Coronavírus: a favela precisa de ações emergenciais do poder público, afirmam lideranças da Maré
Para Cláudia Rose, diretora do Museu da Maré, as pessoas precisam se unir em meio à pandemia para forçar de dentro para fora ações concretas. A jornalista Gizele Martins explica como os comunicadores de favela têm orientado a população
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247 - Em entrevista à TV 247, conduzida por Dafne Ashton e Andréa Trus, as lideranças do Complexo da Maré Cláudia Rose e Gizele Martins trataram da vulnerabilidade da população dos territórios de favelas e abordaram alguns planos de ação no contexto atual, em meio à pandemia do coronavírus.
Cláudia Rose, diretora do Museu da Maré, destacou o fato de alguns corpos serem descartados nesse contexto, lembrando que algumas vidas não têm importância, o que não é novidade para os moradores de favela, segundo ela. “A gente sabe ao longo da história, pessoas, grupos sociais, sempre foram colocados como grupos descartáveis, então são pessoas que podem morrer e que não vão fazer falta”, disse. O que difere historicamente, acrescentou, é que agora as pessoas não têm mais vergonha de dizer isso publicamente, vão para as redes sociais, inclusive autoridades que deveriam estar trabalhando para construir alternativas e ações concretas para apoiar essas comunidades são justamente as que incentivam essas ações.
“É natural que diante dessa calamidade, em que você não sabe quem vai sobreviver, quem dentro de uma comunidade vai poder ser imunizado ou não, que as pessoas comecem a se revoltar. Uma convulsão social sem controle. Aí você tem um descontrole das elites, que começam a falar o que elas pensam. Hoje o que a gente tem é a total ausência de uma política clara junto à comunidade de emergência, com ações emergenciais do poder público junto à comunidade”, afirma a diretora do Museu da Maré.
Segundo Cláudia Rose, de alguma forma, essa barreira vai ser quebrada, porque uma pandemia se impôs e as pessoas precisam se unir para forçar de dentro para fora ações concretas. Nesse caso, em sua avaliação, cestas básicas não são assistencialismo, e sim uma necessidade, porque há pessoas passando fome por conta da pandemia. Ela ressalta, no entanto, que isso não é suficiente. “A gente tem que ter políticas públicas emergenciais, grupos e instituições vão ter que se unir para forçar esse poder público a atuar nesse território”.
A jornalista Gizele Martins, ativista e comunicadora comunitária, ressalta que os moradores de favelas e periferias são descartados a todo momento. São 120 anos de favelas e 120 anos de luta pelo direito básico à saúde, educação, moradia, saneamento e o “direito à vida, um direito que a gente não tem”. “E a população é a que mais sofre diante de uma política de segurança, de saúde, educação, enfim, todas essas políticas que não atendem a gente, e o direito à vida ainda é um direito a ser conquistado”, acrescentou.
Gizele fala também sobre o papel dos comunicadores no sentido de orientar a população sobre a importância do isolamento, de acordo com a realidade desse território. “A ação dos comunicadores comunitários, que trabalham aqui há 20 anos, foi adaptar as informações vindas da imprensa para poder chegar na favela”, explicou.
“Vale lembrar que nem todos têm acesso à internet, televisão, leitura... então a gente pensou na linguagem, formato, ferramentas de comunicação, de forma cautelosa e com orientação dos profissionais de saúde da Maré, alugamos um carro de som para passar pela Maré, ressaltando que a Maré tem 16 favelas, quase 140 mil moradores. A gente precisa atingir esses moradores, necessitamos aumentar e melhorar essa comunicação”, disse.
“Falamos sobre os sintomas, os cuidados, sobre solidariedade, falamos da importância de quando procurar o hospital. Fizemos faixas com informações sobre a campanha, sobre hospitais e colocando as dúvidas dos próprios moradores sobre assuntos específicos da favela, como o trabalho informal, como higienizar a casa, produtos de limpeza, enfim, dúvidas que aparecem no dia a dia da favela. Fizemos cartazes para colocarmos nas igrejas, bares, supermercados, comércio, sem distribuição de panfletagem, porque aumenta o risco de contaminação”, detalhou.
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