Lula e Bolsonaro

A coragem de Lula e a covardia de Bolsonaro

Graças ao presidente Lula, que tem agido com frieza e serenidade numa situação instável, existem condições políticas para levar ao banco dos réus Bolsonaro e os oficiais golpistas

A passagem dos sessenta anos do infausto golpe militar de 1⁰ de abril de 1964, realizado então com apoio da imensa maioria dos veículos de comunicação, exige uma reflexão sobre os dois principais antagonistas políticos da história recente, Lula e Bolsonaro, e suas posições em relação à coragem, essa virtude cardeal, e seu vício oposto, a covardia.

Bolsonaro jacta-se de ser defensor dos atos e do legado do regime de 64, instalado com a violenta supressão do processo democrático então em curso e marcado pela sucessão de graves violações de direitos humanos cometidos pelo regime ditatorial. 

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Ameaças, cassações, demissões, prisões, sequestros, torturas, mortes, desaparecimentos, além de todo tipo de arbitrariedades, constituíram um sistema opressivo oriundo da caserna e do meio civil. Contra as sobrevivências desta máquina, a sociedade brasileira, desde o primeiro dia daquele regime, a duras penas, vem ao longo das décadas tentando resistir, lutar, ajustar contas, reparar, fazer justiça, superar, enfim, à medida que o tempo passa e se sucedem as conjunturas históricas. 

O Brasil deve prestar honras aos heróis e heroínas dessa luta. Deve sempre lembrar de cada uma das milhares de vítimas ao longo dessa caminhada. No plano político,  porém,  o representante maior dessa esperança democrática, aquele que se ofereceu e mereceu já há mais de duas décadas, a confiança dos brasileiros para ser o personagem que encarna a valentia de enfrentar a ditadura e sua herança, chama-se Luiz Inácio Lula da Silva.

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É uma condição auspiciosa que o país disponha de alguém com o apoio e a coragem de Lula para se prestar a ser a referência dos objetivos nacionais nesta quadra histórica.  Personagens como ele são raros porque são decisivos. Reúnem em si o apoio e a sabedoria para decidir sucessivas disputas apertadas, como eleição e golpe.

Em contraposição, ao passo que avançam as investigações, o país vem assistindo em capítulos o antípoda de Lula, Jair Bolsonaro. Cada vez mais ele é desnudado como autor, promotor e comandante material da vil tentativa de golpe de Estado para impedir primeiro a posse e depois destituir o governo eleito de Lula, o que culminou nas invasões dos prédios dos três poderes em 8 de janeiro de 2023.

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Para escapar das consequências de sua incerta  tentativa, Bolsonaro chegou a ordenar a falsificação de seu cartão de vacinação contra a Covid-19. Fugiu assim, em 30 de dezembro, nas vésperas da posse de Lula, para os Estados Unidos, em meio a tentativas de desfechar um levante militar contra as urnas, com apoio de generais do Alto Comando e de tropas do Exército e do chefe da Marinha.

Ao fugir, Bolsonaro foi um "covardão", nas palavras de Lula. Este tomou posse em meio, a uma crise militar bem mais grave do que se sabia à época, embora a antecipação da diplomação e os atentados de dezembro fossem indícios claros de que algo fermentava. O processo democrático viveu sérias ameaças. O maior objetivo da quartelada, o alvo primeiro, era, claro, o próprio Lula. Sabe-se lá o que a insurreição faria de sua figura, embora seja possível especular a partir das ameaças a ministros do STF e do que ocorreu aos palácios desguarnecidos, com forças militares sublevadas, à mercê da turba.  Em meio a tudo isso, Lula encarou a situação e derrotou os golpistas. O papel da primeira-dama Janja não foi irrelevante.

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De lá para cá, a investigação policial sobre a tentativa golpista adentra, pela primeira vez na história do país, a participação de comandos militares em um golpe contra a democracia. Graças a Lula, que tem agido com frieza e serenidade numa situação instável, existem condições políticas para, com apoio de comandos mais convencidos da submissão à legalidade, levar ao banco dos réus, junto com Bolsonaro, os oficiais golpistas que neste episódio conspiraram contra a democracia.

Isso significa muito: será dado afinal um limite ao delírio amotinado que vicejava na caserna. Espera-se que o exemplo desça para as polícias militares, tão carentes de controle e submissão ao poder civil. Consumado esse câmbio que se decide agora, em coordenação evidente com o Supremo Tribunal Federal e a Polícia Federal,  restará um país menos vulnerável a intervenções militares.

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Difícil imaginar uma homenagem mais relevante às vítimas do regime militar de 64 e aos seus justos anseios por memória, verdade e justiça do que este proporcionado pelo descortínio e – repita-se – a coragem do presidente Lula.

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