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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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Filme sem fotografia

A direita abraça o fascismo bolsonarista em nome do utilitarismo político oportunista, enquanto a esquerda pulverizada vai se desmontando como ideia

Câmara dos Deputados (Foto: Divulgação (Câmara dos Deputados))
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O governo Lula, segundo o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, é um filme sem fotografia.

“A gente não pode olhar a fotografia sem ver o filme. E o filme é positivo”, diz ele sobre a queda na aprovação do governo em pesquisas de opinião.

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O jeito, portanto, é exercitar a ginástica de ver o filme sem fotografia para perceber que é bom.

Essencialmente, o que Padilha está dizendo é que o governo está sem política de comunicação para mostrar à população que o filme Lula é bom apesar de a fotografia não revelar isso, ou seja, o teor do filme.

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Cadê o diretor do filme?

A política de comunicação, pela analogia de Padilha, está ou não falhando, precisando de revisão, para dar unidade ao filme por meio da fotografia?

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Existe o filme; mas, a fotografia do filme, não.

Não é à toa que a primeira dama, Janja da Silva, quer tomar conta da comunicação virtual de Lula.

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O presidente está fazendo um filme bom que não está comunicando sua essência artística ao público para conquistá-lo, amplamente, sem maiores controvérsias, taxativo.

Os bastidores do governo, dado choque de opiniões que o filme sem fotografia revela, fervem.

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A esquerda sabe fazer o filme, mas não mostra a fotografia; cria, dessa forma, insegurança e desconfiança em relação a si mesma, à competência e capacidade de apresentar seu conteúdo.

A direita, que se aproxima do sionismo israelense, para pegar o ouro judeu contra Lula, não; mente o tempo todo em matéria de comunicação, mas sua mentira parece ter mais eficácia, porque vende gato por lebre e, ainda, assim convence, por quê?

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O fato é que a direita ideologicamente fascista domina a cena digital nas redes sociais, na medida em que gera desdobramentos sobre os quais se debruçam os bolsonaristas para argumentar e conquistar público.

A esquerda não mobiliza a política cultural de modo a arregimentar opinião pública progressista politicamente consciente para derrotar o bolsonarismo fascista ideológico de ultradireita; não conta, naturalmente, com o poder midiático conservador que, aparentemente, é crítico do fascismo bolsonarista, porém, essencialmente, o adota como fator de sobrevivência ideológica, especialmente, no campo econômico.

A linguagem do mundo digital da direita, dessa forma, está sendo mais pragmática para apresentar sua narrativa esdrúxula da falsa realidade negacionista como se fosse verdade, enquanto a esquerda não encontra uma unidade de posições para fazer discurso ideologicamente engajado.

A pulverização ideológica da esquerda enfraquece seu discurso, enquanto a direita tira uma diretriz de pensamento revanchista de focar a esquerda como inimiga da família, da pátria, da liberdade e da religião.

O bolsonarismo com esse tripé ideológico – pátria, família e religião – desarmou a esquerda, que não é comunista, mas é como se fosse pela falta de uma narrativa ideológica definida.

É mais do que evidente que Lula é um social-democrata, não um comunista, ao jamais defender o fim da propriedade privada e a distribuição coletiva dos bens de produção, socializando-os, como, por exemplo, ocupação de empresas, das terras etc., para o usufruto comum.

Lula jamais fez discurso com o teor do feito por Jango Goulart, em 13 de março de 1964, quando pregou, abertamente, as denominadas reformas de base, da educação, financeira, supressão da lei das remessas de lucro; os trabalhistas, positivistas, como Brizola e Jango, principalmente, eram, do ponto de vista do tratamento da propriedade, muito mais avançados do que o operário Lula; por isso, mobilizaram, com apoio relativo do acanhado Partido Comunista, as massas nas vésperas do golpe.

Brizola, em 1961, então governador, nacionalizou indústria de energia por dispor da informação pública, farta, de que a sociedade estava sendo lograda, no Rio Grande do Sul, por multinacional americana de energia elétrica; tomou decisão em nome do interesse público e providenciou indenização de acordo com a legislação etc.

