Quantas vidas precisam ainda ser ceifadas?

Três anos após a tragédia de Mariana, que matou 19 pessoas e deixou centenas de desabrigados, o desastre se repete. A catástrofe desta vez "As multas bilionárias aplicadas desta vez não resolvem nada, até porque não ressuscitarão os mortos. E se não forem tomadas medidas rigorosas talvez tenhamos de assistir mais tragédias iguais a essas, porque outras barragens já apresentam riscos", afirma o jornalista Ribamar Fonseca sobre a tragédia-crime da Vale em Brumadinho; "O Parlamento, se representar efetivamente o povo, deve aprovar uma lei que promova a reestatização da Vale e proíba toda e qualquer privatização, além da entrega da Embraer e da base espacial de Alcântara", diz ele

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Três anos após a tragédia de Mariana, que matou 19 pessoas e deixou centenas de desabrigados, o desastre se repete. A catástrofe desta vez foi em Brumadinho, também interior de Minas, onde o rompimento da barragem de rejeitos de ferro do Feijão, da Vale, já matou mais de 60 pessoas e deixou mais de 200 desaparecidos. Foi o pior desastre ambiental do país, dias depois do presidente Bolsonaro afirmar, em Davos, que o Brasil "é o país que mais preserva o meio ambiente". E quem são os culpados? Os mesmos da tragédia de Mariana, ou seja, não apenas os donos da Vale mas, também, todos os órgãos públicos responsáveis pela licença e fiscalização das atividades da empresa. Após três anos da primeira tragédia praticamente nada mudou, não foram aperfeiçoadas as medidas de segurança necessárias, ninguém foi punido e as vítimas continuam sofrendo as suas consequências, sem as suas casas e sem suas roças, engolidas pela lama. As multas bilionárias aplicadas desta vez não resolvem nada, até porque não ressuscitarão os mortos. E se não forem tomadas medidas rigorosas talvez tenhamos de assistir mais tragédias iguais a essas, porque outras barragens já apresentam riscos.

O principal responsável pelas tragédias, na verdade, está se fingindo de morto: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Foi ele quem privatizou a Vale do Rio Doce sem nenhuma justificativa convincente, entregando durante o seu governo não apenas aquela empresa mas, também, as teles, além da quebra do monopólio do petróleo, que abriu o caminho para a entrega do pré-sal e o desmonte da Petrobrás. Por isso ele deveria ser acusado e julgado por alta traição ao país, junto com todos os que contribuíram para a desestatização da empresa, entre estes a mídia e, em particular, o jornalista Boris Casoy que, após criticar em seu tele-jornal os que se manifestavam contrários à privatização, disse na época: "A Vale precisa ser privatizada". Precisava por que? Isso ele não disse, nem ele nem FHC, mas nem precisava porque todo mundo sabia: porque os Estados Unidos assim o desejavam. E FHC, tal qual Temer e Bolsonaro, depois de eleito e empossado revelou-se entreguista, submisso aos interesses do Tio Sam. Foi ele, inclusive, quem iniciou as negociações para entrega da Base Espacial de Alcântara aos americanos, cujo processo teve prosseguimento no governo Temer e deve ser concluído agora, no governo Bolsonaro.

Na verdade não havia nenhuma justificativa para a venda da Vale, que era a estatal que mais dava lucro ao país. Na época foi lançado um manifesto contra a privatização, assinado, entre outros, por Barbosa Lima Sobrinho e o ex-presidente José Sarney. Em entrevista a Palmério Doria, autor do livro "O Príncipe da Privataria", o jornalista Mauro Santayanna advertiu, sobre Fernando Henrique: "O que temos que ficar atentos é que o FHC não é só FHC. É todo um grupo, um conjunto de interesses contra a nação brasileira". O fato é que com a privatização da Vale FHC entregou também o subsolo, de onde, além do ferro e alumínio, a empresa tem extraído toneladas de ouro que seguem direto para os cofres do Tio Sam. Não faz muito tempo um avião carregado de ouro, voando clandestinamente, caiu na Amazônia, mas o fato foi convenientemente abafado, com a conivência da mídia, para que a empresa não tivesse que dar maiores explicações. E surge, naturalmente, a pergunta: quanto ouro já foi transportado clandestinamente para fora do Brasil, sem ser declarado às autoridades brasileiras e com enormes prejuízos para o Tesouro Nacional?

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Como o povo já percebeu que durante o tempo em que a Vale era estatal não foi registrado um só acidente, já surgiu um movimento reivindicando a reestatização da empresa que, na verdade, nunca deveria ter sido privatizada. Aliás, não se tem noticia de que as privatizações tenham proporcionado algum benefício ao país – não se sabe nem mesmo para onde foram os produtos das vendas – mas, ainda assim, querem vender a Petrobrás para, como sempre, atender aos interesses norte-americanos que, como se sabe, estão por trás da derrubada da presidenta Dilma Rousseff e da prisão do ex-presidente Lula, justamente porque nos governos petistas o império do Norte perdeu o domínio sobre o Brasil. E jamais teria o nosso petróleo, os nossos minérios, a Embraer e a base de Alcântara. Por isso, era preciso tirar o PT do caminho para conseguir o que sempre ambicionaram, contando para isso com a cumplicidade dos vira-latas brasileiros. Por essa razão é que eles querem também derrubar Nicolás Maduro, na Venezuela, que sempre resistiu aos seus avanços ao petróleo daquele país. E por isso Juan Guaidó, o Bolsonaro venezuelano, vem recebendo apoio ao seu governo paralelo, isso, sim, um insulto à democracia. Se Aécio Neves, na eleição de 2014, tivesse feito o mesmo certamente teria o apoio do Tio Sam, que considera ilegítima a eleição de qualquer um que não satisfaça aos seus interesses.

Tomara que esse Congresso que toma posse no próximo dia primeiro de fevereiro não seja medíocre e vira-lata como o anterior, pois é o único que pode barrar todas as ações entreguistas. Como o país não pode contar com o Judiciário, que deveria ser o guardião da Constituição e da nossa soberania – todas as liminares concedidas por juízes nacionalistas para impedir a venda de estatais foram derrubadas por magistrados das instâncias superioras – e, também, já não consegue vislumbrar militares nacionalistas, o jeito é contar com o Parlamento que, se representar efetivamente o povo, deve aprovar uma lei que promova a reestatização da Vale e proíba toda e qualquer privatização, além da entrega da Embraer e da base espacial de Alcântara. Caso contrário, como disse certa vez o saudoso presidente Itamar Franco, vão acabar deixando o Brasil apenas com o pau da bandeira.

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