Infecções da boca. Como se proteger das gengivites, aftas, cáries e abcessos

As duas patologias dentárias mais frequentes, a cárie e a doença periodontal, são ambas provocadas por uma infecção bacteriana. Mas tratam-se de doenças diferentes. O importante é mantermos a boca e os dentes sempre limpos e bem cuidados. As infeções da boca podem acarretar graves consequências também em outras partes e órgãos do corpo humano.

Infecções da boca. Como se proteger das gengivites, aftas, cáries e abcessos
Infecções da boca. Como se proteger das gengivites, aftas, cáries e abcessos


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Por:  Martine Lochouarn – Le Figaro Santé

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“Podemos ter cáries sem doença periodontal, ou o contrário”, diz a professora  de odontologia Géraldine Lescaille, do hospital Pitié-Salpêtrière, em Paris. Além disso, não somos todos iguais diante delas. Por causa de suscetibilidades individuais e familiares, certas pessoas desenvolverão mais cáries, e outras as doenças periodontais. Mal cuidadas, essas moléstias podem dar origem a complicações muito severas. E o pior é que, até mesmo nos países mais desenvolvidos, a prevenção dessas infecções buco-dentárias está longe de atingir níveis ótimos.

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Seus mecanismos infecciosos são variados e diferentes, bem como as bactérias que são responsáveis por eles. A boca abriga mais de 700 espécies de bactérias, normalmente em equilíbrio e em simbiose como ambiente bucal, no qual a saliva, no seu papel protetor, contribui para regular as flutuações.

A cárie dental, ligado ao excesso de açúcares

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No caso da cárie, certas bactérias, sobretudo os estreptococos, para os quais a presença de alimentos açucaradas e ácidos favorecem o crescimento, atacam o esmalte dos dentes, e em seguida a dentina. Se a infecção avança, elas penetram na polpa, a parte viva, vascularizada e inervada do dente, que necrosa acarretando a morte do dente. Essas bactérias vão colonizar essa parte morta até o ápice, a extremidade do dente, onde podem provocar um abcesso dentário – uma super infecção do dente. Deriva disso a importância de uma desvitalização, uma limpeza e uma obturação rigorosa do canal dentário.

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(Na zona do colo do dente (a junção do dente à gengiva), uma fina membrana prende o dente à gengiva. Se a escovação não elimina suficientemente as bactérias, elas irão se multiplicar e favorecer a chegada de outras bactérias.

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Em certos abcessos, a extração do dente pode se revelar necessária. “Mas os abcessos podem também ter origem em uma infecção periodontal, sobretudo quando o dente é sadio mas está mal posicionado, ou até mesmo quando dente é normal. O abcesso não tratado pode inclusive se estender aos tecidos vizinhos: “A infecção pode atingir os seio9s da face e provocar uma celulite. Essa infecção localizada é uma complicação rara, mas potencialmente muito grave. A pessoa pode morrer de um abcesso dentário mal tratado, que pode ser a origem de um abcesso cerebral, de uma osteíte se a infecção atinge o osso do maxilar, ou de uma tromboflebite por disseminação venosa da infecção”.

Quando uma cárie evolui e produz um abcesso dentário, a dor é em geral tão forte que o paciente dificilmente deixa de correr ao dentista. Mas nem todos somos iguais diante da dor. A dor pode ser flutuante, e pode desaparecer quando a infecção se torna crônica, embora exista sempre o risco de ela ressurgir subitamente, em surtos.

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A doença periodontal é silenciosa e irreversível

Contrariamente à carie, a doença periodontal, que costuma surgir ao redor dos 50 anos, não é dolorosa e pode evoluir silenciosamente até chegar à ruína do dente. “Na zona do colo do dente, uma fina membrana o prende à gengiva. Se a escovação não elimina suficientemente as bactérias que colonizam essa região, elas irão se multiplicar, vão favorecer a chegada de outras bactérias, e essa colonização irá destruir progressivamente essa membrana. Daí vem a característica irreversível da doença periodontal”, explica a professora Martine Bonnaure-Mallet, odontologista e microbiologista do Inserm, em Rennes.

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Essas bactérias se organizam espontaneamente em uma espécie de biofilme que forma a placa dentária. “A única forma de eliminar suficientemente esse biofilme (que é muito resistente), é escovar os dentes pelo menos duas vezes ao dia durante 2 minutos, e limpar os espaços interdentários com o uso do fio ou fita dental, ou de escovinhas especiais para isso. O primeiro sinal de alerta é o surgimento de um sangramento durante a escovação. Essa gengivite inicial é ainda reversível com uma escovação correta”. A raspagem regular do tártaro e o polimento dos dentes diminuem a adesão bacteriana.

