Bolsonaro em Davos e a vergonha alheia

"Por ossos do ofício, somos obrigados a sacrifícios inimagináveis. Por exemplo: ouvir discursos de gente como Jair Bolsonaro num palco internacional tido como evento top pela mídia gorda e o 'mercado'", diz Ricardo Melo, do Jornalistas pela Democracia; "Justiça seja feita, Bolsonaro foi complacente ao nos poupar uma perda de tempo maior", acrescenta; segundo ele, o pessoal da dinheirama mundial" presente ao seu discurso conseguiu "esconder no semblante e nos bastidores o espanto diante da realidade que um país como o Brasil esteja nas mãos de alguém que ignora problemas como desemprego, crescimento da miséria, falência da indústria e tantos outros que atormentam inclusive os países desenvolvidos"

Bolsonaro em Davos e a vergonha alheia
Bolsonaro em Davos e a vergonha alheia (Foto: REUTERS/Arnd Wiegmann)


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Por Ricardo Melo, para o Jornalistas pela Democracia

Por ossos do ofício, somos obrigados a sacrifícios inimagináveis. Por exemplo: ouvir discursos de gente como Jair Bolsonaro num palco internacional tido como evento top pela mídia gorda e o "mercado".

Justiça seja feita, Bolsonaro foi complacente ao nos poupar uma perda de tempo maior. O pronunciamento não durou sequer dez minutos –tinha direito a pelo menos 30. Sua "objetividade", desconfia-se, nada tem a ver com ir direto ao ponto. É falta do que dizer mesmo. Aliás, sua obsessão pelo twitter não se explica apenas pela estratégia do Deus Trump.

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Seria curioso ver um texto de Jair Bolsonaro com mais de 250 caracteres. A opção pela postagem eletrônica evita a humilhação.

O conteúdo da fala de oito minutos de Bolsonaro é de envergonhar qualquer brasileiro com as ideias mais ou menos no lugar. O ex-capitão falou em conciliar meio ambiente e desenvolvimento.

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Não explicou como fará isso com um ministro investigado por especular com licenças ambientais, uma ministra apaixonada por agrotóxicos e outro ministro disposto a vender o Brasil, a Amazônia e o que mais for para favorecer a banca internacional. Defendeu a desideologização, mas fez questão de elogiar nominalmente um chanceler adepto de conceitos que fazem a própria Bíblia parecer uma versão do manifesto comunista.

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Esperto como sempre, Bolsonaro fugiu de qualquer oportunidade de jornalistas perguntarem sobre a distância entre seus devaneios e os fatos. Enquanto posava de austero comendo num bandejão, aqui no Brasil sua famiglia vem sendo incinerada por denúncias cada vez mais cabeludas. Aos poucos, revela-se uma promiscuidade inquietante entre as roubalheiras do assessor Queiróz, o enriquecimento repentino do clã presidencial e a ação de milícias criminosas no Rio. As notícias estão aí espalhadas pela rede para quem quiser enxergar. Sérgio Moro, que também está no trem da alegria suíço, é um dos que não quer.

A etiqueta do "grand monde" recomenda evitar o constrangimento de convidados. Foi o que aconteceu com Bolsonaro. O pessoal da dinheirama mundial presente ao seu discurso, num plenário semi-esvaziado, preferiu escapar de maiores comentários.

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Mas poucos puderam esconder no semblante e nos bastidores o espanto diante da realidade que um país como o Brasil esteja nas mãos de alguém que ignora problemas como desemprego, crescimento da miséria, falência da indústria e tantos outros que atormentam inclusive os países desenvolvidos.

Não que um lugar como Davos vá resolver tais problemas, como o fato de que 26 bilionários sozinhos reúnam um patrimônio equivalente ao que possui metade da população do planeta! Mas no mínimo é preciso manter as aparências. Em lugar disso, Bolsonaro encerra sua fala pregando "Deus acima de tudo". Um vexame, à altura de quem governa o Brasil atualmente.

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