De onde brotam tantos “analistas políticos”? Como são criados? Onde vivem?

"Comportam-se como se estivéssemos vivendo na mais absoluta normalidade, em pleno Estado de Direito, com emprego para todos e a economia bombando", avalia o jornalista Ricardo Kotscho, do Jornalistas pela Democracia, sobre a profusão de analistas políticos promovidos na mídia corporativa; "Falam com absoluta fleugma, como se o Brasil fosse um país nórdico, onde a felicidade geral só depende agora da aprovação da reforma da Previdência. O resto é detalhe"

De onde brotam tantos “analistas políticos”? Como são criados? Onde vivem?
De onde brotam tantos “analistas políticos”? Como são criados? Onde vivem? (Foto: Marcos Corrêa/PR)


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Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia

Outro dia, aqui mesmo, notei a profusão de filósofos na cena política nacional nos últimos tempos.

Mas não são só eles que dominaram os programas de entrevistas na TV e colunas em jornais e revistas, em espaços antes ocupados por jornalistas.

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Temos também os onipresentes "analistas políticos", assim apresentados sem maiores explicações de onde são, o que fazem, de onde vieram.

Há uma explicação simples para esta este fenômeno: em sua grande maioria, eles trabalham de graça, em troca apenas da divulgação de seus nomes e das suas atividades.

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Se fosse o caso, até pagariam para aparecer, como já aconteceu em outros tristes tempos.

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Nem precisariam ser tantos, já que todos falam as mesmas coisas e se revezam em bancadas e poltronas para defender o livre mercado acima de tudo e a reforma da previdência.

Parecem ter saído todos do mesmo ninho do pensamento único do Instituto Millenium e dos cursos de Olavo de Carvalho.

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Quando se diz de onde são, predominam o Insper e a Fundação Getúlio Vargas, sempre preparados para comentar com absoluta convicção qualquer assunto, do incêndio na Notre Dame aos desabamentos na Muzema, dos embates entre STF e PGR às desventuras do Brexit.

Afinal, são apenas analistas, embora sejam apresentados genericamente como "especialistas".

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Todos devem ter passado por baterias intensivas de mídia training, tal sua desenvoltura para não deixar nada sem resposta.

Raramente contam alguma novidade ou baseiam suas opiniões em informações sobre o que está acontecendo naquele dia.

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Suas teses são permanentes, resistem a qualquer fato novo.

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Nestas conversas entre amigos, moderadas por apresentadores igualmente amestrados, não há contraditório, raramente surge alguma polêmica.

Aquela receita antiga de ouvir sempre "os dois lados" de uma questão já não vem ao caso.

Claro, há raras e honrosas exceções, como a do professor Mario Sergio Cortella, que insiste em ter suas próprias opiniões, e Mario Sergio Conti, que sempre nos surpreende com suas boas entrevistas.

Entre os convidados habituais, de vez em quando aparece uma cara nova como vi esta semana no Jornal da Cultura.

É um jovem, cujo nome não me lembro, que começa a sorrir com todos os dentes antes mesmo de ouvir a primeira pergunta, mais liberal do que Paulo Guedes e implacável com a oposição.

Poderia perfeitamente ser um líder do governo da "nova política".

Nada é capaz de mudar o discurso dos "analistas políticos", arrancar deles alguma emoção diante das tragédias diárias.

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Comportam-se como se estivéssemos vivendo na mais absoluta normalidade, em pleno Estado de Direito, com emprego para todos e a economia bombando.

Falam com absoluta fleugma, como se o Brasil fosse um país nórdico, onde a felicidade geral só depende agora da aprovação da reforma da Previdência. O resto é detalhe.

Com o país de ponta cabeça, lembram um velho realejo que toca sempre as mesmas músicas para o mesmo periquito mesmo quando não há platéia.

Estão em todos os canais, abertos e fechados, e são tantos que já não dá para saber quem ali é convidado ou contratado da emissora.

Foi a fórmula com baixo custo de produção que as empresas encontraram para fazer jornalismo com menos jornalistas, assim como os bancos em breve poderão operar sem bancários.

Jornalistas profissionais neste novo mundo são um perigo, porque sempre podem descobrir coisas que não deveriam e causar problemas.

Enquanto isso, o bolsonarismo vai ditando a pauta e montando sua própria rede particular de comunicação, na velha e na nova mídia, escolhendo a dedo empresas e jornalistas para falar aos seus seguidores.

Com esses "analistas políticos" e o que sobrou de imprensa livre, para não se aborrecer, melhor mesmo cada um produzir suas próprias análises.

É o que tento fazer cotidianamente neste Balaio, com toda liberdade, graças a Deus. Prefiro errar sozinho do que entrar na onda do pensamento único.

E com a ajuda de vocês, claro, meus caros leitores.

Vida que segue.

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