Carta aos resistentes

Somos corpos que se fazem "corpolíticos" ao dizermos não às normas, ao não nos acomodarmos, submetidos passivamente àquilo que popularmente se entende por "regra do jogo"

03/10/2015 - São Paulo - SP - Manifestantes da CUT realizaram um protesto “em defesa da Petrobras e da democracia” na manhã deste sábado (3) na Avenida Paulista. Foto: Paulo Pinto/ Agência PT
03/10/2015 - São Paulo - SP - Manifestantes da CUT realizaram um protesto “em defesa da Petrobras e da democracia” na manhã deste sábado (3) na Avenida Paulista. Foto: Paulo Pinto/ Agência PT (Foto: Ramon Brandão)


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Dirijo-me aos que ainda contestam.

Diante das capturas, das vidas negadas, das opressões, das colonizações do inconsciente, ainda fazemos da existência um ato de resistência.

Somos corpos que se fazem "corpolíticos" ao dizermos não às normas, ao não nos acomodarmos, submetidos passivamente àquilo que popularmente se entende por "regra do jogo". Não toleramos o intolerável, por mais que corramos o risco, ao enunciar tais predicados, de motivar uma reprodução imagética do revolucionário de rua, das fábricas. Não, o que pretendo lhes dizer vai além.

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A revolução da qual falo opera num plano micropolítico do desejo e da invenção de si, transmutando valores. Afirma a si como intensidade, compreendendo a vida como obra de arte a ser constituída. É obra povoada por devires minoritários. Devires que se apresentam como afirmação de uma revolução ético-política.

Sabemos o quão difícil é produzir ou simplesmente inventar "outramentos" na contemporaneidade. A atualidade agoniza, e a manifestação de seu declínio emerge violentamente na forma de feminicídio, de racismo, etc. O medo e o sentimento de instabilidade ocupam, sem grandes esforços, o que antes havia sido o lugar dos afetos.

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No entanto, há os que vivem - ainda e todos os dias - na luta contra os agenciamentos de poder e contra a cristalização das formas de atuação no contemporâneo. Indivíduos que se infiltram nos discursos e nas práticas sociais, produzindo assujeitamentos identitários ou, simplesmente, novas maneiras de agir no mundo.

Resistir é fissurar o rosto, a forma, a norma, a moral, as práticas comuns, os rituais, as leis; é ocupar os cantos, as vielas, os bueiros, os telhados, os canis, as lareiras, os porões, enfim, o espaços menores, secundários. É abrir o corpo às intensidades intempestivas das forças menores, da ética menor, construindo processos de singularização que respeitem o diferente e a diferença em nós e nos outros.

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Resistir àquilo e àqueles que nos aprisionam em silêncio numa vida "nadificada" e que nos querem distantes da capacidade que temos para criar o novo.

Nossa resistência não habita apenas o campo teórico. Antes, produz interferências práticas, produz des-construções contínuas. Não há como derrubar os muros de concreto do poder se estamos apaixonados pelo poder que nos constitui. Se assim o for, nos tornaremos a mera extensão daquele.

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Destruir o antigo e criar o novo andam juntos nesses processos de produção de novas superfícies e de novos territórios existenciais. Somos aqueles que, em meio ao esgotamento caótico, seguem sonhando, seguem resistindo e, por isso mesmo, atuando no mundo. Somos aqueles que, através de novos possíveis, criam novas possibilidades de vida.

 

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