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Sudeste

Média móvel de mortes por Covid-19 sobe 150% em duas semanas no Rio

O estado do Rio chegou no domingo (10) à maior média móvel de mortes por covid-19 desde 24 de junho, com mais de 160 vítimas por dia em um período de sete dias, de acordo com a Fiocruz. O patamar representa um aumento de mais de 150% em 14 dias

Paciente com Covid-19 em hospital de campanha no Rio de Janeiro (RJ) (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)
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Por Vinícius Lisboa - repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

O estado do Rio de Janeiro chegou no domingo (10) à maior média móvel de mortes por covid-19 desde 24 de junho, com mais de 160 vítimas por dia em um período de sete dias, segundo o painel MonitoraCovid-19, atualizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O patamar representa um aumento de mais de 150% em 14 dias e preocupa especialistas ouvidos pela Agência Brasil, que temem um novo pico da pandemia. 

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A alta da média de óbitos confirmados entre 27 de dezembro e 10 de janeiro ocorreu em nível nacional e reflete o desrespeito às medidas de prevenção à covid-19 em uma série de eventos, segundo o pesquisador Diego Xavier, integrante do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT) da Fiocruz. O crescimento médio dessa taxa no Brasil, no entanto, foi de cerca de 84%, enquanto no Rio de Janeiro chegou a 154%. Outros estados como Ceará (264%) e Amazonas (239%) tiveram aumentos ainda mais expressivos em termos percentuais.

"Esse aumento indica que a gente falhou. A gente teve alguns eventos bastante capilarizados que fizeram com que a doença se espalhasse de forma bastante acelerada, como a eleição, as compras de final de ano, Natal, Ano Novo, as férias. As pessoas se movimentaram muito nesse fim de ano, e, à medida que se movimentaram, o vírus se espalhou", afirma o pesquisador, que lembra que o cenário havia sido previsto por uma nota técnica publicada pela Fiocruz no mês passado. "Se a gente for pensar no Natal, é uma festa muito capilarizada. Todo mundo comemora o Natal em família. E a maioria das famílias têm pessoas do grupo de risco, como os idosos".

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A média móvel de mortes é calculada por meio da soma dos óbitos confirmados nos últimos sete dias, dividida por sete. O indicador é considerado importante para reduzir as oscilações diárias de notificações e se aproximar de uma tendência da pandemia. Além disso, mortes são consideradas pelos especialistas menos sujeitas à subnotificação do que as infecções, já que são mais investigadas. As contaminações, por sua vez, muitas vezes não são testadas ou se dão de forma assintomática.

Restrições

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Xavier recomenda que novas medidas restritivas sejam adotadas para conter a subida da curva de óbitos no estado, mas alerta que a fiscalização é essencial para que elas tenham efeito. "A gente entende que a população está cansada, mas a gente pede que se faça essa reflexão. Se a gente está cansado dentro de casa, imagine o profissional de saúde que está em uma UTI [Unidade de Terapia Intensiva]", pede ele, que defende medidas compartilhadas entre municípios que façam parte da mesma região de saúde, como o Rio e a Baixada Fluminense.

"O vírus não respeita limites administrativos nem respeita decretos. Os decretos são para as pessoas. E as pessoas só vão respeitar decretos se eles forem fiscalizados. A gente precisa, sim, de medidas mais restritivas e impopulares para conseguir diminuir o contágio."

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Apesar do aprendizado dos profissionais de saúde na assistência aos pacientes com covid-19 em quase um ano de pandemia, o pesquisador acredita que a capacidade de resposta a um novo pico também teria algumas desvantagens em comparação com abril e maio do ano passado. "Agora tem um agravante, porque a gente tinha uma mobilização da população, tinha recursos extras de UTI e equipamentos nos hospitais de campanha e equipes de saúde mais motivadas."

Assim como Diego Xavier, a pesquisadora Chrystina Barros, do Centro de Estudos em Gestão de Serviços de Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), alerta que os dados ainda não refletem todo o resultado das aglomerações registradas no fim ano. "Nosso verão convida as pessoas à rua, e as pessoas começam a subestimar o poder do vírus, achando que, por estarem ao sol, em ambiente aberto, não vão pegar a doença. Na verdade, o que se tem é uma combinação de fatores. O ambiente realmente vai ser mais seguro quanto mais ventilado for,  mas, se o comportamento das pessoas não for adequado, joga-se tudo por água abaixo. E é o que tem acontecido no Rio", afirma ela. "O Rio de Janeiro chegou em um tal ponto que pode ser, sim, que a gente passe por um tempo pior do que abril e maio."

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Para evitar o agravamento da pandemia, Chrystina Barros reforça a recomendação de mais medidas restritivas feita no início de dezembro pelo Grupo de Trabalho Multidisciplinar para o Enfrentamento da Covid-19, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), como a ampliação do número de leitos e da testagem, a suspensão de eventos e a limitação do horário de funcionamento dos estabelecimentos, com fiscalização rigorosa. "Em dezembro, lançamos uma nota indicando medidas mais restritivas. Quanto mais o tempo passa, mais restritivas elas precisam", afirma a pesquisadora. "A gente tem um problema sério que é o transporte público, sem dúvida nenhuma. Mas não é porque o ônibus está lotado que a gente tem que ter tolerância com os bares lotados".

A elevação da média móvel de mortes, na avaliação dela, é o indicador mais grave entre outros dados, como a taxa de de transmissão, calculada pelo GT da UFRJ. O índice chegou a 1,27 para o estado do Rio de Janeiro com base em dados do final de dezembro, o que significa que cada 100 casos contagiavam mais 127. 

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"É fato que o Rio de Janeiro vem consistentemente aumentando o número de óbitos, mas eles são apenas a ponta e o indicador mais grave".   

Procurada pela Agência Brasil, a Prefeitura do Rio de Janeiro afirmou que pretende abrir 343 leitos e já disponibilizou 150 deles no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla e no Hospital Municipal Souza Aguiar. O poder municipal acrescentou que pretende aumentar a testagem, com ao menos 450 mil pessoas testadas inicialmente, em um processo que contará com o aplicativo Rio Covid-19 para a autonotificação e o agendamento do teste, caso seja indicado.

Na semana passada, o prefeito, Eduardo Paes, anunciou que pretende adotar restrições de forma localizada, de acordo com o risco de contágio de cada região administrativa da cidade. No boletim divulgado na semana passada, 18 regiões tinham situação de risco considerada alta, 15, moderada, e nenhuma foi considerada de risco muito alto.

Já o governo do estado não respondeu até o fechamento dessa reportagem. Segundo dados informados ontem pela Secretaria de Estado de Saúde, desde o dia 4 de dezembro foram realizados 24.419 testes de RT-PCR nas quatro unidades abertas pelo estado para agendamento por meio de um aplicativo para celular: o Hospital Estadual Alberto Torres e a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Colubandê, em São Gonçalo; o Hospital Regional do Médio Paraíba Dra. Zilda Arns, em Volta Redonda; e a UPA Campo Grande II, na zona oeste da capital.

A secretaria estadual também anunciou na semana passada a intenção de iniciar nesta semana a regulação única dos leitos de covid-19 no Sistemka Únido de Saúde. Outra previsão é a abertura do Hospital Modular de Nova Iguaçu, que deve ocorrer ainda neste mês, com 150 leitos. 

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