Entre a bola e a notícia, um País que anda de lado, joga para trás e é muito chato

"Com o país parado e bestificado diante de tanta ruindade e boçalidade, a TV não poderia ser diferente: ela é apenas um espelho que reflete a nossa cara feia", diz Ricardo Kotscho, do Jornalistas pela Democracia. No atual governo, diz ele, há "toques para o lado e para trás, depois um chutão bumba meu boi pra frente, e fica nisso"

Entre a bola e a notícia, um País que anda de lado, joga para trás e é muito chato
Entre a bola e a notícia, um País que anda de lado, joga para trás e é muito chato (Foto: Reuters)


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Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia

Passei a noite de terça-feira zapeando pela TV em busca de alguma coisa interessante para assistir.

Como gosto de ver futebol e noticiários, nesta ordem, não achei nada.

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Todos os telejornais parecem ser feitos por uma só pessoa, repetindo o tempo todo as mesmas notícias que você já viu na internet.

Só se fala das últimas do Bolsonaro e da reforma da Previdência, fora os crimes do dia e as desgraças anunciadas.

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Nem os comentaristas aguentam mais repetir os mesmos comentários todos os dias, de manhã à noite, sobre os mesmos assuntos.

Parecem cansados e entediados, obrigados a fazer algo desagradável, só para preencher o tempo e garantir o salário no fim do mês.

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Se eles, que vivem disso, estão assim, dá para imaginar como ficam os pobres telespectadores como eu que passam a maior parte do tempo confinados em casa.

Para distrair, prefiro ver qualquer jogo de futebol, mas está difícil também.

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De vez em quando, tem um jogo bom dos grandes times, mas ver a Série B às terças-feiras está de doer a paciência.

Vi partes de dois jogos ontem, mas nem lembro quais eram os times. Todos jogam do mesmo jeito.

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Qualquer bola dividida, os jogadores se jogam no chão como se estivessem morrendo, e leva um tempão para o juiz recomeçar o jogo.

Neymar fez escola. Quem mais corre em campo são os médicos e massagistas…

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Quando a bola está rolando, o que acontece cada vez menos, é aquela pasmaceira: toques para o lado e para trás, depois um chutão bumba meu boi pra frente, e fica nisso.

Ninguém arrisca um drible ou ousa uma jogada diferente, parecem jogadores de pebolim.

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É a mesma coisa no noticiário político.

Os personagens são sempre os mesmos, falando as mesmas abobrinhas em que nem eles acreditam.

De um dia para outro, nada muda, como se todos estivessem esperando a reforma da Previdência para começar a fazer alguma coisa.

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Com o país parado e bestificado diante de tanta ruindade e boçalidade, a TV não poderia ser diferente: ela é apenas um espelho que reflete a nossa cara feia.

Depois que começamos a ver jogos dos campeonatos europeus, parece até que lá eles praticam outro esporte, nada a ver com o futebolzinho daqui.

Os gringos jogam na vertical, todos correm pra burro, a bola não para, o que se busca o tempo inteiro é o gol, para ganhar o jogo, não para garantir um honroso 0 a 0.

A garotada nas ruas já desfila com as camisas dos grandes times de lá, briga pelo Barcelona ou Real Madri, não quer mais saber do nosso futebolzinho burocrático e chato.

Aliás, ao desligar a televisão, você constata que o Brasil ficou um país muito chato em tudo e, desse jeito, nunca mais vai ser campeão do mundo.

Para garantir o emprego, Tite entrou na onda da mediocridade e convocou para a Copa América os mesmos jogadores já manjados de campeonatos perdidos, em vez de testar os novos craques que conseguem se destacar no Brasileirão, antes de irem para a Europa.

Se fizer as contas, Tite vai descobrir que para a próxima Copa todos estarão quatro anos mais velhos. Daniel Alves por exemplo, estará com 39 anos.

Tite poderia parar de viajar pelo mundo gastando o dinheiro da CBF para ver jogadores brasileiros na Ásia ou no Oriente Médio.

Os melhores estão todos na Europa e os jogos de lá são transmitidos para o Brasil. Pode fazer a convocação sem sair de casa. Vai dar no mesmo.

Para falar com os jogadores e saber como estão, pode usar o celular.

Mais difícil é criar um novo esquema tático para a seleção capaz de surpreender os adversários como Croácia e França fizeram na Copa da Rússia.

Nosso futebolzinho está previsível demais, assim como o resto do país, que normalizou o que é anormal, e fica dando voltas em torno do próprio rabo.

Eu mesmo me sinto assim, toda hora achando que já escrevi isso antes e estou me repetindo.

Que posso fazer, se os fatos não mudam e são cada vez mais massacrantes?

Vida que segue.

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