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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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Lula, calcinhas e batons

"A classe média alta e alta se sentem agredidas pelo modo de ser do presidente alinhado aos mais pobres em termos de identidade total", escreve César Fonseca

(Foto: Ricardo Stuckert/PR)
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Na fila de espera por um autógrafo do jornalista Eumano Silva, autor de LONGA JORNADA ATÉ A DEMOCRACIA – história dos 100 anos do Partido Comunista Brasileiro, famoso Partidão –, ouço coleguinha jornalista, editor de um site político conservador, escandalizar-se com Lula a propósito de batons e calcinhas.

- Acho que ele passou do ponto, isso é jeito de falar!

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O que o presidente disse, na sua autenticidade absoluta, foi que trabalhando, a mulher não precisa pedir dinheiro ao pai para comprar batom e calcinha, utensílios íntimos, já que pode adquiri-los com seu próprio recurso.

Uma linguagem simples, nada agressiva nem de mal gosto, mas, perfeitamente, entendível e inteligível para qualquer pessoa que almeja ter sua independência econômica e financeira possível, se tiver emprego.

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Comunicação direta, popular.

Como a população economicamente ativa vai  obter o emprego, se não for pelo aumento dos investimentos na produção e no consumo, possíveis com aumento dos gastos públicos, na da oferta de trabalho, que, ao mesmo tempo, proporciona ao governo arrecadação para investir nos programas sociais?

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Inconscientemente, o presidente traçou e repisou o objetivo do governo: promover o seu sonho maior de garantir empregos a todos/todas, a partir dos investimentos públicos e privados no PAC, que prometeu incrementar em campanha eleitoral, mas que enfrenta dificuldades diante de ajustes fiscais e monetários impostos pelo modelo neoliberal, antidesenvolvimento, antipovo, a serviço dos credores e especuladores etc.

 MORALISMO TUPINIQUIM -  As pessoas moralistas odeiam o modo de Lula falar livremente, de maneira solta, nunca desrespeitosa, a linguagem popular, adequada ao entendimento dos mais simples, seja homem, mulher, criança, adolescente, talvez, até dos animais mais inteligentes, como cachorro etc.

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Lula expressa a verdade visceral das pessoas quanto às coisas – a realidade que as envolvem.

Se esta forma de comunicar incomoda os que se sentem afetados em sua moralidade falsa, o problema decorre da alienação social que produz uma economia política que não fala a língua do povo por estar distante dele na formulação dos conceitos práticos relacionados à sobrevivência material dos trabalhadores.

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Como mostra o vídeo, as mulheres que escutaram Lula expressar as necessidades delas não se sentiram afetadas, de forma alguma, por aquele modo presidencial de comunicar, dada relação íntima do presidente com os problemas da população, seja os mais simples, seja os mais complexos, que não deixam de ser um acumulado do processo histórico simples em sua manifestação autêntica.

É uma questão de classe social.

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Imagine, por exemplo, o vice-presidente Geraldo Alckmin, homem sofisticado, falando em calcinhas e batons, para as mulheres, no contexto e ambiente em que Lula, essencialmente, filho do povo, falou.

Evidentemente, não pegaria bem, soaria muito estranho, dada a forma de ser de Alckmin, produto social da classe média formada pelos preconceitos de uma sociedade dividida e radicalizada pela histórica exclusão social do capitalismo tupiniquim.

Nem que fizesse maior esforço possível de extroversão comunicativa, ele conseguiria ser autêntico, dado o verniz moral adquirido por sua educação – médico formado nas melhores escolas –, que condiciona pensamento e comportamento na relação deteriorada na sociedade marcada por luta de classe cada vez mais intensa, potencializadora de desigualdade social, como sua marca registrada.

COMUNICAÇÃO SEM PRECONCEITOS - Lula, não. Falar em calcinha e batons, relacionando essas peças íntimas ao cotidiano do povo – da mulher, especificamente –, para dar seu recado elementar de almejar construir uma sociedade em que as mulheres pobres e socialmente excluídas seriam bem mais felizes e saudáveis se pudessem comprar com seu próprio salário as calcinhas e batons que usam, sem precisar mendigar ao pai ou a mãe o recurso para adquiri-los, envolve grandeza popular na comunicação presidencial.

Trata-se, essencialmente, de uma formulação política sem rebuscamento, mais ampla, em defesa da melhor distribuição da renda nacional, radicalmente, oposta à situação em que vivem as mulheres pobres, marginalizadas pelo modelo de desenvolvimento econômico, concentrador de renda e produtor de exclusão social.

Sim, Lula estava, no momento, em que se expressou, simbolicamente, em calcinhas e batons, falando para a classe média, mas pensando na classe miserável da qual se originou.

Expressou-se sem receio de provocar escândalo com seu exemplo, porque escândalo muito maior representa a permanência da miséria que eterniza a condição social em que sequer calcinhas e batons as mulheres podem dispor como objetos de consumo, dada sua marginalização social absoluta, que luta para remover da cena nacional.

ELITE RACISTA E FASCISTA - A elite tem horror ao linguajar solto e autêntico do presidente e julga-o elemento chulo e inconveniente para as melhores famílias ouvirem-no nos seus exemplos mais edificantes por meio de expressões populares.

A classe média alta e alta se sentem agredidas pelo modo de ser do presidente alinhado aos mais pobres em termos de identidade total.

Detesta o modo despojado e livre dele de mencionar líderes internacionais com os quais se relaciona a serviço do interesse da política internacional do Brasil.

Trata-os como iguais na tarefa de sintonizá-los com a grandeza nacional inquestionável no cenário global e não como produto isolado desse contexto, em forma personalizada.

Essa elite falsa pensa da seguinte maneira: Lula deveria ficar no seu lugar, não se arvorar em achar que é capaz, porque assim agindo deixa ela, a falsa elite e seu subproduto, a classe média, envergonhadas.

Consideram esse modo de agir de Lula como destoante da regra de convivência historicamente condicionada da elite nacional de posicionar como colonizada frente ao colonizador – obediente, estúpida e degradante.

Nesse ponto, Lula deve pensar, mas, claro, sem falar: pô, caguei!

A comunicação presidencial, essa é a verdade, não está, como um todo, sintonizada com Lula, na sua política de transmitir ao povo a substância do seu pensamento essencialmente eficaz e simples, sem exterioridades rebuscadas, mas, totalmente, absorvida com orgulho pelo sentimento popular.

Por isso, ao dizer com total extroversão o que disse para as mulheres, obteve delas não o repúdio, mas o aplauso entusiasmado, enquanto os moralistas amargam o seu preconceito exacerbado de colonizado.

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