Bolsonaro prejudica até os aliados do agronegócio

A regressão de até 100 anos prevista pelo economista Marcio Pochmann para a economia brasileira, durante o governo retrógrado de Jair Bolsonaro, deve começar a fulminar setores que o próprio presidente defende ardorosamente, como é o caso do agronegócio

Bolsonaro prejudica até os aliados do agronegócio
Bolsonaro prejudica até os aliados do agronegócio (Foto: Adriano Machado - Reuters)


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A regressão de até 100 anos prevista pelo economista Marcio Pochmann para a economia brasileira, durante o governo retrógrado de Jair Bolsonaro, deve começar a fulminar setores que o próprio presidente defende ardorosamente, como é o caso do agronegócio, que ele já disse querer expandir de qualquer jeito na Amazônia, usando até terras indígenas, mesmo que isso custe mais destruição da maior, mais rica e mais bonita floresta tropical do planeta, hoje devastada em mais de 20%.

Bolsonaro representa de fato uma ameaça ao agronegócio a partir do momento em que, na pecuária, por exemplo, a falta de política efetiva do governo brasileiro em fiscalizar o desmatamento na Amazônia deve resultar tanto na desaceleração quanto na redução da venda de carne brasileira para o mercado externo, que hoje já consume cerca de 20% do gado criado em pastagens da Amazônia e de outras regiões do país.

Para o pesquisador sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Paulo Barreto, isso deve ocorrer quando o mercado consumidor externo perceber que a carne produzida no Brasil está implicando na devastação da floresta amazônica, considerada pelo mundo inteiro como essencial ao equilíbrio climático de todo o planeta, entre outros grandes benefícios que ela representa para a humanidade em termos de ativos ambientais.

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Falando semana passada no evento “Jornalistas em Diálogo” sobre o tema “A pecuária na Amazônia, Avanços e Desafios”, promovido pelo site O Eco e pelo Instituto Socioambiental (ISA), o pesquisador do Imazon lamentou que, para o governo atual, o Ibama seja apenas uma fábrica de multas.

“Mas essa postura pode se refletir no mercado, sobretudo no externo. Temos de lembrar que 20% da produção brasileira de carne bovina vão para exportação. Essa falta de política efetiva contra o desmatamento na Amazônia pode, sim, se refletir lá fora”, disse o pesquisador. No que ele está coberto de razão porque tanto os consumidores internacionais e até parte dos consumidores brasileiros não consomem, e parariam de consumir, produtos que impliquem em mais devastação florestal na Amazônia.

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Paulo Barreto até citou fundos bilionários estrangeiros, que deixaram de destinar recursos a frigoríficos brasileiros depois que estourou em 2017 o escândalo das delações do grupo JBS no país. O crédito rural não voltado à adoção de mais tecnologia, na visão de Barreto, também é um entrave para reduzir o desmatamento.

“O pecuarista tem acesso ao crédito, mas não à tecnologia. E ele só busca tecnologia quando a fiscalização funciona”, assinalou. Por isso, o pesquisador disse acreditar que também esteja nas mãos do mercado pôr um freio no desmatamento na Amazônia promovido pela pecuária, além da sojicultora, da mineração, da produção de madeira sem manejo e de outros setores econômicos nocivos à existência da floresta. “O governo atual já deu seu recado em relação à demarcação de terras indígenas, causas ambientais e desmatamento. Já disse que isso não é um problema. Resta saber se o mercado vai achar isso um problema”, salientou Barreto.

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O pesquisador do Imazon lembrou acertadamente que, entre 2005 e 2012, houve um controle mais rigoroso do desmatamento no Norte do país, principalmente por políticas punitivas e fiscalização mais rigorosa. “Depois disso, o problema recrudesceu”, continuou. “O que sabemos, também, é que quando o cerco se fecha, com maior controle, o pecuarista vai buscar mais tecnologias (para recuperar áreas degradadas, por exemplo) e evita abrir áreas novas”, completou o pesquisador, para quem, depois daquele período (pós-2015), a fiscalização do desmatamento na Amazônia fraquejou.

O pesquisador ressaltou, ainda, que a aplicação efetiva de multas e punições, como confisco de gado em caso de este estar sendo criado em áreas ilegais, também é uma política muito acertada. “Em São Félix do Xingu (PA), por exemplo, a taxa de desmatamento diminuiu 75% com multas pesadas e apreensão do gado”, informou o pesquisador.

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Barreto assinalou que, além do mercado, também está nas mãos dos frigoríficos frear a retirada de mata nativa na Amazônia para formação de pastagens. “São 110 empresas frigoríficas que possuem 93% da capacidade de abate na Amazônia. Elas adquirem gado de 393 mil fazendas”, informou o pesquisador, acrescentando que a maioria dessas empresas assinou Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) se comprometendo a não adquirir gado, sobretudo, originário de áreas desmatadas ilegalmente e de terras indígenas. “Essas empresas que assinaram o TAC detêm 73% da capacidade de abate da Amazônia”.

Em 2018, o Brasil vendeu para a China, Hong Kong, União Europeia, Emirados Árabes e Chile, entre outros países, um milhão e 640 mil toneladas de carne bovina no valor total de US$ 6,57 bilhões, o que foi considerado o maior volume de carne bovina já embarcado para os mercados externos, segundo estimativa da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).

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Em resumo, quem tem um presidente “aliado” como Bolsonaro, que retroage o país até em relação ao combate a crimes ambientais, tão grave quanto querer matar os brasileiros pobres de tanto trabalhar com a sua proposta elitista de reforma da Previdência, não precisa necessariamente de adversários. E muito menos de inimigos.

 

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