Tijucamérica: o futebol e o inexplicável tabelando com a vida

A ligação do homem pelo futebol é tão intensa que esse sentimento é capaz de fazer tabelar relatos biográficos com a história do seu time de coração

A ligação do homem pelo futebol é tão intensa que esse sentimento é capaz de fazer tabelar relatos biográficos com a história do seu time de coração
A ligação do homem pelo futebol é tão intensa que esse sentimento é capaz de fazer tabelar relatos biográficos com a história do seu time de coração (Foto: Ricardo Flaitt)


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A ligação do homem pelo futebol é tão intensa que esse sentimento é capaz de fazer tabelar relatos biográficos com a história do seu time de coração. Aos apaixonados pelo esporte, as etapas da vida se confudem com a formação dos escretes, as grandes vitórias, as trágicas derrotas, as jogadas mágicas, todos elementos do jogo, e da vida. De fato, a vida poderia ser sintetizada em uma partida de futebol. "Ser América é uma filosofia ou um estado de espírito? Não sei. Para mim, ser América é uma coisa tão sublime que não há explicação" [p.205]

Mas o que fazer quando o seu time de coração, parte da sua identidade, nos dias atuais, representa apenas um espectro de momentos áureos do passado?

Diante deste dilema, o jornalista Trajano, americano de coração, resolveu recolocar a história do seu clube entre os maiores do Rio: "Essa merda não vai ficar assim! Vou dar um jeito nessa história". Então, se a realidade não lhe é favorável, Trajano recorre ao sobrenatural, ao metafísico e ao onírico para colocar uma nova alma no Diabo, se assim a religião do esporte permite.

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Com apoio de curandeiros, pais de santo, entre outras entidades brasileiras e folclóricas do Brasil,Trajano resolve ressuscitar velhos craques para formar um time com os melhores craques que já passaram pelo América (RJ). Até mesmo o cigao Melquíades, de García Márquez auxilia nesta empreitada do realismo fantástico.

Como não há relógio no Além, a formação do time se estabelece de forma atemporal, deste modo, atletas dos primórdios do América passam a conviver com personalidades recentes. O tempo Trajano que corre em Tijucamérica, não é o que se forja nos cronômetros e nos ponteiros dos segundos, mas o que se faz no sentimento e no pulsar do torcedor, que mescla seu time à sua vida.

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Trajano, o técnico, convoca seu time do sobrenatural e inicia a preparação para disputar o Campeonato Carioca. A boa jogada narrativa permite ao leitor, tanto os apaixonados pelo clube, mas também pelo futebol, rememorar os grandes jogadores que passaram pelos clubes do Rio de Janeiro. Para quem ama o América e presenciou seus instantes de glória, o livro arranca suspiros de saudade, e, ao mesmo tempo, os craques ressuscitados também fazem reviver os tempos de uma cidade que não existe mais, mas que se ainda arquiteta nas memórias.

Em sua saga para formar o time sobrenatural e voltar a ver o seu América ser campeão, Trajano se depara com várias situações, por onde caminha formando um grande painel de sua vida: a infância, a lembrança dos pais, os amigos do passado, as noites cariocas, os amigos atuais, o bairro, a vizinhança, as alterações da cidade, as transformações sociais num grande exercício cíclico em que passado, presente e futuro se misturam, como se só existisse um tempo: o da alma do narrador. Pelo curso de sua narrativa, em Tijucamérica, é como se Trajano percorresse por várias vezes o "Rio" de Heráclito.

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Tijucamérica pode ser uma imensa e boa anetoda; ou, nos tempos atuais, uma resenha, palavra nova no vocabulário dos jogadores, mas também tem o poder de nos fazer olhar para trás e perceber que o tempo joga com a gente, que o sentido da vida é não ter sentido, que algumas jogadas inexplicáveis materializadas nos gramados também constituem o inexplicável das nossas vidas e que, quando começamos a ter a nossa seleção de todos os tempos do nosso time do coração, a nossa partida o nosso campeonato já está avançando pelas tabelas e ainda somos meninos, revisitando os álbuns de figurinhas de futebol ou os álbuns de família. Afinal, para quem é apaixonado pelo esporte, é tudo um só.

Ricardo Flaitt (Alemão) é estudante de História, jornalista, poeta, assessor de imprensa do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical.
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