Presidente Lula, presidente do STF, Rosa Weber, ministros e governadores se unem contra atos terroristas bolsonaristas

Unir a república contra o terror bolsonarista

Ao presidente Lula caberá afastar de vez o vulto do golpismo sobre as instituições do país

No domingo 8 de janeiro, o Brasil e o mundo assistiram ao maior espetáculo de profanação contra as sedes dos Três Poderes da República brasileira já visto na história do país. Milhares de apoiadores de Jair Bolsonaro invadiram, depredaram e saquearam prédios do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal numa ação contra a decisão dos cidadãos e cidadãs brasileiros que elegeram, em pleito auditado, Luiz Inácio Lula da Silva presidente da República. 

Por algumas horas, o coração da República da capital federal virou terra sem lei e ordem numa ação que contou com a facilitação das forças de Segurança do Distrito Federal, bem como com, no mínimo, a conivência das Forças Armadas encarregadas de guarnecer o Palácio do Planalto. Nada foi poupado pela horda em transe: além das instalações físicas destruídas, objetos de trabalho foram roubados, obras de arte foram danificadas, objetos raros foram esmigalhados, símbolos republicanos foram vandalizados. Os prejuízos estão ainda a serem inteiramente estimados. Tudo isso apenas sete dias depois da grande festa de posse de Lula na Presidência, marcada pela subida de Lula na rampa do Planalto e a entrega da faixa presidencial por cidadãos e cidadãs representativos da diversidade social brasileira. 

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Surpreendidos num primeiro momento pela selvageria, os Poderes da República engendraram reação, aí sim, expedita, para conter a turba. Ao primeiro sinal da gravidade dos fatos, o presidente Lula decretou intervenção federal na Segurança Pública do Distrito Federal, estancando a conivência daquela área com os golpistas; no Supremo, o ministro Alexandre de Moraes, já responsável por inquéritos por incentivos a atos contra a democracia, determinou o afastamento do próprio governador Ibaneis Rocha. De seu lado, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, em entrevista à TV deste 247 na quinta-feira (12), relatou detalhes dessa reação institucional. Sinalizou que as investigações em curso trarão muito mais informações sobre os cérebros, os articuladores e os financiadores da intentona subversiva. 

Por óbvio, as atenções de qualquer investigação voltam-se para o ex-presidente Jair Bolsonaro, vencido nas eleições, agora desfrutando uma permanência nos Estados Unidos. É ele o líder primeiro das atrocidades que emporcalharam poderes, monumentos, obras de arte e conspurcaram espaço simbólicos que não pertencem a ninguém, senão a todos. A Bolsonaro devem se orientar as principais linhas de investigação. Outro a ser devidamente responsabilizado é o governador afastado Ibaneis Rocha, por não ter garantido, como reza a lei, a integridade e a segurança, dos Três Poderes, mesmo dispondo das polícias mais bem remuneradas do país, sustentadas com recursos do Executivo federal. O ex-ministro bolsonarista da Justiça Anderson Torres, cuja prisão preventiva já está decretada, merece escrutínio especial, além do mais por ter sido encontrado em sua casa decreto estabelecendo um golpe de Estado contra as eleições. É evidente que a investigação deve se dedicar a apurar toda a teia de envolvimentos e responsabilidades, sem se deter diante de pessoa ou instituição, cargo civil ou patente militar, em linha direta ou indireta, sem fechar os olhos para os arruaceiros partiram de área sob controle do Exército, nem para a omissão de tropas responsáveis pela guarda do Planalto ou para a suposta proteção que teriam dado a criminosos frente ao avanço da PM diante do Forte Apache. Em paralelo às invasões de Brasília, houve derrubada de três torres de transmissão de energia e tentativa de bloquear refinarias. Um caos estava sendo engendrado.

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A reação à intentona frustrada abriu, porém, um novo momento político pleno de oportunidades e complexidades. Pesquisas apontam o repúdio aos ataques. Bolsonaro se isolou, apesar de manter apoio de seu núcleo extremista. Ao presidente Lula e integrantes da frente que ele lidera caberá mesclar energia e sabedoria para aproveitar os espaços existentes e afastar de vez o vulto do golpismo sobre os governos e as instituições do país. Assim agindo, terá condições de reunir apoios fundamentais para dar curso bem-sucedido à tarefa gigante que tem pela frente. A mensagem deve ser de que a vontade do povo constitui poder maior e quem ousar sublevá-la pagará preço altíssimo.

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Leonardo Attuch

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Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.