Para o momento da primeira estrela

Ao nascer a primeira estrela na noite desta terça feira, algo especial acontece para nós, judeus. Começará o Yom Kippur. É o Dia do Perdão



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Ao nascer a primeira estrela na noite desta terça feira, algo especial acontece para nós, judeus. Começará o Yom Kippur.

É o Dia do Perdão. Judeus, há milhares de anos, celebram e suplicam por perdão divino pelas pequenas e grandes iniquidades cometidas ao longo do ano. Os minimalistas, que não esperam tanto, experimentam algum alívio ao sentimento de culpa, zerando a conta. Para muitos, talvez a maioria, é a única visita do ano à sinagoga (para quem não sabe, judaísmo não é religião, e sim um vínculo profundo com uma teia de afetos e valores, que pais e mães transmitem aos filhos de geração em geração, Le Kol Dor Va Dor, com elementos que são comuns a askenazim, sefaradim, mizrahim, e falashas descendentes da Rainha de Sabá. Algo que une os 14,7 milhões que somos, acima das fronteiras nacionais).

Sou um dos que vão só neste dia, quando respiro mais uma vez o ar desta prece, o Kol Nidrei, que graças ao Youtube ouço nas mais variadas versões, mas continuo mais sensível a esta, que para mim traz história. Eu a ouvia há mais de meio século, em disco bolacha pré-vinil, 78 rotações, na mesma vitrola que tocava Elvis Presley. Punha o Kol Nidrei para mostrar ao Zaide e à Babe (vovô e vovó) a celebração do meu vínculo com a ancestralidade, quando vinham em casa, sempre me trazendo um pacotinho de figurinhas para o álbum do "A Dama e o Vagabundo". No Kol Nidrei essa história das histórias que me contavam se faz presente.

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Os posts dos próximos dias, eu dedicarei ao Yom Kippur, e às contradições que a comunidade judaica vive, como quaisquer comunidades. Na nossa, é o dia em que muitos irão refletir sobre o sacrilégio cometido pela exígua maioria que comanda o Estado de Israel, ao aprovar a Lei do Estado Nação, por 62 votos em 120 assentos, uma lei que institucionaliza o racismo e a opressão teocrática, que traem os fundamentos éticos presentes desde a Torá, há 4.000 anos, que inovou com a proteção explícita às viúvas, aos órfãos e aos estrangeiros.

É o dia em que muitos irão refletir sobre a profanação de instituições sagradas por Netanyahu, que tem a desfaçatez de levar declarados antissemitas líderes da Hungria e da Polônia, e o carniceiro ditador das Filipinas, admirador de Hitler, a visitar o Yad Vashem, o Museu do Holocausto. Basta que comprem armas. E muitos irão refletir sobre a preservação da nossa identidade quando líderes profanam as sinagogas ao acolherem as figuras raivosas que mais representam no nosso país a violência, o ódio, o racismo da Casa Grande, a apologia à tortura, o escárnio, a barbárie.

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Nem todos os posts serão pesados como este, contaminado pelo inconformismo em relação à indignidade de William Bonner e Renata Vasconcelos ao se amesquinharem nas perguntas toscas ao Haddad na entrevista do Jornal Nacional (*). Por que descem tanto? Enfim, cada um de nós que poderia fazer mais do que faz para denunciar a manipulação midiática, poderia incluir um parágrafozinho na prece "Al Chet she Chatanu Lefanecha" ("sobre o pecado que pecamos diante de Vós"), para fazer um pouco mais com nossa responsabilidade individual pela história coletiva, no ano de 5779, que recém começou.

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