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Heraldo Campos

Graduado em geologia (1976) pelo Instituto de Geociências e Ciências Exatas (UNESP), mestre em Geologia Geral e de Aplicação (1987) e doutor em Ciências (1993) pela USP. Pós-doutor (2000) pela Universidad Politécnica de Cataluña - UPC e pós-doutorado (2010) pela Escola de Engenharia de São Carlos (USP)

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Meu querido Corinthians

Tem algo estranho acontecendo no clube. De qualquer modo: "Vai, Corinthians!", só não sabemos para onde

Foto de álbum de escola. Time de bola ao cesto de 1969 do Colégio Nossa Senhora do Carmo. Torneio no Clube Esportivo da Penha. O nosso técnico, Cabeça, aluno marista, o único sem fardamento na foto, é filho do grande goleiro do Corinthians, Cabeção (Foto: Arquivo pessoal)
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O ano era 1971. O Colégio Nossa Senhora do Carmo, tradicional escola marista da capital paulista, estava para fechar as portas. Éramos da última turma do científico, do terceiro ano, a se formar. O professor de português na época pediu uma redação, com tema livre, para ser escrita em uma folha do então “bloco de sabatina” que dava, mais ou menos, uma página reduzida da folha de papel almaço. 

Por essa delimitação de espaço, o texto tinha que ser direto e sucinto. Escolhi para dissertar o time do meu coração e o título da redação foi “Meu querido corinthians”, que repito aqui nesse texto 53 anos depois. Deu fubá o tema entre meus amigos palmeirenses, sãopaulinos, santistas, entre outros amantes do futebol. Não tenho o registro desse documento escolar, que valia nota para a disciplina mas, me recordo vagamente, que foi elogiado pelo professor mais pela provocação do que pelo suposto estilo da escrita. A provocação, que era mesmo uma, tinha sentido. A coisa estava engasgada há muitos anos. 

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“Nasci no Brás, bairro fabril da capital de São Paulo, na primeira metade dos anos 50. Meus amigos de bairro e de escola eram descendentes de italianos, espanhóis, portugueses e brasileiros, como todos nós. A orientação passada pela família, para não haver confronto com torcedores do Palmeiras, São Paulo, Portuguesa, e outros times de futebol dessa “turma”, era fortemente recomendada.

Meu time do coração, o Corinthians, amargou uma longa fila e somente fui vê-lo campeão 23 anos depois, por uma TV chuviscada, numa plataforma marítima de exploração de petróleo, distante uns 100 km da costa brasileira. Antes de levantar a taça, como campeão paulista de 1977, o time era mais conhecido como o “faz me rir”, porque não emplacava nenhum campeonato que disputava e aguentavam-se as provocações.” [1] 

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Lembro que passei todo o tempo de escola, passando pelo primário, ginásio, colegial e faculdade, ouvindo gozação sobre o Timão que não ganhava um titulo paulista desde 1954, quando foi o Campeão do Quarto Centenário.

Como o corintiano é duro de entregar a rapadura, foram tantos os jogos assistidos nos estádios do Pacaembu, do Morumbi, do Canindé, do Parque Antartica e na acolhedora Fazendinha, onde as emoções sentidas por um torcedor dos alambrados nem sempre eram acompanhadas pela vitória do seu clube, ao final dos jogos. Ao contrário, não foram poucas vezes que o time saia derrotado em campo, mas a Fiel sempre corajosa e esperançosa estava aplaudindo os jogadores e aguardando dias melhores. A partir do histórico título paulista de 1977 o Coringão colecionou uma série de taças importantes e até um bi-campeonato mundial de clubes.” [2]

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“Em compensação, o time de bola ao cesto principal do Corinthians era um verdadeiro Timão: Rosa Branca, Wlamir, Amaury e Ubiratan era a formação do quarteto titular. O quinto homem, que completava esse Timão era, às vezes, o Joy ou o Mical.

Nesse período de ouro do bola ao cesto do Corinthians, meus amigos do Colégio Nossa Senhora do Carmo, que jogavam no infantil do Timão, viam esse povo treinar no time principal. Que privilégio. Dois deles, Renato e Joaquim, estão na foto acima.  

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Nesse ano de 1969 jogava no time infantil do Clube Atlético Ypiranga, tradicional clube do bairro fabril do Ypiranga em São Paulo, não muito longe do riacho do mesmo nome e cenário do grito da independência.

Acabei indo parar no bola ao cesto meio que por acaso porque gostava mesmo era de jogar futebol, mas como não tinha bola para seguir adiante, mais por causa da altura do que por habilidade para esse esporte do cesto, troquei os pés pelas mãos. Assim, disputei no ano de 1969 o campeonato infantil da Federação Paulista de Basketball e no final desse ano larguei o bola ao cesto para fazer um curso de computação.

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Do time de futebol de 1969 só me recordo do bom goleiro Lula que defendia o Timão. Nesse ano já morava há dois anos no bairro do Cambuci (mudei do Brás para lá em 1967), mas aí é outra história.” [3]

“Lamento, mesmo, não ter podido ter visto no campo o Garrincha com a camisa do meu Corinthians, nas poucas partidas que ele jogou pelo Timão (acho que não passaram de dez) porque ele era a cara do meu time do coração.

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E escalar uma seleção corinthiana de todos os tempos, também seria uma tarefa difícil, porque a melhor seria a seleção corinthiana que levantou a última taça, nem que seja a de um torneiozinho chinfrim lá na Flórida.

Mas uma coisa posso dizer, depois do Sócrates (e não por amizade que veio muito tempo depois) o melhor jogador de ataque que vi jogar no meu time foi o Carlito Tévez.” [4]

Nos dias de hoje está de lascar ver o meu Timão jogar um futebol coletivo. O time não tem padrão de jogo e a concatenação entre defesa, meio de campo e ataque praticamente não existe. Querer crucificar um ou outro jogador é tarefa fácil e comodista. Além disso, a política interna do clube parece que não ajuda as coisas da bola fluirem no campo de jogo e fica difícil saber o que rola nos bastidores do bom e velho Parque São Jorge. Mas que tem algo estranho acontecendo, isso tem. De qualquer modo, "Vai, Corinthians!", só não sabemos para onde.

Fontes

[1] “Pó preto” crônica de 05/09/2022.

[2] “Aquífero Guarani e Corinthians” crônica de 12/05/2021.

[3] “Bola ao cesto” crônica de 16/03/2020.

[4] “De seleções e Corinthians” crônica de 18/04/2020.

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