A farsa do Queiroz e o jornalismo farsante do SBT

Se os 1,2 milhão que circularam na conta do Queiroz são de compra e venda de carros, por que eram depositados por assessores da Alerj e retirados do banco sempre em quantias menores do que 5 mil reais?



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Por Renato Rovai, em seu blog na Revista Fórum - Entre os jornalistas, o SBT já vem sendo chamado de Sistema Bolsonaro de Televisão, tamanha a desfaçatez com a qual a emissora de Silvio Santos aderiu ao novo governo. Entre outras bizarrices, resgatou o programa Semana com o Presidente e o slogan Brasil, Ame-o ou Deixe-o. Ambos, produtos da ditadura militar.

Mas não foi só isso que o SBT fez para se tornar mais amigo do novo rei do que outros grupos de comunicação. Também foi se livrando de jornalistas mais sérios e contratando aqueles que fazem qualquer coisa para "subir na vida".

A entrevista de ontem com Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, foi o encontro desses projetos. O dos interesses do dono do veículo, do governo que vai assumir e de uma profissional que tem feito qualquer coisa para aparecer, mesmo que seja jogar todos os fundamentos básicos do jornalismo no lixo.

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Tão bizarras quanto as respostas de Queiroz, foram as perguntas e as não-perguntas da repórter Débora Bergamasco.

A quem interessar possa, a moça foi a autora da capa contra Dilma Rousseff na Isto É em que Dilma é apresentada como tendo surtos de descontrole e quebrando móveis no Planalto. Uma capa absurdamente machista e mais do que isso, feita só com base no "ouvi dizer".

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Bergamasco também foi a autora da capa da delação de Delcídio, que escondia tudo o que havia contra Aécio Neves no depoimento. E que, segundo colegas de redação da IstoÉ com os quais o blogue conversou à época, foi obtido via Aécio, que, inclusive, estava com a revista em mãos numa reunião com líderes do Congresso antes mesmo que ela houvesse chegado às bancas.

Não é incomum este tipo de trajetória de jornalistas que fazem qualquer coisa para ascender profissionalmente. Bergamasco é só mais uma entre tantos.

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Ontem a entrevista já começa num jogo de cena sobre a doença do entrevistado. Ele fala que está defecando sangue e a jornalista pede permissão a ele para voltar ao assunto mais tarde. Ah, tá certo, quer dizer que alguém que está fugindo de depoimentos e é acusado de participar de um esquema de corrupção envolvendo o futuro presidente da República te insinua estar com câncer, você pede autorização para tratar do assunto com ele depois? É mais fácil acreditar nas respostas do Queiroz.

A entrevista segue com perguntas dóceis e sem qualquer contestação. O entrevistado diz que comprava carros de segurados para vender e que era bom de negócios. A jornalista não pergunta quantos carros ele comprou e vendeu e se tem esses registros, afinal carros são adquiridos com documentos de compra e venda. E não com pedaços de papel no bar da esquina. Principalmente de seguradoras.

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A jornalista pergunta o nome do médico que atendeu o entrevistado quando ficou internado, ele diz se lembrar só do primeiro nome. Ela não insiste em saber mais nada. Nem perguntar quem o apresentou ou quais as referências do tal doutor. Ele fala que ficou num hospital. Ela pergunta qual, mas quase como um deslize. Ele silencia e diz que depois revelará. Ela fala tá e segue o jogo.

Outra pergunta inocente, que qualquer cidadão que não tivesse feito jornalismo faria, se os 1,2 milhão que circularam na conta dele são de compra e venda de carros, por que eram depositados por assessores da ALERJ e retirados do banco sempre em quantias menores do que 5 mil reais. Às vezes em três agências diferentes no mesmo dia.

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E mais básico ainda, por que eram depositados em dias próximos aos pagamentos desses servidores.

Em relação à família do Queiroz, a entrevistadora deixou barato a história d a filha que é personal treinner, mas que trabalhava na "área de mídia" do gabinete, segundo o entrevistado. Nem um "como assim" escapou da boca de Bergamasco.

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– Como assim uma pessoa que é formada em educação física é a responsável pela área de mídia do gabinete de um deputado?

Talvez até num descuido essa pergunta escaparia, tamanha a desfaçatez da desculpa.

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Evidente que o que se deu ontem com Fabricio Queiroz não foi uma entrevista. Foi um encontro negociado entre o Sistema Bolsonaro de Televisão e o futuro presidente da República para tentar colocar panos quentes no assunto que está queimando a imagem do recém eleito. E Silvio Santos escolheu a nova imagem do jornalismo da casa para fazer o serviço ao estilo que ela fazia na Isto É.

Mas a despeito de tudo isso, a entrevista é reveladora de como a situação de Bolsonaro e sua tropa tende a se complicar se essa investigação avançar. Queiroz é um limítrofe. Uma pessoa que não consegue articular três frases sem cometer erros de português e de raciocínio. Certamente tem outras habilidades ou não ganharia 23 mil por mês e além disso empregaria toda a família em diferentes gabinetes dos Bolsonaros. Mas essas habilidades não resistem a um interrogatório bem feito e a uma apuração dos fatos com documentos.

As desculpas que ele escolheu são tão simplórias que qualquer ida a um cartório local basta para desmontá-las.

O fato é que a cada dia que passa a saga de Bolsonaro fica mais parecida com a de Fernando Collor. Até a camiseta usada por sua esposa Michelle provocando Lula e seus eleitores remetem a isso. Collor era mestre em usar camisetas. Uma que carregava a frase "o tempo é o senhor da razão", nunca me saiu da memória. O tempo é o senhor da razão e essa suposta entrevista será tratada como o que foi quando a verdade vier à tona. Como uma farsa.

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