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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Volte logo, José Lutzenberger

A destruição do Rio Grande do Sul reaviva o que foi ensinado por um ambientalista gaúcho nos anos 70, escreve o colunista Moisés Mendes

José Lutzenberger e seu gato Godofredo (Foto: Ricardo Chaves/ZH)
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José Lutzenberger, o maior ambientalista brasileiro, disse um ano antes de morrer que gostaria de voltar à Terra a cada 50 anos. Sentado numa choupana do seu paraíso no Rincão Gaia, com o gato Godofredo como testemunha, contou que viria só para olhar, sem interferir em nada.

Lutz morreu em 2002, aos 75 anos. Imaginei agora a cena em que ele, voltando antes do prazo previsto, ficaria diante da ministra Marina Silva, que esteve com Lula na quarta-feira no Estado.

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Marina teria que admitir a Lutz que estamos perdendo e que a situação piorou. Está pior no Brasil todo e em particular no Rio Grande do Sul, que vive a sua grande tragédia provocada pelos chamados eventos climáticos. Tragédias que o homem produz.

Morre e desaparece gente em um terço do Rio Grande Sul alagado. Muitos dos que se salvarem não terão como voltar para onde moravam, porque seus lugares não existirão mais ou estarão condenados a nova invasão das águas.

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Lutz ficaria sabendo, pelos relatos de Marina e de ativistas do Rio Grande Sul, que o Estado perdeu sua índole ambientalista. A índole que Lutz formou ao lado dos que eram vistos na época, nos anos 70, como guerrilheiros da luta ecológica.

Lutz, Augusto Carneiro, Magda Renner, Giselda Castro, Hilda Zimmermann criaram, em 1971, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) e ganharam projeção mundial. Marina Silva tinha 12 anos e não sabia de nada dessa luta. Greta Thunberg nasceria 32 anos depois.

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Lutz era cercado de mulheres de combate. Chico Mendes defendia a Amazônia e os povos e bichos da floresta. Lutz tentava defender campos e cidades das agressões de todas as poluições. Enxergava tudo, as pessoas, os bichos, a terra, as águas, o ar.

Era lindamente irascível, às vezes impositivo demais, quase sempre tinha pressa. E contava com a cumplicidade valente das vozes femininas.

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Giselda Castro fez, nos anos 70, o que os estudantes americanos fazem agora, ao exigir que os governos, as universidades, as empresas e os organismos mundiais cortem vínculos com armamentistas envolvidos na matança em Gaza.

Giselda era ouvida no Exterior ao apelar para que instituições como o Banco Mundial deixassem de liberar empréstimos a governos e empresas que atentassem contra o meio ambiente.

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Todos, Lutz, Carneiro, Giselda, Magda, Hilda e outros pioneiros do que chamavam de ecologismo já se foram. A Agapan ainda existe, mas a índole ambientalista gaúcha só inspira alguns bravos.

Não temos mais as nossas Gretas Thunberg com aquele perfil dos anos 70, e o Rio Grande do Sul vai sendo destruído, agora pelas chuvaradas e pela índole egoísta do negacionismo do clima.

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O governador Eduardo Leite, que percorre o Estado fantasiado com um colete laranja da Defesa Civil, quase desmontou essa mesma Defesa Civil, desprezada e estrangulada pela falta de verbas no seu primeiro governo.

Foi Leite quem tomou a iniciativa de enviar à Assembleia Legislativa, em 2020, o projeto que mudou o Código Estadual Ambiental, para que as empresas se concedessem autolicenciamentos.

O empresário preenche um cadastro e se autolicencia, assumindo que vai cuidar daquilo que ele mesmo pode agredir e degradar. Sob o olhar de uma fiscalização cada vez mais precária.

Agora, em março, a Assembleia aprovou outro projeto que escancara a porteira para a boiada. Uma lei que “flexibiliza” a legislação ambiental para a construção de barragens e açudes em Áreas de Preservação Permanente, as APPs.

O autor do projeto atacado pelos ambientalistas é o deputado Delegado Zucco, do Republicanos, o mesmo partido do general senador Hamilton Mourão. O delegado é irmão do deputado federal Coronel Zucco, aquele da CPI do MST. Todos são dos agrupamentos de extrema direita da base do primeiro governo Leite.

Se retornasse ao Rio Grande que tentava proteger, Lutz também ficaria sabendo que não há, no programa do segundo governo Leite, registrado na Justiça Eleitoral, uma linha sobre questões ambientais. Nada.

Se voltasse hoje, Lutz diria, com seu jeito sincero e direto, que Leite só poderia continuar usando o colete da Defesa Civil se assumisse o compromisso de rever tudo o que fez contra o meio ambiente, incluindo a venda da Corsan, a empresa de água e saneamento do Estado, pela metade do preço.

Volte logo, Lutz. O Rio Grande negacionista precisa levar um pito, porque eles tomaram conta de quase tudo. Traga junto Augusto Carneiro, Giselda, Hilda, Magda e Godofredo.

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