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Saúde

Com diferentes formas de transmissão e tratamento, hepatites virais somam 40 mil casos no Brasil

Combate à doença subdiagnosticada requer conhecimento e acesso à saúde

(Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
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Por Cristiane Bomfim, da Agência Einstein - Em um país em que quase metade dos domicílios – 34,1 milhões – não tem acesso à rede de tratamento de esgoto, 36 milhões de pessoas sequer chegam perto da água tratada, e que apenas 56,6% dos jovens com idade entre 15 e 24 anos usam preservativo, eliminar as hepatites virais até 2030, como é a meta do Ministério da Saúde, é missão quase impossível. No ano passado, de acordo com o órgão, foram notificados 37.773 casos da doença, que pode ser causada por cinco tipos de vírus: A, B, C e D. E apesar de em longo prazo destruírem o tecido do órgão, cada uma delas tem sua própria forma de transmissão e tratamento. O tipo A, por exemplo, é transmitido por água e alimentos contaminados. Já o tipo C, pela exposição ao sangue infectado. 

Responsáveis por 1,3 milhão de mortes por ano no mundo, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), as hepatites virais são inflamações que aos poucos matam as células do fígado e as transformam em cicatrizes que enrijecem o tecido, chamadas de fibrose. Sem apresentar sintomas, a evolução é, na maioria dos casos, silenciosa. Por isso, muitas vezes é descoberta quando está em estágio avançado, já com o comprometimento da função do fígado, cirrose ou mesmo o câncer. E embora os vírus sejam os principais causadores da hepatite, ela também pode ser resultado do uso de substâncias tóxicas (como alguns remédios), exagero no consumo de álcool e doenças autoimunes, genéticas e metabólicas.

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“Não acho que seja possível acabar com casos de hepatites virais no país, especialmente porque elas ainda são subnotificadas. O maior desafio é identificar as pessoas que estão doentes. Além de questões como acesso à saneamento básico, uso de drogas e sexo inseguro, uma grande parte da população não tem acesso aos serviços de saúde e nem informação de qualidade”, afirma Márcio Dias de Almeida, hepatologista e coordenador do programa de transplantes hepáticos do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. 

Apesar da subnotificação, o médico diz que o Brasil avançou na oferta de tratamento médico para a população diagnosticada com algum tipo de hepatite. “Houve um investimento na disponibilização de medicamentos para as hepatites”. De acordo com relatório do Ministério da Saúde, em 2020 o Brasil zerou a fila de tratamento. Para a hepatite C, por exemplo, o órgão afirma que “realizou pregão para aquisição de mais de 50 mil tratamentos, o que garante abastecimento até 2021”. 

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A doença é a mesma, mas a gravidade dos sintomas, formas de transmissão e prevenção e distribuição geográfica mudam de acordo com o vírus. Com 97,2% (o que equivale a 36.718) dos casos registrados no ano passado, os tipos B e C, por exemplo, são mais frequentes na região Sudeste, com 34,5% e 59,3%, respectivamente. Enquanto a Hepatite B tem como principal forma de contaminação o sexo inseguro, o tipo C é transmitido com mais frequência pelo contato com sangue infectado, como por exemplo, no compartilhamento de agulhas. Já a hepatite tipo A é bem mais comum no Nordeste.

O médico do Einstein lembra que entre a infecção causada por algum dos vírus da hepatite (que podem evoluir para forma crônica e em especial o C), e o aparecimento dos sintomas pode haver uma lacuna de duas ou três décadas. “Por isso, a forma mais importante de reduzir os casos é a conscientização da população e a busca ativa nos grupos de risco”, diz. 

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A diferença entre as principais hepatites virais no Brasil

Hepatite A: na maioria dos casos é uma doença benigna e autolimitada, ou seja, ocorre em quem está infectado em um período determinado e limitado. Com transmissão fecal-oral, a doença tem grande relação com alimentos e água contaminados e baixos níveis de saneamento básico e higiene. No Brasil, os casos estão concentrados nas regiões Norte e Nordeste, com 55% do total registrado entre 2009 e 2019. Não há tratamento específico para este tipo de hepatite, mas desde 2014 o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece a vacina para crianças com idade a partir de 12 meses que não tiveram contato com o vírus. Sugere-se que aqueles que ainda não possuam anticorpos contra a hepatite A (sorologia positiva), se vacinem.

