São Paulo anuncia reabertura do comércio e pesquisador compara relaxamento a 'abatedouro'
A capital do estado de São Paulo se aproxima dos 5.000 óbitos em decorrência da Covid-19, mas vai reabrir o comércio. Prefeitura diz que sistema de saúde não sofrerá colapso
247 - Depois das concessionárias e escritórios, a capital paulista reabre nesta quarta-feira as imobiliárias e o comércio em geral. O prefeito Bruno Covas (PSDB) anunciou a reabertura de lojas de rua a partir de quarta-feira, e de todos os 57 shoppings da capital a partir de quinta-feira.
O anúncio ocorre em um momento em que a cidade passa dos 80.000 infectados pelo coronavírus e se aproxima dos 5.000 óbitos notificados em decorrência da doença —a cidade ainda investiga outras 4.588 mortes suspeitas de terem sido provocadas pela pandemia. Para o professor de medicina Domingos Alves, responsável pelo Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medina da USP de Ribeirão Preto, o passo dado em direção ao relaxamento da quarentena acendeu um alerta vermelho. “Estamos mandando a população para o abatedouro”, afirmou ao El País.
A reabertura do comércio já era uma etapa da retomada prevista desde o final do mês passado, quando o Governador João Doria (PSDB) anunciou o Plano São Paulo de reabertura da economia. Na programação do Governo, o Estado fora subdividido em regiões, cujas etapas de retomada – cinco, no total – seriam seguidas em momentos diferentes, dependendo da evolução da pandemia. Naquele momento, um grupo de 66 pesquisadores reunidos em duas plataformas de pesquisa, a Covid-19 Brasil e a Ação Covid-19 emitiu uma nota técnica questionando as medidas anunciadas e os dados nas quais elas se embasavam.
O Governo, tanto estadual como municipal, sustenta por sua vez que as taxas de ocupação dos leitos de UTI estão caindo. Nesta terça-feira, a taxa de ocupação dos leitos de UTI eram de 66% no Estado e de 67% na capital —onde as autoridades afirmam que o sistema de atendimento já não corre risco de colapso como entre abril e maio. Além disso, o poder público avalia que o Estado está “se aproximando de um platô” tanto no número de novos casos, como no de óbitos, como afirmou na segunda-feira Carlos Carvalho, coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, durante entrevista coletiva.
Mas os números não apontam para essa possível estabilização, já que a curva de novos casos no Estado ainda é uma crescente. “Seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde e as recomendações adotadas em todo o mundo, de jeito nenhum lugares que tenham parâmetros epidemiológicos crescendo poderiam fazer qualquer tipo de relaxamento”, afirma Domingos Alves, que faz parte do grupo Covid-19 Brasil.
