Reunião com Presidente da Fiesp, Ministro da Defesa, Comandante do Exército, Comandante da Marinha e Comandante da Aeronáutica

O lugar dos militares

O presidente mostrou como as instituições devem funcionar: cada uma em sua casinha

Após a justificada crispação havida desde o vendaval que profanou a Praça dos Três Poderes, a disposição do presidente Lula em relação às Forças Armadas parece viver um princípio de desanuviamento. Sob Bolsonaro, os militares estimularam a dúvida sobre a lisura das eleições, envolveram-se  em auditorias do sistema de voto, assinaram nota assegurando apoio a bolsonaristas acampados diante dos quartéis, protegeram vândalos usando área militar como base para seu bonde da arruaça contra a democracia. Diante do isolamento político e dos novos prejuízos à imagem da instituição por cujos valores deveriam zelar, recuaram.

A semana terminou com um encontro entre Lula e os generais comandantes das Forças. Segundo consta, nada foi falado sobre o arrastão de 8 de janeiro. Nem era necessário, pois a cena falava por si. Era evidente o constrangimento das Forças Armadas, enodoadas interna e externamente por seus anseios de tutela, senão pela indisciplina e quebra da hierarquia diante do poder civil. Estavam ali os comandantes para insuflar ares de normalidade ao que na verdade era uma rendição, ainda que provisória e precária.

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Providencialmente, no mesmo dia, em outra cerimônia, o general Tomás Paiva, comandante militar do Sudeste, subitamente anunciado como novo chefe da Força em substituição ao exonerado Julio Cesar de Arruda, veio a público para não apenas defender o respeito ao resultado das urnas como também criticar os atos pró-golpe (que ele, por sinal, também hospedou em acampamentos em área de quartel) e ressuscitar  o entendimento de que o Exército é uma instituição de Estado.

Depois de estimularem os surtos que resultaram no trauma de 8 de janeiro, experimentados militares em posição de liderança acabaram tendo que se contentar com uma mal-disfarçada carraspana apresentada pelo presidente da República na forma de projetos de governo. Em vez de junta militar, um submarino nuclear. Em vez de postos no governo, reequipamento dos quartéis. No lugar de se imiscuir na política,  colaborar com a reindustrialização do país. O presidente mostrou como as instituições devem funcionar: cada uma em sua casinha, como se diz. Seria desejável que os militares, parteiros e penetrados pelo bolsonarismo, afinal, entendessem recado tão claro. O presidente poderia, assim, dedicar-se, sem tumultos, a realizar a missão para que foi eleito: governar.

Leonardo Attuch

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Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.