideias no ambiente acadêmico", "liberdade de consciência e de crença" coloca, na prática, o professor sob constante vigilância, principalmente para evitar que afronte sua ideologia.

A Constituição Federal no seu artigo 205 a CF traz como objetivo primeiro da educação o pleno desenvolvimento das pessoas e a sua capacitação para o exercício da cidadania, em segundo lugar o propósito do processo educacional é a qualificação para o trabalho.

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Esse é o comando constitucional, ele orienta a atuação estatal dentro de uma visão e ação plural da sociedade.

Noutras palavras, a escola é espaço livre para a construção da cidadania, espaço onde se colocam livremente as ideias num processo dialético e mágico, um processo formativo da cidadania, uma cidadania fundada no respeito e pluralidade; esse é o país que nossos constituintes indicaram, um caminho que não se pode alterar com leis ordinárias oportunistas.

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A "Escola sem Partido" mente descaradamente quando propõe uma "neutralidade ideológica". Temos que defender a pluralidade das ideias, a rica diversidade como processo necessário de construção cotidiana da cidadania.

A "Escola sem Partido" pretende impor sua ideologia, e diuturnamente desqualifica ideias que possam desafiar suas certezas e exclui formas colidentes com o seu pensamento Essa gente obscurece a realidade social de modo a favorecer sua própria ideologia.

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Por isso a ideologia que se apresenta sob o nome de "escola sem partido" é reflexo do inconformismo dos derrotados em 1988, e sua narrativa flerta com o mau-caratismo tão próprio daqueles que combatem a vitória das diversas lutas emancipatórias contempladas em nossa constituição.

Nesses tempos sombrios uma de nossas tarefas é a defesa de uma sociedade aberta a múltiplas e diferentes visões de mundo; manter a escola como espaço estratégico para a emancipação política, convivência com a diversidade, entendimento global e a construção de uma cultura de paz e respeito.

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Ademais, como muito bem alertou o MPF no sentido de que a 'Escola Sem Partido' é inconstitucional, pois impede o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, nega a liberdade de cátedra e a possibilidade ampla de aprendizagem e contraria o princípio da laicidade do Estado.

E, apesar da necessária da laicidade do Estado, concluo citando o Papa Francisco que num discurso aos estudantes e professores das Escolas Italianas, em 2014 afirmou que "Os professores são os primeiros que devem permanecer abertos à realidade com a mente sempre aberta para aprender. Pois, se um professor não está aberto para aprender, não é um bom professor, e nem sequer é interessante; (...) que as instituições acadêmicas católicas não se isolem do mundo, mas saibam entrar intrepidamente no areópago das culturas contemporâneas e estabelecer um diálogo, conscientes do dom que podem oferecer a todos". E conclui dizendo que: "Amo a escola porque é sinônimo de abertura à realidade. Pelo menos assim deveria ser! [...] ir à escola significa abrir a mente e o coração à realidade, na riqueza dos seus aspectos, das suas dimensões".

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