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Saúde

A lição norte-americana do que (não) fazer nas festas de fim de ano

Celebrações do Dia de Ação de Graças ajudaram a aumentar os casos de Covid-19 no Canadá e nos Estados Unidos

(Foto: Reprodução/Twitter)
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Frederico Cursino, da Agência Einstein - Qual será o impacto das festas de fim de ano na pandemia da Covid-19 no Brasil? A resposta ainda parece exigir um certo exercício de futurologia. Mas dois eventos recentes – os feriados do Dia de Ação de Graças no Canadá e nos Estados Unidos – indicam que, sim, as datas de confraternização podem contribuir para o aumento da propagação do novo coronavírus, e que, considerando a tendência nesses dois países, o Brasil pode assistir ao crescimento ainda maior das notificações de casos e mortes nas primeiras semanas de 2021.

O primeiro exemplo foi o Canadá, onde o feriado, comemorado desde o século XVI como forma de “gratidão” pelas colheitas de outono, acontece em 12 de outubro. Segundo estatísticas oficiais daquele país, até aquela data, havia uma curva ascendente que atingira cerca de 2 mil novos casos diários de Covid-19 na véspera da celebração. A taxa de transmissão (Rt) era então de 1,04 (dados do laboratório Mivegec), o que significa que cada 100 pessoas com o vírus infectavam outras 104. 

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O efeito viria duas semanas depois, quando a taxa de transmissão subiu para 1,18. E foi preciso mais um mês para que ela retornasse ao patamar anterior ao do Dia de Ação de Graças. Atualmente, os casos de Covid-19 no Canadá seguem em alta, com mais de sete mil notificações por dia, o que fez com que províncias como Ontário decretassem um novo lockdown. 

Em entrevista à revista americana Time, a epidemiologista Laura Rosella, que é professora da Escola de Saúde Pública da Universidade de Toronto, explicou que o pico de contaminação alcançado nas duas semanas seguintes ao Dia de Ação de Graças confirma a tese de que o feriado ajudou a disseminar a doença: “O período [de duas semanas] é consistente com o tempo de incubação, quando as pessoas mostravam sintomas e eram reportadas”. A constatação, segundo ela, foi reforçada pelas informações do rastreamento de contato, que mostraram que as reuniões naquela data resultaram diretamente na maior disseminação viral.

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Um estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças em Toronto trouxe um exemplo do impacto dos encontros de Ação de Graças. O caso relatado se trata de uma pessoa que, apesar de apresentar sintomas da Covid-19, compareceu a uma reunião com 12 parentes. Na sequência, dez membros daquela família – incluindo três crianças – testaram positivo para o vírus. 

A lição canadense ligou o alerta nas autoridades de saúde dos Estados Unidos, onde o feriado é comemorado pouco mais de um mês depois (26 de novembro). Mas a série de recomendações para evitar viagens e aglomerações não teve muito efeito: apenas os aeroportos daquele país registraram um movimento de cerca de 1 milhão de pessoas na véspera da Ação de Graças. Duas semanas depois, os números da doença bateram recorde: mais de 230 mil novos casos por dia e aumento de 30% das mortes diárias – ultrapassando, pela primeira vez, os três mil óbitos. 

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“E a conta do Dia de Ação de Graças nem chegou ainda”, alertou, em entrevista ao canal CBS, Anthony Fauci, que é diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, órgão ligado departamento de Saúde do governo norte-americano. “Estamos recebendo um número impressionante de novos casos e hospitalizações antes mesmo de sentirmos todo o impacto do feriado”, completou. 

No Brasil, os feriados de novembro (Finados, Proclamação da República e Consciência Negra) deixaram o primeiro recado do estrago que o relaxamento pode causar. Na ocasião, as viagens e aglomerações pelo País elevaram a taxa de transmissão para 1,30 (dados da Imperial College de Londres), a maior desde maio. Resultado: leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) novamente sobrecarregados e aumento da média móvel de mortes pela Covid-19. 

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O presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Juarez Cunha, explica que, mesmo o País apresentando uma taxa de isolamento distante dos 70% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), os feriados tendem a agravar o controle da doença. Com o maior descolamento de pessoas, a adesão ao isolamento, que já é pequena, diminui ainda mais.

Cunha acrescenta que as características das festas de fim de ano – especialmente o Natal – tornam o quadro ainda mais preocupante. Isso porque os jovens, mais expostos ao vírus no dia a dia, irão se reunir com pessoas mais velhas, em ambientes fechados, e com pouca – ou nenhuma – proteção:

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“Atualmente, a disseminação da doença é maior entre os jovens, que estão se expondo mais.  Mas eles se esquecem que, ao checar em casa, estão levando a doença para transmitir pessoas mais vulneráveis, e isso piora se pensarmos em uma reunião familiar como o Natal. Nesta hora, não podemos ser egoístas”, afirma.

O infectologista Hélio Bacha, do Hospital Israelita Albert Einstein, sugere que o caminho mais seguro para este Natal e Ano Novo é não fazer festas. Celebrações, apenas dentro do próprio círculo doméstico, uma vez que o descolamento entre cidades, e aglomerações em espaços fechados, envolvendo pessoas de diferentes faixas etárias, são uma somatória nefasta que levarão ao agravamento ainda maior da pandemia no País.

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“As ceias são feitas com contato desprotegido. As pessoas comem ao redor da mesa, falam alto, cantam... isso é normalmente muito simpático e essencial para as relações familiares, mas, nesta condição especial que vivemos, nos deixa fragilizados perante a transmissão”, explica Bacha. 

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