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Jacarezinho: 'Só vejo isso no Brasil e em locais com guerra civil, como Síria e Afeganistão', diz coronel reformado da PM

Ao 247, o coronel José Vicente da Silva Filho destaca que “o policial morreu logo no começo da operação", o que se leva a esperar "uma saraivada de mortes do outro lado como resposta exemplar vingativa”

José Vicente da Silva Filho, coronel reformado da PM-SP (Foto: Reprodução)
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Por Paulo Henrique Arantes, para o 247 - Nem todo policial é desumano e desconhecedor do seu real papel. O coronel reformado da PM paulista José Vicente da Silva Filho é um policial nato, e justamente por amor à carreira contesta a atuação da unidade de operação ostensiva fluminense que matou 27 cidadãos no bairro no Jacarezinho na última quinta-feira (6). Um policial também morreu no local, totalizando 28 mortos na ação. A primeira contagem divulgada - pela OAB - havia sido de 25 mortos. A Polícia Civil, responsável pela operação, só divulgou um número no dia seguinte. Trata-se da maior chacina da história da cidade do Rio de Janeiro.

Silva Filho não entra no debate político sobre o motivo da ação homicida, mas analisa, como estudioso do tema, os aspectos técnicos e suas falhas de execução. Não foram poucas.

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“O policial morreu logo no começo da operação, e aí já se sabe, pelos hábitos da polícia do Rio de Janeiro, que haveria uma saraivada de mortes do outro lado como resposta exemplar vingativa. Isso costuma acontecer no Rio, conforme levantamento do Instituto Igarapé”, afirmou Silva Filho ao Brasil 247. O estudo ao qual o coronel se referiu mostra que a morte de um policial aumenta em 10 vezes, no mesmo dia, a quantidade de homicídios no local de ação; e aumenta 4,5 vezes a quantidade de homicídios na cidade no dia seguinte.

José Vicente da Silva Filho, ou Coronel José Vicente, como é chamado pelos pares, foi secretário nacional de Segurança Pública (governo Fernando Henrique Cardoso) e costuma reconhecer, com a mesma veemência, erros e acertos da polícia. Graduado em Psicologia e mestre em Psicologia Social pela USP, já prestou consultoria em segurança para o Banco Mundial, a Febraban, a Fiesp e os governos de Pernambuco, Bahia, Amazonas e Acre. Tem mais de 200 artigos publicados em veículos especializados e na imprensa em geral.

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Ele destaca que as ações que resultam em letalidade no Rio de Janeiro vêm recrudescendo neste ano. Em 2020, foram nove operações com 31 mortos. Em 2021, já são 19 operações com 71 mortos.

“No caso Jacarezinho, a ação da Polícia Civil era destinada exclusivamente a executar 21 mandados de prisão, principalmente de criminosos que estavam arrecadando adolescentes para trabalhar para o tráfico. Eles estavam investigando, e foram lá para prender essas pessoas. Desses 21 mandados, acabaram cumprindo três”, nota Silva Filho.

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Normalmente, o serviço de inteligência que antecede uma operação policial deveria avaliar todo o potencial de reação à entrada dos policiais no território, e o potencial de perigo não só para os policiais, mas para os moradores que podem estar no meio do fogo cruzado.

“Se houve uma reação tão intensa, um tiroteio de mais de seis horas, é porque avaliaram mal as possibilidades de reação dos criminosos à entrada da polícia. Mesmo assim, eles foram com 250 homens de uma unidade operacional de polícia ostensiva explícita, que é a chamada Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). Eles se vestem como militares, usam armas militares, helicóptero militar, enfim, fazem um trabalho que poderia ser feito pela PM e esse contingente poderia estar fazendo investigação para cuidar do crime organizado, inclusive a entrada de armas e drogas nas comunidades”, pondera o coronel reformado.

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Silva Filho não ficou indignado apenas com a incompetência operacional da polícia fluminense, mas também com o absoluto desconhecimento das leis demonstrado por autoridades da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, que de pronto alegaram que, afora o policial, todos os mortos eram criminosos, ganhando eco nas palavras impróprias do vice-presidente da República, General Hamilton Mourão, para quem “eram todos bandidos”.

“Dizer pura e simplesmente que eles eram criminosos não justifica matá-los, principalmente quando se sabe que muitos desses mortos não representavam perigo nenhum. A polícia tem o compromisso legal de observar as leis. Observar a lei significa atirar quando há uma situação de legítima defesa, por isso policiais usam armas no mundo todo. No Jacarezinho, houve um conjunto de mortes nunca visto no Brasil. Eu confesso que nunca vi algo desse tipo em nenhum lugar do mundo todo - e visitei muitos países estudando isso -, a não ser em locais de guerra civil, como a Síria e o Afeganistão”, diz Silva Filho.

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“Mesmo se fossem todos bandidos, não caberia à polícia matá-los - não temos pena de morte. O Ministério Público do Rio de Janeiro tem a enorme responsabilidade de investigar, acompanhar as perícias, ouvir todas as testemunhas que viram as ações policiais”, finaliza.

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