Perigo à vista: violência pode explodir no segundo turno

Jornalista Ribamar Fonseca afirma que "a violência, que é a marca do ex-capitão sempre fotografado simulando armas com as mãos, pode explodir neste segundo turno, com mais vítimas fatais, se ele não moderar seu discurso" e avalia que, "infelizmente, porém, parece que ele não está preocupado com isso, pois ao ser procurado por Fernando Haddad com uma proposta para um pacto de não agressão, numa campanha civilizada, reagiu agressivamente, inclusive chamando o candidato petista de 'canalha'"

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As eleições de domingo provocaram uma devastação no panorama político nacional, produzindo uma renovação de cerca de 50% na Câmara, tirando de cena influentes políticos tradicionais e trazendo para o palco algumas figuras folclóricas, que integrarão o novo Congresso. O partido de Bolsonaro, o PSL, foi a grande surpresa, colocando candidatos a governador no segundo turno e elegendo senadores e a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados, menor apenas que a do PT, tornando-se uma nova força política no país. Com o resultado do pleito evidenciou-se o prestígio do ex-capitão, um fenômeno que arrastou para o cenário político nomes praticamente desconhecidos. A força de Bolsonaro revelou-se principalmente no Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte, mas conseguiu fazer também algum estrago no Nordeste, reduto tradicional do petismo. Na verdade ele foi um tsunami. Muitos brasileiros humildes entraram na "onda Bolsonaro" como bosta de marinheiro, sem saber para onde a onda os conduzirá, enquanto outros, mais ricos e conscientes, entraram levados pelo ódio ao PT induzido pela Globo. Existe, também, os oportunistas, que surfaram na onda buscando vantagens, aproveitando a força eleitoral do ex-capitão.

Mas a que se atribui o fenômeno eleitoral Jair Bolsonaro? Em primeiro lugar ao consórcio Lava-Jato-Globo-STF, que tirou de cena o ex-presidente Lula, o único que poderia vencê-lo no primeiro turno, rotulou o PT de corrupto, criminalizou a política e criou o clima ideal para o surgimento de um salvador da pátria "honesto" com raízes militares. Em segundo lugar, ao desencanto e a revolta do povo com os políticos, que o juiz Sergio Moro e a Globo transformaram em ladrões do dinheiro público. Em terceiro lugar à intolerância e ódio disseminados na população pela mídia e redes sociais, criando um terreno propício à pregação de violência do candidato do PSL, que atendeu às aspirações dos revoltados eleitores, sobretudo com relação à insegurança no país. A melhor prova disso foram os aplausos entusiásticos que ele recebeu todas as vezes em que prometeu matar bandidos e, inclusive, os "petralhas". Como consequência, seus eleitores se tornaram violentos e muito perigosos, chegando a agredir uma jornalista em Pernambuco, um jovem que vestia camisa vermelha em Teresina, a irmã de Marielle Franco no Rio e até a assassinar, a facadas, na Bahia, um mestre de capoeira que revelou ter votado em Haddad.

A violência, que é a marca do ex-capitão sempre fotografado simulando armas com as mãos, pode explodir neste segundo turno, com mais vítimas fatais, se ele não moderar seu discurso. Infelizmente, porém, parece que ele não está preocupado com isso, pois ao ser procurado por Fernando Haddad com uma proposta para um pacto de não agressão, numa campanha civilizada, reagiu agressivamente, inclusive chamando o candidato petista de "canalha". Bolsonaro, na verdade, já deu sobejas demonstrações de autoritarismo, falta de equilíbrio e de bom senso, pouco se importando com as consequências desastrosas da sua fala entre seus eleitores, que parecem satisfeitos com o seu jeito bruto de resolver os problemas. Embora ele seja deputado há mais de 20 anos e não tenha um só projeto de interesse do país aprovado pela Câmara, os seus eleitores o encaram como o "novo", o "diferente", aquele que vai solucionar o problema da segurança matando bandidos. E, lamentavelmente, não atentam para o fascismo que ele representa e muito menos ao risco para a democracia.

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Embora Bolsonaro tenha garantido a sua presença no segundo turno em primeiro lugar, com a maior votação, não se pode prognosticar ainda a sua vitória. O segundo turno é sempre uma nova eleição, quando haverá um confronto entre apenas dois candidatos, o que permitirá ao eleitorado melhores condições de avaliação. Deve-se levar em conta, também, as alianças com os candidatos perdedores, que podem transferir seus votos para quem melhor atenda às suas aspirações. Os dois candidatos que disputarão o segundo turno para a Presidência, Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, precisarão, também, atrair os votos dos que não compareceram às urnas no domingo, mais de três milhões, e dos que votaram em branco ou anularam seus votos. Não será tarefa muito fácil, porque tanto os que se abstiveram como os que votaram em branco ou nulo tomaram essa atitude certamente porque não simpatizaram com nenhum dos candidatos. De qualquer modo, esta fase da eleição será, como disse o próprio Bolsonaro, "uma guerra", onde os dois candidatos ficarão mais expostos, facilitando melhor visualização das suas virtudes e defeitos. Espera-se, contudo, que seja uma "guerra" pacífica, civilizada, sem as agressões e as fake news que caracterizaram o primeiro turno.

Nesta segunda-feira, um dia após o primeiro turno, os dois candidatos foram entrevistados pela Globo. Fernando Haddad, como sempre, se mostrou sereno, seguro em suas propostas e respostas às perguntas. E Jair Bolsonaro, diferente do pronunciamento que fez no domingo à noite, se mostrou mais "bonzinho", respeitador da Constituição. Embora, porém, tenha recebido expressiva votação, sendo portanto vitorioso, ele pareceu frustrado por não ter vencido o pleito no primeiro turno e no domingo voltou a levantar suspeitas sobre fraude nas urnas eletrônicas, o que causou apreensão entre alguns observadores. O raciocínio é o seguinte: se mesmo vencendo ele levanta suspeitas de fraude, o que não fará se perder no segundo turno? Ele está convencido de que vencerá as eleições e até já declarou antes que não aceita uma derrota, o que soa como uma ameaça de golpe. Diante da sua atração por ditaduras, da sua fascinação por ditadores e dos seus estreitos laços com os militares, seus antigos companheiros de caserna, todos precisam estar de olhos bem abertos para evitar surpresas desagradáveis. Afinal, o que está em jogo nestas eleições, mais do que escolher o novo Presidente, é a sobrevivência da própria democracia.

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