Hepatite B: classificada como uma infeção sexualmente transmissível, o vírus da Hepatite B (HBV) pode ser adquirido principalmente pelo contato com sangue infectado, sêmen e outros fluidos corporais. Também pode ser transmitido no momento do parto de mães infectadas para bebês ou por meio de transfusões de sangue e agulhas contaminadas no caso de uso de drogas injetáveis ou no momento de produção de tatuagem. Segundo Boletim epidemiológico do Ministério da Saúde para a doença, entre 1999 e 2019 foram confirmados no país 247 mil casos da doença, a maioria na região Sudeste (34,5%). 

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Em mais de metade dos casos a inflamação desaparece naturalmente a depender da idade de contaminação e a resposta da imunidade do indivíduo. No restante, ela ocorre, na maioria das vezes, de forma silenciosa e os sintomas como cansaço, tontura, enjoo, vômitos, febre e dor abdominal podem aparecer na fase aguda da doença. Já complicações relacionadas à ocorrência de fibrose e comprometimento da função do fígado, podem se manifestar por hemorragias, ascite (água na barriga), encefalopatia (confusão mental) e mesmo o aparecimento de câncer no fígado (muitas vezes sem ocasionar sintomas), sendo que isso pode ocorrer décadas após contaminação. Em 1/3 da população com a doença é observada pele e olhos amarelados. 

Prevista no calendário de vacinação infantil, a vacinação é a principal medida de prevenção contra a hepatite B. Auxiliam na prevenção da doença o sexo seguro, o não compartilhamento de agulhas e objetos pessoais como lâminas de barbear e de depilação. 

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Já o diagnóstico é feito por meio de exames de sangue, e desde 2011 a rede pública de saúde oferece testes rápidos para sua detecção. O tratamento consiste no uso de medicamentos antivirais oferecidos gratuitamente pelo SUS. Eles não curam a infecção causada pelo vírus tipo B na maioria dos casos, mas são capazes de retardar a progressão da cirrose e reduzir a incidência de câncer de fígado, melhorando a sobrevida do paciente em longo prazo. Por isso, seu uso é contínuo.

Hepatite C: É a mais comum no Brasil e no mundo e é considerada uma epidemia pela OMS. Só no Brasil, foram mais de 384 mil diagnósticos positivos entre 1999 e 2019 e mais prevalente nas regiões Sul e Sudeste e em pessoas acima dos 40 anos. 

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A formas mais comum de infecção pelo vírus da Hepatite C (VHC) é a exposição à pequenas quantidades de sangue. Isso pode ocorrer pelo uso de drogas injetáveis, práticas de injeção inseguras, transfusão de sangue e, com menos frequência por atividades sexuais que levam à exposição ao sangue. 

A doença se caracteriza por uma inflamação persistente no fígado. Aproximadamente entre 60% e 85% dos casos se tornam crônicos e 20% evoluem para cirrose hepática. Embora não exista vacina para este tipo de hepatite, a boa notícia é que com tratamento medicamentoso – que tem duração entre 8 a 24 semanas –, mais de 95% dos pacientes são curados. Por isso é importante o diagnóstico precoce, que pode ser feito a partir de exames de sangue de rotina ou no processo de doação de sangue. 

“Não há vacina para a hepatite C e a cura não significa que o indivíduo não corre mais risco de se contaminar. Caso haja a reinfecção, o tratamento é feito novamente”, explica o médico do Einstein.

Hepatite D: provocada pelo vírus HDV, ela só acomete pessoas já infectadas pelo vírus do tipo B. Por isso, a vacinação contra a hepatite B é uma das formas de prevenção.  É considerada a forma mais grave das hepatites virais, pois tem progressão rápida para a cirrose e maior risco de evolução para câncer de fígado.

O contágio pode ocorrer por relações sexuais com pessoas infectadas sem uso de preservativo, de mãe para filho na gestação ou no parto, pelo compartilhamento de objetos cortantes e seringas, transfusões de sangue e qualquer outro contato com sangue infectado. O tratamento não cura a doença, mas ajudam no controle dos danos causados por ela ao fígado. 

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