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Brasília

Festival debate falta de diversidade na mídia tradicional

O uso de mídias alternativas e outras formas de comunicação, que dão visibilidade e quebram os estereótipos de grupos marginalizados, foi tema de discussão nesta quarta-feira 27, em Brasília, no Festival Latinidades, que ocorre até domingo 31 na capital; o evento já se consolidou como o maior festival de mulheres negras da América Latina

Brasília - Mesa de discussão Estética como estratégia Política, no terceiro dia do Festival Latinidades 2016 (Wilson Dias/Agência Brasil) (Foto: Gisele Federicce)
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Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil

O uso de mídias alternativas e outras formas de comunicação, que dão visibilidade e quebram os estereótipos de grupos marginalizados, foi tema de discussão hoje (27), em Brasília, no Festival Latinidades, que ocorre até domingo (31) na cidade. O evento já se consolidou como o maior festival de mulheres negras da América Latina.

Morando no Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, há seis anos, a jornalista Thamyra Thâmara disse que descobriu logo na graduação a falta de diversidade na mídia tradicional e precisou pensar em outras narrativas para comunicar a realidade da periferia.

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Thamyra é idealizadora do Gato Mídia, um projeto de convivência e aprendizado em mídia e tecnologia para jovens de espaços populares. O termo gato vem de gambiarra e, segundo ela, a brincadeira com o nome tem relação com a criatividade de quem vive na favela e não é representando pelos grupos oficiais. "É uma forma de resistir e criar", disse.

Para Thamyra, a história de grupos marginalizados, como negros, mulheres e LGBTs, é sempre "contata de cima". "A mídia tradicional acaba criando estereótipos a todo momento. Estamos tentando contar a nossa história, temos que ocupar os espaços e colocar os nossos códigos ali, dizer que o que fazemos também é cultura e inovação, que temos muito a ensinar", disse.

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Ela explicou, entretanto que a dificuldade de todos que trabalham com mídia periférica e alternativa é o financiamento para continuar produzindo. "O jovem de classe média consegue viver daquilo que ele cria, o jovem preto da favela, não. Esse é um grande desafio do comunicador popular, ser reconhecido como comunicador e viver da sua criatividade", disse.

A cantora Thabata Lorena, do Distrito Federal, contou que vive de bicos e do seu trabalho como arte-educadora. Ela é cantora de RAP, mas disse que é um cenário ainda muito machista. "Todos os espaços de poder estão acostumados com a presença masculina. Mas o cenário é muito mais favorável hoje do que já foi", disse.

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Para ela, o cenário musical também é "embranquecido". "O mundo foi comunicado de uma forma que não é pra gente. A população negra tem produzido nesse contexto da diáspora em vários lugares do mundo, são os maiores produtores do século 21. O jazz, o rock, tudo que a gente vê embranquecido é porque quando chega lá é alguém branco que vai mostrar. A cultura negra está na moda, mas o negro não", disse.

Thabata falou sobre a riqueza de informação que é a música negra, indígena e contemporânea brasileira. "Aí tem essa história da resistência. Mas se passar tanto tempo resistindo, não vamos existir. Não queremos estar sempre no duro, no osso, queremos a abundância que vida tem", afirmou.

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A jornalista baiana Maíra Azevedo também falou no Festival Latinidades sobre a Tia Má, sua personagem nas redes sociais, que fala sobre empoderamento feminino e relacionamentos abusivos. Maíra é repórter de mídia tradicional de um dos jornais mais antigos do Nordeste, A Tarde.

"Mas tem coisas que não conseguimos pautar. E vi que poderia usar meu bom humor para dar o recado. No veículo tradicional, não vão falar de relacionamento abusivo, às vezes o cara pratica um relacionamento abusivo, ele não vai pautar isso. Porque são eles mesmos que estão no comando da mídia tradicional, são homens brancos", disse.

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Segundo Maíra, entretanto, existem os critérios de noticiabilidade. "Nós não estamos em nenhum deles. Estamos sempre morando à margem, até quando morremos em quantidade é só para virar dado estatístico. Nossas mortes não chocam tanto, não geram mais notícia, já fazem parte do cotidiano", disse, destacando que é preciso usar os meios alternativos para pautar a mídia tradicional.

"Por isso, as redes sociais são fundamentais, quando a gente consegue fazer com que um assunto entre nos trending topics, de fato a mídia tradicional vai ter que falar sobre isso. Precisamos criar mecanismos para burlar o boicote que existe na mídia tradicional. A população negra não se vê porque historicamente nunca foi interessante que a gente falasse", argumentou.

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Festival

Criado em 2008, o Festival Latinidades marca as celebrações do Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha. A 9ª edição do evento tem como tema a comunicação e as atividades se concentram no Museu Nacional, na Esplanada dos Ministérios.

Na programação, estão previstos debates, conferências, lançamentos de livros, oficinas, cinema, exposição de fotos, feiras e shows, entre outras atividades. O festival ainda tem atrações para crianças no Espaço Infantil, com brincadeiras, roda de conversa e bailinho. A programação completa está disponível no site www.afrolatinas.com.br.

Organizado pelo Instituto Afrolatinas e Griô Produções, o evento deste ano tem a parceria das Nações Unidas no Brasil e patrocínio do governo do Distrito Federal.

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