Segundo estudos, em nossos países apenas a metade das pessoas visita o dentista todos os anos, quando isso deveria ser a regra. “Se o sangramento persiste, é necessário visitar o dentista”, insiste a  odontologista. Um outro sinal de alerta, o mau cheiro na boca. “Mas, infelizmente, as pessoas muitas vezes só vão ao dentista quando já tarde demais, quando os dentes já perderam a firmeza, e só nos resta a opção de arrancá-los”.

O diagnóstico, tanto da cárie quanto da doença periodontal, depende do exame clínico e do diagnóstico por imagem. Nos casos de cáries, abcessos ou doenças periodontais mais graves, muitas vezes é necessário se recorrer a antibióticos de largo espectro tais como a amoxicilina. É preciso sempre ter em mente que a boca faz parte do corpo como todas as demais partes, e daí sua importância como porta de entrada potencial de uma infecção.

A boa higiene é importante também para os implantes

Quando é demasiado tarde para salvar o dente, ou os dentes, ainda resta o recurso às próteses e, de modo cada vez mais frequente, aos implantes. “Mas os pacientes que perderam dentes por causa de uma doença periodontal correm um risco maior de contrair infecções de implante; o implante é realizado em um tecido cicatricial cujo poder de cicatrização é pequeno e que reage mais fracamente às medidas de regeneração. Eles correm o risco, portanto, de perder seus implantes...”, indica o professor Monnet-Corti, odontologista em Marselha.

Quando um implante é colocado para substituir um dente que foi extraído, o osso do maxilar é perfurado para que nele seja implantada uma raiz artificial feita com uma liga de titânio. Esse implante, profundamente integrado ao osso, é recoberto na sua superfície pela gengiva. Mas trata-se de uma gengiva cicatricial, sem ligamento, pouco vascularizada. “É nesse local que podem se desenvolver vários tipos de infecções. Tais infecções periodontais costumam não doer, e com frequência a infecção só é descoberta quando aparece um mau cheiro na boca, acompanhado por pequenos sangramentos no momento da escovação, porque a gengiva se retraiu muito e deixa aparecer o implante, ou então porque esse implante se move e balança”. O processo infeccioso é portanto bastante comparável à periodontite clássica. “São provavelmente as mesmas bactérias, mas ainda não existe um acordo quanto ao verdadeiro causador dessas infeções ligadas aos implantes”, explica o professor Monnet-Corti.

A má higiene bucal e dental, e fatores gerais de agravamento tais como o tabagismo favorecem a ocorrência tanto das doenças periodontais quanto das infecções dos implantes. “A tudo isso é preciso acrescentar o fator tempo: quando colocamos um implante num jovem boxeador que quebrou um dente aos 25 anos de idade, ela deverá ter um acompanhamento médico por precaução; mas quarenta anos depois, todo o esqueleto desse esportista sofreu modificações, ele poderá ter desenvolvido uma obesidade, um diabetes, ele pode ter começado a fumar, etc”, esclarece o especialista. Não existe garantia de perenidade para os implantes.

Uma influência global sobre a saúde

As relações entre saúde buco-dental e saúde global já são bem estudadas e conhecidas. A passagem para o sangue de estreptococos bucais que irão se fixar nas válvulas do coração, com um risco de endocardite infecciosa, rara porém muito grave, é conhecida há mais de cem anos.

Sabemos também que existem correlações entre doenças cardiovasculares e doenças periodontais. Estudos feitos com animais demonstraram que a introdução na corrente sanguínea de pseudomonas – bactérias estreitamente implicadas nas ocorrências de doenças periodontais, favorecem a formação de placas de ateroma. Para alguns pesquisadores, esta ligação entre doença periodontal e aterosclerose está agora assentada em um grande número de provas.

Um outro fato bem conhecido, a diabete predispõe à doença periodontal. Os diabéticos devem ser acompanhados no plano dentário para evitar que percam seus dentes precocemente. “Esta é uma relação de mão dupla: o diabete favorece a doença periodontal e a doença periodontal agrave o diabete”, ressalta o professor Bonnaure-Mallet.

Um trabalho recente desenvolvido e publicado pela equipe desse cientista mostrou, por sinal, que a hemocromatose, doença genética que produz um excessivo acúmulo de ferro no organismo, favorece a doença periodontal.

Uma revisão dentária e a colocação em ordem de todas as partes da boca são indispensáveis antes de toda e qualquer cirurgia cardiológica pesada. Este é também o caso da oncologia, antes de se iniciar qualquer quimioterapia, pois esses tratamentos têm um efeito imunossupressor global. O ideal seria um exame odontológico sistemático em todos os casos de doença crônica grave.

 

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