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Pedro Maciel

Advogado, sócio da Maciel Neto Advocacia, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007

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De Tales de Mileto à sociedade do cansaço

Minha dica para meus filhos e netas: tenham tempo para “não fazer nada”, para reflexão

(Foto: Monkman)
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Filosofia é fundamental por ser a ciência pelas causas primeiras, porque transcende a experiência e não para até esgotar o interrogativo causal e resolver plenamente o

enigma do universo; ela é, portanto, a ciência da essência profunda das coisas e não dos fenômenos, do todo e não das partes: precisamente porque as causas primeiras explicam o todo. 

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Mas, nesses tempos em que a negação sistemática de tudo quanto foi produzido pela cultura ocidental é a regra, em que a extrema-direita encontrou um porta-voz das suas maldades e, através dele e dos seus adeptos, passou a debochar da ciência em geral, especialmente a filosofia, temos que refletir sobre o fundamental, pois, para essa tribo de bárbaros o “pensar” é “coisa de comunista”, “coisa de vagabundo”, dentre outras sandices que verbalizam e difundem nas redes sociais e grupos de WhatsApp; suas bobagens nem sempre são publicáveis, mas não podem ser normalizadas ou ignoradas, sob pena de a semente da maldade germinar. A filosofia é a ciência pelas causas primeiras, e a sua finalidade é a solução do problema da vida: metafísica; epistemologia; ética; estética e a filosofia política.A filosofia não é saber apartado da realidade e da vida, nem é a metafísica fruto de uma espécie de intuição mística.

A filosofia é, portanto, uma construção – a mais alta e sólida construção – da razão humana, que parte do terreno firme da experiência para justificá-la. 

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A incivilidade, que vem se apropriando das estruturas do Estado e contaminando corações e mentes, não quer tratar desses assuntos o que lhes interessa é a destruição do outro; nesses tempos o diferente é um peso e deve adaptar-se ou será ignorado e destruído; o que importa atualmente é o superavit primário, a tranquilidade da faria lima e o egoísmo absurdo que a lógica liberal transformou em sacramento.

Desde Tales de Mileto - considerado o primeiro filósofo -, até chegarmos ao século XXI e as ideias disruptivas de Byung-Chul Han e sua “Sociedade do Cansaço”, passamos por muitas escolas e ideias.

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Da metafisica dos pré-socráticos, até a humanidade chegar à Filosofia Clássica (Sócrates, Platão e Aristóteles), passar pelos movimentos filosóficos - sempre na busca da compreensão e melhor forma de viver e enxergar o mundo -, “o pensar” filosófico sempre foi determinante para o desenvolvimento da civilização e para a construção da sociedade que a maioria de nós entende por ideal.

Depois veio a idade média, a missão filosófica passou a ser ‘provar a existência de Deus’; pelo lado do Islã Avicera foi o grande pensador e do lado cristão Santo Agostinho e São Tomás de Aquino com as escolas Patrística e Escolástica, respectivamente. Um tempo em que, apesar de todo o obscurantismo ocidental, nasceram as universidades.

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A renascença rompeu com a lógica da Idade Média e o Iluminismo dos séculos XVII e XVIII, contrapunha os racionalistas e os empiristas, até Kant tentar resolver a questão filosófica, como se fosse possivel pôr fim ao que é, pela natureza, movimento.

O século XIX abre outro debate relevante: o idealismo de Hegel e o realismo de Marx; a dialética chegou para ficar.

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No século em que nasci a filosofia analítica, fundamentalmente de origem anglo-saxã (que visa dissecar conceitos e argumentos complexos em suas partes constituintes para compreender melhor seu significado e implicações; examina a natureza da linguagem, sua relação com o pensamento e a realidade e como ela pode transmitir significado. Eles usam análise lógica e linguística para dissecar sentenças e proposições para descobrir sua estrutura lógica e resolver qualquer imprecisão; se concentra na filosofia da mente; investiga a natureza da consciência, dos estados mentais e da relação entre a mente e o corpo; explora questões como o problema das nossas mentes, a natureza da percepção e a possibilidade da inteligência artificial), e a chamada filosofia continental, que enfatiza a experiência subjetiva e a existência humana, que fala alemão, francês, espanhol, italiano etc., estabeleceram o confronto, vivo ainda hoje.

Ai chegamos ao século XXI e filósofos como Scruton, Peter Singer e Byung-Chul Han, movimentam o pensar propondo, cada um a seu modo e pelos seus fundamentos, a urgência da reforma das ideias socialistas; paralelamente, testemunhamos o ressurgimento de ideias conservadoras e narrativas que, a meu juízo, refletem o desencanto das pessoas com a falência do Estado Liberal, zeloso com o mercado e descuidado com a sociedade e com as pessoas.

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O pensamento do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, radicado em Berlin e autor do “Sociedade do Cansaço” é instigante; ele afirma que a realidade se impôs e que a propositura de Foucault e a sua “sociedade do controle” e da autoridade externa foi, a partir do desenvolvimento tecnológico e da lógica liberal, sendo substituída pela “sociedade do desempenho”, pela autogestão e pelo “empresário de si mesmo”.

Os incautos reassumem voluntariamente a condição de escravos do sistema e do mecanismo que são levados a pensar estarem confrontando, tudo a serviço do capital e da acumulação de riqueza na mão de poucos (Matrix sempre se reorganiza e segue escravizando as pessoas).

Segundo Byung-Chul Han vivemos um mundo de tristeza e frustração, onde não há tempo para o ócio, para contemplação, um tempo em que estaríamos todos em estado de hiper atenção, “indo e vindo” o tempo todo. E consequência são as doenças neuronais (TDH, depressão, Síndrome de Burnout etc.) que alcançaram a sociedade.

Se fosse possivel resumir o livro eu citaria Nietzche em “Demasiado humano”: “Por falta de repouso a nossa civilização caminha para uma nova barbárie”.

Minha dica para meus filhos e netas: tenham tempo para “não fazer nada”, para reflexão, para observar uma pequena aranha tecendo sua teia no cantinho da sala de casa, é fundamental.

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