Política de comunicação de massas mobilizou o trabalhismo e chegou a desapropriar terras às margens das rodovias para objetivar reforma agrária; até os militares, conformaram-se com determinados critérios para distribuição da propriedade, em nome da necessidade da maior oferta de alimentos, como arma para combater a inflação, produzida pelo latifúndio improdutivo etc.

LULISMO NÃO FAZ MOBILIZAÇÃO / COMUNICAÇÃO DE MASSAS

No poder, a política social de Lula é conservadora, tal como a que o Partido Comunista desenhou depois do seu 6° Congresso, em 1967, de renúncia à radicalização social de massas, como forma de acelerar, pela democracia direta, a justiça social inexistente no capitalismo tupiniquim; essa característica apenas existiu nas lutas sindicais nos anos 1980, por meio das greves, no ABC, lutas não pelo domínio da propriedade, mas em defesa dos ganhos sociais e conquistas salariais que se formalizaram na Constituição de 88, agora, destroçada pelo neoliberalismo.

O conservadorismo da esquerda democrática do Partidão, que viveu de 1922-1992, cuidou de praticar social-democracia, jamais socialismo, muito menos comunismo, que seria sua etapa mais avançada, e, ainda assim, sofreu repressão implacável, que destruiu todo o seu comando central partidário.

Lula, portanto, é herdeiro da conciliação comunista que coloca em prática no confronto contra o neoliberalismo, sem vitória à vista.

Antirradical, como o Partido Comunista, Partidão, o PT, com Lula, mostra-se perfeitamente inofensivo ao capital, o que expressa política de comunicação excessivamente acanhada sem mobilização intensa dos trabalhadores pelos direitos que foram eliminados pelo neoliberalismo golpista de 2016.

O comodismo lulista se realiza mediante conciliação com neoliberalismo ditado autoritariamente por Washington; desde os anos 1980, nascimento do PT, expande-se e estabiliza-se no país o Consenso de Washington, cartilha do tripé econômico neoliberal: 1 – metas inflacionárias; 2 – câmbio flutuante e 3 – superávit primário, combinação conservadora que barra o crescimento sustentável do capitalismo periférico na América Latina.

Os Estados Unidos derrubariam a “guerrilheira” Dilma Rousseff do poder em 2016 para investir sobre petróleo nacional, depois da descoberta do pré-sal e, desde então, Washington atua para enquadrar o PT no mais rígido conformismo político; nada de reformas nem política, nem agrária, nem financeira, submetendo o país a uma política econômica conservadora concentradora de renda e produtora de desigualdade social; contra ela, Lula se bate, apenas, dentro de limites estreitos, no seu terceiro mandato presidencial, cercado pela burguesia financeira feroz.

A comunicação de massa, nesse contexto, decorreria de mobilização dos trabalhadores, estimulados pelo governo de matriz social-democrata, acossada por maioria fascista no Congresso?

MILITARISMO BOLSONARISTA FREOU DEMOCRACIA PARTICIPATIVA

A postura de Lula diante dos militares, depois da tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, mostra-se cada vez mais conservadora, sob pressão do ministro da Defesa, o superconservador Múcio Monteiro, egresso das classes sociais latifundiárias ultraconservadoras do Nordeste colonial; sequer o presidente se dispõe a discutir, em 2024, os 60 anos passados do golpe de 1964; pesa-lhe sobre os ombros o golpe, felizmente, fracassado de 8 de janeiro de 2023; vê-se cercado pelos discursos anticomunistas bolsonaristas fascistas, embora o anticomunismo esteja completamente defasado desde 1991 com o fim da União Soviética.

Lula se apega à social-democracia amplamente dominada pela direita fascista num Congresso em que não dispõe de força para lutar com chances de vencer, enquanto os adversários cuidam de encurtar seu mandato presidencial.

A direita, com ampla maioria parlamentar, abraça o fascismo bolsonarista em nome do utilitarismo político oportunista, enquanto a esquerda pulverizada vai se desmontando como ideia, sem energia para polarizar com o neoliberalismo com a bandeira socialista.

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