O impeachment de Bolsonaro não interessa a ninguém

Eu quero ver Bolsonaro fora da presidência, e por isso votei em outros projetos e fiz campanha para outros candidatos e me coloco desde sua vitória como opositor ferrenho de seu projeto, mas é preciso que tenhamos cautela neste processo

O impeachment de Bolsonaro não interessa a ninguém
O impeachment de Bolsonaro não interessa a ninguém (Foto: Marcos Corrêa/PR)


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É tentador, eu sei. O debate sobre uma possível renúncia, impeachment ou cassação da chapa do presidente Jair Bolsonaro (e em último caso, de seu vice Hamilton Mourão) reascendeu no campo progressista de política brasileira a esperança de rever um projeto de defesa da soberania nacional, do patrimônio público e das conquistas sociais que vemos construídas dos últimos anos. Ver um presidente que reverta os retrocessos e reúna o Brasil em torno de um projeto de desenvolvimento é o sonho de todos nós que votamos em outros projetos que não este em 2018. É o meu sonho, inclusive.

O problema é que um impeachment, renúncia ou cassação não são o caminho para isso, e os motivos deveriam ter sido aprendidos no ano passado. Não importa o modo como Bolsonaro seja removido agora da presidência, os efeitos desta remoção não moveriam o pêndulo na sociedade, que hoje está inclinado para a direita.

A saída de Bolsonaro neste momento nos deixaria com dois cenários possíveis: ou a ascensão de Hamilton Mourão à presidência ou a eleição direta de um novo presidente, através do voto popular.

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O primeiro caso, se o presidente renunciar ou for impedido pelo individualmente pelo Congresso, o General fica com a faixa presidencial. É o sonho de consumo de uma direita menos delirante e que não mantém gurus tresloucados de estimação e ainda o sonho do mercado financeiro, que terá suas reformas contra os mais pobres, tocada a toque de caixa, sem os empecilhos da agenda de costumes bolsonarista.

No segundo, caso a chapa inteira caia, os efeitos não serão muito diferentes, pelo menos na agenda econômica. Em eleições diretas, veríamos a ascensão ao poder de forças de centro-direita, mais moderadas que Bolsonaro nos costumes, mas talvez mais agressivas no avanço da pauta liberal na economia, no enxugamento da máquina, na privatização de estatais e na obliteração do Estado de Bem Estar Social. Não seria absurdo imaginar que veríamos João Dória, Luciano Huck ou outra figura que se fantasia de outsider, de “fora da política”, para “corrigir a política”. Em um cenário onde o discurso de que PT e PSL representavam polos extremos e que nenhum dos dois conseguiu resolver os graves desafios que o país apresenta, este “centro” ganha forças na disputa.

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É preciso compreender que a mudança que precisamos não está em um processo de remoção forçada do presidente, mas na base da sociedade, aquela velha conhecida que abandonamos, enquanto campo político há algum tempo.

Se não movermos o pêndulo que passou mais de uma década apontando para rumos progressistas e que foi empurrado para a direita com apoio da imprensa hegemônica, do sistema financeiro e por interesses das elites do país, não haverá mudança de paradigma. E sem mudança de paradigma, teremos mais alguns anos de avanço conservador sobre tudo o que foi construído neste país.

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Temos de conquistar as ruas como fizemos no último dia 15 de maio, temos de voltar a nos reunir com as pessoas, voltar a discutir a cidade, o estado e o país que queremos. Temos de fazer com que as pessoas entendam os riscos desse projeto de desmonte e se coloquem contra a ideia do desmonte, e não apenas contra a marionete que se senta hoje na cadeira de presidente. É a tal da luta de classes, lembra dela?

Até que se prove o contrário, de forma ampla e irrestrita, Bolsonaro foi eleito democraticamente e representa sim os interesses de uma grande fatia dos brasileiros, ainda que estes brasileiros estejam descobrindo que o projeto do presidente vai de encontro com o que o país precisa.

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Eu quero ver Bolsonaro fora da presidência, e por isso votei em outros projetos e fiz campanha para outros candidatos e me coloco desde sua vitória como opositor ferrenho de seu projeto, mas é preciso que tenhamos cautela neste processo. A Constituição vem sendo rasgada desde o golpe, e pisoteá-la neste momento, sob a desculpa dos rasgos que ela já sofreu, não colabora com o restabelecimento do Estado Democrático de Direito e com a construção de um projeto para um país soberano, altivo e progressista.

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