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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Cinema: Jango no Exílio

Saber um tanto mais sobre esse interregno de Goulart fora do país ajuda muito a entender o que somos aqui dentro

João Goulart (Foto: Agência Brasil)
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Personagem trágico da história brasileira, João Goulart já teve sua vida retratada no clássico Jango, de Silvio Tendler, e sua morte dissecada até onde possível no investigativo Dossiê Jango, de Paulo Henrique Fontenelle. Agora nos chega um filme dedicado aos 12 anos que ele passou no exílio após o golpe de 1964. O diretor de Jango no Exílio, Pedro Isaías Lucas – detentor de um pós-doutorado sobre cinema e exílio – se livra da vida brasileira de Goulart com uma sequência de materiais de arquivo logo no início, para então concentrar-se no período vivido no Uruguai e na Argentina.

Deposto pelos militares no maior retrocesso vivido pelo país no século XX, Jango passou a se dedicar a uma vocação que vinha do pai. Fazendeiro no Uruguai, criou gado, plantou arroz e irrigou terras de modo pioneiro. Depois do golpe de 1973 que instituiu a ditadura uruguaia, mudou-se com a família para a Argentina, onde colaborou com a equipe econômica de Perón antes de morrer em 1976, justamente quando almejava voltar ao Brasil. Lembro-me das palavras do colunista Carlos Castello Branco: “morreu como um peão perdido no caminho de volta ao seu galpão”.

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O grande trunfo desse documentário é encontrar pessoas que trabalharam com e para Jango no exílio. Os testemunhos dão conta de um homem tão rico quanto simples, que tratava peões como iguais e tinha uma ligação estreita com a terra. Há mesmo uma história exemplar sobre um ladrão que acabou “convertido” pela boa fé de Jango e se tornou seu colaborador pelo resto da vida.

Além de amigos, parceiros e empregados de Goulart no exílio, comparecem os filhos Denize e João Vicente (autor de um livro sobre a vida do pai nessa fase), a viúva Maria Tereza e o neto João Marcelo. Na composição do perfil de Jango, ressalta o fato de que o ex-presidente nunca deixou de ser monitorado pela repressão brasileira, injustamente acusado de ter enriquecido durante a presidência e ameaçado de prisão se botasse os pés em território nacional. Atribuíram-lhe ligações com os Tupamaros no Uruguai e teve o filho preso aos 16 anos de idade. Sua morte na Argentina é até hoje um mistério não resolvido, sob suspeita de troca criminosa ou superdosagem de medicamentos para o coração no âmbito da Operação Condor.

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Jango no Exílio traz imagens atuais das fazendas onde Jango viveu aqueles tempos, algumas depauperadas pelo tempo. Veicula também reflexões sobre as razões de Goulart não ter resistido ao golpe de 64 e deixa um enigma no ar: um ex-secretário que Jango recusou-se a contatar perto de sua morte.

Enfim, essa é a história de um homem que podia ter levado o Brasil a outro rumo e, em última instância, foi vitimado pela gana imperialista. Saber um tanto mais sobre esse interregno fora do país ajuda muito a entender o que somos aqui dentro.

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>> Jango no Exílio está nos cinemas.

O trailer:

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