Movido pela “Mudança”, eleitor de Bolsonaro subverte a lógica e até suas crenças religiosas

A liderança de Jair Bolsonaro nas pesquisas verticaliza-se como uma incógnita aos organismos de análise política, uma vez que seus argumentos subvertem a lógica das realidades dos cidadãos e suas classes sociais, chegando ao ponto máximo de seu eleitor contradizer suas próprias crenças religiosas



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Há quatro dias da votação das eleições presidenciais, não é novidade que o Brasil se encontra polarizado entre os candidatos Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.

A liderança de Jair Bolsonaro nas pesquisas verticaliza-se como uma grande incógnita aos organismos de análise política, uma vez que seus argumentos subvertem a lógica das realidades dos cidadãos e suas classes sociais, chegando ao ponto máximo de seu eleitor contradizer suas próprias crenças religiosas.  

Uma das explicações palpáveis para essa conjuntura se estabeleceu através da necessidade de “mudança”. Os eleitores, cansados dos antigos atores políticos, apostam todas suas fichas em um candidato que emergiu ao cenário nacional com o discurso de que será o representante de uma transformação profunda na sociedade. Essa transformação projetada na mente dos cidadãos se traduz por meio do verbete “mudança”.

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Em nome da “mudança”, repetida como um mantra para uma solução definitiva para o surgimento de um novo Brasil, afastaram do exercício de analisar as propostas, as declarações (veiculada massivamente nas redes sociais), as atitudes e o trabalho pregresso de Bolsonaro, que, mesmo se colocando como “o novo”, já atua na política há 27 anos.

“Mudança” é o elemento central, tornando qualquer discussão e análise posterior como algo irrelevante, fazendo com que os eleitores desconsiderem suas posições pessoais (sua posição social) e também os ritos políticos, que compreendem o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.

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As subversões da lógica e negação dos preceitos religiosos, em nome da mudança-Bolsonaro, podem ser ilustrados nas seguintes situações:

Jair Bolsonaro disse, ao vivo, na sabatina do Jornal Nacional, que em seu governo, o cidadão terá de optar “por ter emprego ou ter direitos”, deixando explícito que ele pensa em reduzir os direitos trabalhistas, muito além das supressões e distorções promovidas pela Reforma Trabalhista, aprovada no governo Temer. Vale registrar que o candidato a vice de Bolsonaro, General Mourão, declarou, mais de uma vez, que o direito às férias e o 13º salário são questões desnecessárias ao trabalhador.

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O que mais gera estranhamento é que parte do eleitorado do Bolsonaro é formado por trabalhadores e trabalhadoras assalariados, que vendem sua força de trabalho para garantir o sustento. No entanto, mesmo pertencendo à condição de trabalhadores, os quais terão suas vidas precarizadas com a redução de direitos, ainda assim, dizem apostar em Bolsonaro. Apostam na “mudança”.

Nesta manifestação, movido talvez por um sentimento cego de mudança e com ódio da velha política, o trabalhador nega sua condição social para apostar naquele que poderá implantar uma política que precarizará sua vida, negando-se a analisar as consequências.

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Outro ponto desafia as crenças religiosas. Eleitores católicos e evangélicos apostam em Bolsonaro, mesmo que, ao longo de sua campanha, disse que metralharia os oponentes, que “bandido bom é bandido morto” (como se matar fosse o caminho para acabar com a criminalidade), foi acusado de apologia ao estupro, simulou armas nas mãos de crianças, chamou as mulheres de cadelas em seu jingle de carreata e durante o processo de impeachment da última presidente, homenageou o Coronel Brilhante Ustra, um dos maiores torturadores na ditadura militar.

Mesmo frente aos fatos, registrados em vídeo e pela imprensa, católicos e evangélicos, que teoricamente são regidos pela Bíblia, que prega o amor e a tolerância na humanidade, ainda assim optam por Bolsonaro, que verbaliza o discurso do ódio e da intolerância contra minorias. Neste caso, os eleitores do capitão subvertem a lógica racional e também todos os preceitos de sua religião. Como explicar? Mudança?

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O tema anticorrupção é também um dos elementos centrais dos bolsonaristas. Segundo seus eleitores, com Bolsonaro na presidência, todos os desvios, de toda ordem, acabarão no exato momento sentar na cadeira de presidente. Porém, Bolsonaro foi acusado em empregar uma funcionária fantasma em seu gabinete na Câmara dos Deputados, declarou abertamente que, mesmo proprietário de um apartamento, recebia o auxílio-moradia da Câmara dos Deputados (consumindo dinheiro público para “comer gente”), representando, no mínimo, um contrassenso entre o que se defende e o que se estabelece na prática.

Segundo o site Congresso em Foco, “Bolsonaro promete ‘endireitar’ o país, mas tem dificuldade para demonstrar eficiência. Na Câmara desde 1990, teve apenas um projeto de sua autoria convertido em lei (a de n° 10.176, de 2001). A proposta, apresentada por ele em 1996, prorrogou benefícios fiscais para o setor de informática e automação.”

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O anseio extremado por mudanças talvez represente uma explicação ao fenômeno Bolsonaro, que segue em sua campanha, desafiando a lógica, a razão e até mesmo as próprias crenças de seus eleitores, com um cenário de trabalhadores optando por apostar em quem declara suprimir seus direitos trabalhistas e em quem contrapõe a tudo o que sua religião prega.

O povo, sempre à margem de um sistema educacional capaz de formar cidadãos com capacidade crítica, morrendo nas filas dos hospitais, sem emprego, vítima da insegurança, revoltado com os noticiários e perplexo diante de tantas mazelas, agora parece encontrar uma solução imediatista, na “mudança brusca” do sistema político.

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O grande problema é que em nome da “mudança” não se analisa as consequências, desconsidera-se que nem toda mudança é para melhor.

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