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Urariano Mota

Autor de “Soledad no Recife”, recriação dos últimos dias de Soledad Barrett, mulher do Cabo Anselmo, entregue pelo traidor à ditadura. Escreveu ainda “O filho renegado de Deus”, Prêmio Guavira de Literatura 2014, e “A mais longa duração da juventude”, romance da geração rebelde do Brasil

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Uma “Escola para Anormais” no Recife, em Água Fria

"Pesquisando sobre o bairro de Água Fria no Recife, o lugar de minha juventude e infância, descobri que ali deveria ser levantada uma 'Escola para Anormais'"

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Pesquisando sobre o bairro de Água Fria no Recife, o lugar de minha juventude e infância, descobri que ali deveria ser levantada uma “Escola para Anormais”, por volta de 1934. “Anormal” era a palavra usada na época para caracterizar todo tipo de doença mental. E no caso, era uma escola para crianças “anormais”. Curioso, fui pesquisar mais sobre tal escola.

E vi aqui de onde copio os trechos:

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“A Escola deveria ser ‘um verdadeiro hospital-escola. Um centro de pesquisas e de estudos, de métodos médico-pedagógicos para tratamento e educação de anormais, formando ao mesmo tempo médicos e professores especializados. O terreno adquirido para a construção da escola ficava em frente ao Hospital de Doenças Nervosas e Mentais, na antiga estrada de Água Fria (trecho atualmente chamado de rua Cônego Barata). Era irregular e media sessenta metros de frente e cem metros de profundidade, aproximadamente."

A sua pedra fundamental foi colocada no dia 25 de dezembro de 1934, mas o seu projeto já havia sido apresentado em 1 de novembro do mesmo ano. Sua extensa área permitia futuras ampliações de suas instalações.

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A escola só foi concluída em 1956, não se sabe se seguindo o último projeto de Nunes, e, antes de ser demolida, na década de 1980, foi transformada numa Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), em 1964. São muitas incertezas quanto ao que resultou de seu projeto, inclusive se Cícero Dias, convidado a ‘decorar internamente a Escola de Anormais’, chegou a realizar algum trabalho (Escola..., 6 dez. 1934). Assim, nem Ulisses Pernambucano a viu pronta, pois em 1935 foi preso, aposentado compulsoriamente e afastado do serviço público, acusado de ser comunista, falecendo em 1943, aos 51 anos; nem Nunes, que faleceu em setembro de 1937, aos 29 anos, embora, mesmo afastado desde julho do mesmo ano, ainda estivesse vinculado à Diretoria de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco. Além de iniciar o processo de trabalho que desenvolveu na diretoria, que ia dos projetos ao canteiro de obras, a ideia de fazer da Escola para Anormais um hospital-escola era uma inovação na concepção desse tipo de instituição”.

A seguir, uma outra fonte para a escola de crianças anormais em Água Fria: https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/54354/1/TESE%20Rafael%20Santana%20Bezerra.pdf

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“Para os objetivos da psiquiatria pernambucana, não bastava a homogeneização das classes primárias, era necessária a construção de um espaço reservado para a educação das ‘crianças anormais’. Em junho de 1934, o Diário de Pernambuco tornava público o resultado da reunião da Liga de Higiene Mental de Pernambuco: ‘Vai ser criada uma escola para anormais!’.

Para tanto, foi elaborado o ‘Caixa Ulysses Pernambucano’, uma iniciativa da Liga para arrecadar dinheiro, público e privado, para a construção do prédio. Em outubro de 1934, o Interventor Federal assinou um ato para disponibilizar verbas: ‘Tendo em vista o que requereu uma delegação de sócios do Caixa Escolar da Escola Normal no sentido de serem resgatados quarenta e oito apólices da dívida pública estadual, para o fim de construir um prédio destinado a uma Escola para Anormais’. Iniciava-se um longo percurso para a construção da Escola para Anormais. Além do Boletim de Higiene Mental, os periódicos tradicionais divulgavam a empreitada do campo psiquiátrico pernambucano.

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Em novembro de 1934, o Juiz de Menores João Aureliano publicava um apelo em favor da nova instituição. Para o jurista, tratava-se de uma necessidade de ordem pública, uma medida profilática contra o crescimento da criminalidade infantil:

‘Com o recolhimento, educação e assistência de crianças e menores anormais faz-se, pois, obra de neuro-higiene e profilaxia mental em benefício da ordem pública, das condições morais da sociedade e da luta contra a loucura e o crime’.

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Nas propagandas médico-pedagógicas, a Escola para Anormais apresentava-se como solução para indivíduos que, até então, não teriam possibilidades de uma vida em sociedade:

Crianças anormais, crianças de inteligência apoucada, crianças com desequilíbrios afetivos, seres cuja educação nas escolas para normais é um desastre e um martírio, seres cujo abandono sempre ao esmo destino. Má adaptação. Vagabundagem. Roubo. Um eterno errar pelas mãos de novos professores. Um eterno errar pelos consultórios dos especialistas em voga. E mais tarde a triste faculdade de escolher: ou delinquência ou parasitismo. A Escola para Anormais vem transformar esses destinos. Vem transformar sim, senhores. Sem precisar de mágicos, como seu diretor, de Moisés, para distribuir um corpo docente.

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Em 25 de dezembro de 1934, teve início a cerimônia de lançamento da pedra fundamental da Escola de Anormais. O terreno para a construção da escola ficava em frente ao Hospital de Alienados do Recife, no ‘Oitão de Água Fria’ (antiga Estrada de Água Fria, hoje Rua Cônego Barata), um espaço arborizado, porém de medidas irregulares, contando com sessenta metros de frente e cem metros de profundidade. O projeto do prédio e a própria execução da obra ficou sob a responsabilidade do arquiteto e engenheiro Luiz Nunes, conhecido por seu estilo moderno e por realizar uma série de edifícios públicos durante a gestão de Carlos de Lima Cavalcanti, entre eles, a Usina Higienizadora de Leite e o Hospital da Brigada Militar.”

Diante disso, quando respiramos fundo, notamos que a escola seria uma inovação. Diria, quase até um ato de humanidade na época. Mas sob conceito atrasado de doença. Avançamos, mas ainda não resolvemos o problema.

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