No Brasil de um presidente homofóbico com orgulho, a homofobia será crime

"Não podemos ignorar que o caráter pedagógico desta decisão. Fomos tomados pelo obscurantismo de menina-veste-rosa, de comunidades terapêuticas, de ataques a diversidade e de devastação nas políticas públicas para a comunidade LGBT. Criou-se um clima de derrota dos avanços conquistados e uma muralha da China para novos avanços. Esta decisão, abre uma brecha", escreve o jornalista e editor do 247, William De Lucca

No Brasil de um presidente homofóbico com orgulho, a homofobia será crime
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É um passo pequeno, mas que representa muito. Nesta quinta-feira (23), o Supremo Tribunal Federal (STF) deu o sexto voto para estabelecer a maioria necessária para que a homofobia, a transfobia e outros crimes motivados por orientação sexual e identidade de gênero sejam equiparados ao racismo. A luta de 40 anos dos movimentos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais desembocou na criminalização da LGBTfobia.

Por omissão do Congresso, o Supremo respondeu a duas ações distintas que pediam a equiparação da LGBTfobia ao racismo e, assim, criminalizaria condutas homofóbicas. Com seis votos favoráveis, forma-se maioria e o debate volta a acontecer no dia 5 de junho, onde os cinco ministros restantes apresentarão suas justificativas. A expectativa é de um aumento na margem da vitória.

Há muitas críticas possíveis ao modo como a conquista chegou. Muitos acreditam que ampliar uma tipificação penal seria reforçar um estado punitivista, e que os mais prejudicados seriam pobres e negros, que já são os mais atingidos por este punitivismo. Outros dizem que a decisão abre precedentes perigosos e que, em outra conjuntura, o STF poderia criminalizar condutas para perseguir as mesmas minorias que hoje foram protegidas pela decisão.

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Os dois argumentos têm sua razão. Mas neste momento, há um outro argumento que pesa muito mais que estes para que o resultado seja sim celebrado por quem acredita em uma sociedade mais justa e menos intolerante. O país que mais mata LGBT no mundo e que tem um presidente que se diz “homofóbico com orgulho” dá um recado sobre a intolerância e discriminação: ela não mais será aceita.

Não podemos ignorar que o caráter pedagógico desta decisão. Fomos tomados pelo obscurantismo de menina-veste-rosa, de comunidades terapêuticas, de ataques a diversidade e de devastação nas políticas públicas para a comunidade LGBT. Criou-se um clima de derrota dos avanços conquistados e uma muralha da China para novos avanços, que seria intransponível por anos, até que o pêndulo da sociedade mudasse de lado. Com a decisão, abriu-se uma brecha. Mais uma vez, via STF, assim como o casamento igualitário.

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É uma vitória sim, e precisa ser muito celebrada, apesar de ser apenas mais um tijolo na construção de uma estrada mais diversa. Ainda precisamos da criminalização da homofobia e do casamento igualitário através de lei no Congresso, bem como de um projeto sério de educação para a diversidade e uma lei que garanta a identidade de gênero de pessoas transexuais. O caminho é árduo e a homofobia, uma chaga social sistêmica, demorará séculos para ser extirpada, mas cada passo é importante. Celebremos este!

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