Cresce a ameaça de intervenção dos generais de pijama

"A revelação do papel do presidente Geisel na ditadura talvez tenha um lado positivo no atual panorama político do Brasil: poderá levar os que saíram às ruas para pedir uma intervenção militar, que constituem 53,2% da população segundo pesquisas, a avaliarem melhor a sua aspiração, que revela total desconhecimento dos anos de chumbo", avalia o jornalista e colunista do 247 Ribamar Fonseca; "E, também, pelo menos provocar uma reflexão nos partidários de Jair Bolsonaro, que defende o uso da violência para solucionar os problemas do país. Afinal, não é matando que se resolve alguma coisa, como certamente pensam os que atentaram contra a caravana de Lula e o acampamento dos seus defensores e que até hoje continuam impunes"

Brasília - Deputado Jair Bolsonaro discursa durante sessão para eleição do presidente da Câmara dos Deputados e demais membros da mesa diretora (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Brasília - Deputado Jair Bolsonaro discursa durante sessão para eleição do presidente da Câmara dos Deputados e demais membros da mesa diretora (Marcelo Camargo/Agência Brasil) (Foto: Ribamar Fonseca)


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O memorando da CIA, revelando que o presidente Geisel autorizava pessoalmente a execução dos "subversivos" durante o seu governo na ditadura militar, parece que voltou a animar os generais de pijama que, volta e meia, ameaçam tomar o poder no pais com uma nova intervenção. Agora foi a vez do general Girão Monteiro que, em postagem nas redes sociais, defendeu o uso da espada para "recolocar o Brasil no rumo certo, à direita". Depois de afirmar que "assim o fizemos no passado, fazemos no presente e o faremos no futuro", o general disse que "nesse momento difícil de nossa história esse uso volta a ser necessário". A julgar pelas repetidas manifestações de generais de pijama, defendendo uma intervenção das Forças Armadas, aparentemente já existe, pelo menos entre os militares da reserva, um entendimento nesse sentido. Como o ministro da Defesa não puniu até hoje nenhum desses oficiais-generais e nem desautorizou semelhantes manifestações, tudo leva a crer que a idéia de intervenção cresce no seio da tropa, até porque o atual presidente da República, mesmo ilegítimo, silencia.

Como o chefe do Executivo não se manifesta e o Supremo amedrontado costuma apoiar todos os golpes, a exemplo da mídia, só resta ao Congresso Nacional assumir posição diante dessa ameaça que a cada dia se torna mais explícita. Os parlamentares precisam pelo menos demonstrar que estão atentos na defesa da democracia, porque os generais de pijama já perceberam que basta um pequeno sopro, por exemplo, para deixar os ministros da Corte Suprema se borrando de medo. Por isso, com uma pequena nota de pouco mais de três linhas nas redes sociais, passaram a intimidar o STF todas as vezes em que se reuniu para julgar ações de interesse de Lula. Resultado: todos os recursos do ex-presidente foram negados. E como existe uma certa afinidade de pensamento com os tucanos, já que todos estão do mesmo lado, à direita, eles não mostram a mesma preocupação com as falcatruas do pessoal do PSDB, que conta, também, com a cobertura do Judiciário, cujo partidarismo é percebido de qualquer parte do planeta.

Um exemplo da vergonhosa partidarização da Suprema Corte foi a libertação de Paulo Preto, apontado como operador do PSDB, acusado de desviar mais de R$ 100 milhões de obras do governo tucano de São Paulo, dinheiro devidamente depositado em bancos suíços. Na verdade, a libertação do ex-diretor da Dersa já era esperada, porque seu depoimento poderia comprometer os ex-governadores José Serra e Geraldo Alkmin, além do atual ministro do Exterior, Aloysio Nunes, porque todos seriam os principais beneficiários das propinas. Diante do temor no ninho tucano, de que ele pudesse abrir o bico após mais algum tempo na prisão – o que sepultaria a candidatura de Alkmin à Presidência da República – o ministro Gilmar Mendes, que não esconde suas penas tucanas, não apenas mandou soltá-lo como, também, proibiu o seu depoimento à Policia Federal, que estava previsto para os próximos dias. Uma vergonha e uma afronta à inteligência dos brasileiros.

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A divulgação do memorando da CIA, que comprova mais uma vez a participação dos Estados Unidos nos golpes no Brasil, deixou muita gente estarrecida. Provavelmente, porém, muitos ainda não se deram conta de que o golpe de 2016 também fez e faz vítimas, não torturadas em paus-de-arara ou abatidas a tiros, como em 64, mas assassinadas moralmente e torturadas com prisões preventivas prolongadas. E quem faz o papel antes desempenhado pelo presidente Geisel e seu sucessor, o general Figueiredo, é o juiz Sergio Moro e o Supremo Tribunal Federal, que confirma as decisões políticas das instâncias inferiores e garante a sua execução imediata, dando aparência de legalidade às ações abusivas. O STF vem atuando como partido político, o PSTF, quando julga questões relacionadas a Lula ou petistas. Existe melhor prova do que esta: Lula preso, condenado por ter sido supostamente beneficiado com obras num apartamento que não é dele, e Paulo Preto, acusado de operador do PSDB, em liberdade mesmo com mais de R$ 100 milhões em bancos suíços. Alguém em seu juízo perfeito pode considerar isso justiça? É a ditadura da toga.

Lula, na verdade, desde o impeachment da presidenta Dilma Rousseff tornou-se o principal alvo do consórcio formado pelo Judiciário, pela mídia, pela elite e por todos os que não aceitam dividir os privilégios com os pobres, os negros e as minorias. A determinação para eliminá-lo da vida pública, atendendo também ao desejo do Tio Sam, observada rigorosamente por todas as instâncias do Judiciário, chegou a tamanho absurdo que atinge até quem possa representa-lo. O ministro Og Fernandes, do Tribunal Superior Eleitoral, por exemplo, negou o pedido para a participação de representantes de Lula nos debates. Não demora muito e vão proibir, também, a divulgação de faixas e cartazes com a sua fotografia. A juíza Carolina Lebbos, que reina absoluta na República de Curitiba com o juiz Sergio Moro, proíbe todas as visitas ao ex-presidente, inclusive de representantes da Câmara dos Deputados, ignorando, como já se tornou hábito em todas as instâncias do Judiciário, dispositivo constitucional. Cobrado pelo presidente da Câmara, com pedido de providências, o ministro Edson Fachin, do STF, se limitou a pedir explicações à magistrada. E tudo continua como dantes.

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A revelação do papel do presidente Geisel na ditadura talvez tenha um lado positivo no atual panorama político do Brasil: poderá levar os que saíram às ruas para pedir uma intervenção militar, que constituem 53,2% da população segundo pesquisas, a avaliarem melhor a sua aspiração, que revela total desconhecimento dos anos de chumbo. E, também, pelo menos provocar uma reflexão nos partidários de Jair Bolsonaro, que defende o uso da violência para solucionar os problemas do país. Afinal, não é matando que se resolve alguma coisa, como certamente pensam os que atentaram contra a caravana de Lula e o acampamento dos seus defensores e que até hoje continuam impunes. Se Lula fosse tucano os agressores já teriam sido identificados e presos. A Justiça do país, porém, tem bico grande...

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