Diante do crescimento da folha de crimes de que é acusado o ex-presidente Jair Bolsonaro, é obrigatório um recurso à memória histórica.
Esse personagem não era desconhecido. Mesmo assim, mereceu franco e entusiasmado apoio da elite "chique" brasileira, fascinada com seu jeito pintado como "sincero", "humano" e "simples", com sua alegada e conveniente ignorância sobre economia. Tais atributos foram úteis para manipular a bronca do eleitor, instrumentalizar a mentira, agitar eternos espantalhos e afastar a ameaça de vitória da esquerda em 2018.
Uma elite abjeta está na origem do mal maior. Ela forneceu as condições para conduzir quadrilheiros bizarros ao poder. Fê-lo para para preservar seus interesses, à sombra dos quais eterniza-se o atraso brasileiro.
No momento atual, essa elite empenha-se numa operação de apagamento histórico de seu patrocínio ao fascismo bolsonarista, com todas as trágicas consequências. Dessa quadra histórica, resta a renovação do diagnóstico: a elite não está à altura de liderar um projeto nacional que dê conta de fazer do Brasil um país desenvolvido e justo.
Enquanto apaga a história, essa elite envergonhadamente reincide nela.
É de se assinalar que, quando é Bolsonaro quem está no foco. avulta-se na mídia corporativa uma evidente estratégia de minimização da responsabilidade e da gravidade dos seus crimes. Surge um zelo especial pelos direitos do acusado e a observação das garantias legais.
Isso fica claro, em especial, na comparação do noticiário atual com a cobertura dedicada à operação Lava Jato, que culminou na criminalizacao midiática e a consequente prisão do então ex-presidente Lula.
Sutilmente agora, a crônica de atos de Bolsonaro, esse "criminoso serial", na definição do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, vai sendo normalizada.
Não se vêem mais, na Folha de S.Paulo, por exemplo, como acontecia na Lava Jato, o abuso das manchetes em caixa alta, as letras avantajadas e em negrito.
Não se batizam mais as coberturas com nomes publicitários como "mensalão" e "petrolão". Não há mais vinhetas e marcas como os dutos jorrando notas no cenário do Jornal Nacional, como se viam ao tempo do "petrolão".
É hipocrita, assim, o esforço de editoriais, artigos de opinião e reportagens com fontes escolhidas na mídia corporativa para defender agora, quando Bolsonaro está no foco, a moderação, o respeito ao devido processo legal, o amplo direito de defesa e a prisão de Bolsonaro somente após o trânsito de investigações e processos ao final de todas as últimas instâncias e apelos.
Essa mídia dos ricos abusou contra Lula e agora faz "autocrítica" não com o mesmo Lula, mas com Bolsonaro.
Lula e Dilma eram obrigados a saber de absolutamente tudo o que acontecia na Petrobras.
Já Bolsonaro não é obrigado a saber de absolutamente nada do que fazia seu próprio ajudante de ordens. Quando o PT estava no banco dos réus, cunhou-se uma "teoria do domínio do fato" ao feitio de sua condenação.
Agora, a elite e sua mídia fazem questão de negar os fatos mesmo quando o roubo está evidente aos olhos de todos.
Este 247 defende a prisão de Bolsonaro quando presentes as condições legais para isso, mas não pode omitir a impostura por trás do surto de legalidade que acomete as elites e sua mídia.
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