Lula e Petrobras

Entre decisões e encruzilhadas, chega a hora da verdade na Petrobrás

É hora de implantar uma nova política de preços, retomar investimentos e voltar a atuar na distribuição de combustíveis

Há pouco mais de uma semana, o novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, completou 100 dias à frente da empresa. Trata-se de momento propício para uma avaliação de alguns  sinais emitidos pela gestão lulista naquela corporação tão estratégica para os rumos do país. Não exagera quem diz que na Petrobras está em questão a própria medula do governo Lula.

É na empresa que se define parcela relevante da batalha contra a inflação. Dela também se pode saber se o presidente Lula pretende de fato fazer uma gestão desenvolvimentista que reconfigure o modelo imposto desde o golpe de 2016.

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A mensagem de Lula na campanha que o elegeu presidente pela terceira vez não poderia ser mais clara. A Petrobras seria decisiva numa reviravolta que conduzisse o país em direção a uma economia avançada, dinamizada pela indústria, compatível com os tempos atuais e estimulada pelo investimento público.

De imediato, a Petrobras é central para a batalha contra a inflação. Na próxima semana será anunciada a fórmula que vai substituir a referência chamada de Preço de Paridade de Importação (PPI). Por esse mecanismo, as cotações internacionais do petróleo ditavam os preços internos no Brasil, em geral contribuindo para encarecer os custos para empresas e consumidores, à revelia dos reais custos internos de produção, bem mais baixos. 

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Ainda hoje o país convive com os impactos inflacionários da PPI. Ao que parece, não haverá uma ruptura cabal com essa política. Os preços seriam regionalizados, com uma parte do custo cotada em dólares e outra em reais. É um avanço numa rota de aproximação dos preços aos custos praticados internamente. 

O tema é crucial, pois o comportamento da inflação exige atenção total nos próximos meses. Uma combinação de fatores, como a padronização do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços,  a elevação do real diante do dólar e a política da Petrobras podem repercutir negativamente sobre os preços, num impacto que, a depender da região, pode chegar a elevar a inflação em até 0,05% a cada 1% de aumento dos derivados.

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Em algumas cidades, o preço da gasolina pode vir a subir 10%, num contexto em que se prevê que a inflação volte a subir para o patamar de 6% até o fim de 2023. Na área estratégica, os sinais também recomendam exame minucioso. Até agora, alerta o engenheiro químico Felipe Coutinho, vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet) e membro do Conselho Editorial deste 247, nada mudou na Petrobras. 

A empresa segue distribuindo volumosos dividendos à custa de investimentos deprimidos. O plano estratégico apresentado pela empresa em abril não  pretende aumentar significativamente os investimentos, com políticas de conteúdo nacional. Da mesma forma, não há ainda nenhum sinal de reversão da canibalização de setores inteiros do conglomerado, liquidados a preço vil, pelos governos Temer e Bolsonaro.

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Cumpre realizar auditoria das privatizações dos seus ativos da empresa e recuperar, em condições justas, a BR Distribuidora. A mesma medida deve valer para as malhas de gasodutos da NTS e da TAG, das refinarias RLAM (BA) e Reman (AM), das distribuidoras de GLP (Liquigás) e de gás natural (Comgás).

Na contramão da rota que se prenuncia, é hora de ampliar o parque de refino. Não há um horizonte claro sobre o que será feito da conclusão do segundo trem da Rnest (PE), do Comperj (RJ), a ampliação do parque de refino e a recuperação da crucial produção de fertilizantes, biodiesel e etanol.

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A imensidão das tarefas contrasta com o conservadorismo que parece prevalecer na abordagem da direção da empresa, para não falar de sua destinação institucional. Com certeza, o presidente Lula observa o tema com aflição diante das promessas de resgate da empresa tão frequentes em tantos de seus pronunciamentos.