CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Valéria Dallegrave avatar

Valéria Dallegrave

Jornalista, escritora e dramaturga

35 artigos

blog

O Povo Brasileiro, a Rainha da Inglaterra e um documentário histórico

A sorte da majestade inglesa foi, pelo menos, não ter dependido da compra de vacinas feita por um desgoverno que procurou lucrar às custas de muitas vidas

Caixão da rainha Elizabeth II (Foto: Emilio Morenatti/Pool via REUTERS)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Normalmente, acredita-se que a realeza está distante do povo. Reis e rainhas vivem em castelos, usam trajes suntuosos, mas são servidos por pessoas comuns. Diz-se, para realçar a suposta distância, que os nobres têm sangue azul (fakenews real?), enquanto o nosso é indiscutivelmente vermelho - mesmo o daqueles que acreditam que a terra é plana. Afinal, basta um pequeno corte no dedo para mostrar a cor do líquido que circula nas veias e é revolucionário.

É claro que a Rainha da Inglaterra nunca pensou que estaria tão perto do povo brasileiro, no desrespeito dirigido a ambos. Perto de seu Genaro Rodrigues, que serviu à Marinha brasileira e passou tardes jogando sinuca com o neto, ou de dona Neide Maria, cuja companhia e conselhos eram mais doces que o mel. Esses nomes não são fictícios, nem suas histórias, elas fazem parte de um registro muito belo criado para denunciar e relembrar as pessoas que perdemos durante a pandemia, e demonstrar que gente é muito mais que números, o Memorial Inumeráveis, Dedicado às Vítimas Do Coronavírus (inumeraveis.com.br). A dor pela qual as famílias passaram, algumas delas perdendo mais de uma pessoa em poucos meses, não pode ser ignorada ou facilmente esquecida.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Hoje estreia, com o mesmo propósito, como denúncia e homenagem, um documentário importantíssimo para o registro desse trágico momento: “Eles Poderiam Estar Vivos” é uma produção independente dos irmãos Lucas e Gabriel Mesquita, feita com recursos obtidos por financiamento coletivo. Reúne entrevistas com familiares das vítimas de covid e especialistas que falam do contexto macabro dos milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas. Aborda desde a tese da busca absurda por uma “imunidade de rebanho” até a desinformação sobre a doença, que fez muitas vítimas fatais, difíceis de ser estimadas. A sorte da majestade inglesa foi, pelo menos, não ter dependido da compra de vacinas feita por um desgoverno que procurou lucrar às custas de muitas vidas, levando a corrupção a uma potência de crueldad e poucas vezes vista na história mundial.

Mas tanto a Rainha quanto mais de seissentos mil brasileiros foram vítimas de total desrespeito da parte do despresidente do Brasil. Claro, na Inglaterra ele surgiu envolvido em pompa, com aparente deferência. As aparências, entretanto, não esconderam toda a rudeza, a insensibilidade, o egoísmo, a completa ausência de empatia e de ética. Para quem pouco importa a morte alheia, que problema há em rir-se ao dar condolências aos familiares? Ou debochar de quem está doente? Que importa transformar o silêncio respeitoso do velório em palanque eleitoral? Provocar atos de campanha supostamente espontâneos, estimulando confronto e gerando tumulto na casa dos enlutados?

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Tudo isso não é nenhuma surpresa para nós, que acompanhamos tantas barbaridades nestes últimos anos, e sofremos a cada uma delas. O que esperar de quem imitou, em tom de deboxe, a dificuldade de respirar dos atingidos pela covid? De quem reivindicou, frente à ameaça da pandemia, que deixássemos de ser um “país de maricas”? De quem, com todas essas “façanhas”, teve coragem de mentir descaradamente no encontro recente da ONU, ao se declarar exemplar no combate ao coronavírus!?

Já se sabia que a morte é democrática, ao igualar rainhas e pessoas do povo. Agora percebemos, na prática, como a morte de ambos, que merece a mais grave solenidade e o maior respeito, pode ser tratada com a mesma insensível ignorância arrogante. Foi apenas mais um ato de barbárie de quem se lambuza propositalmente de farofa para dizer-se povo enquanto acumula milhões na conta bancária com esquemas de corrupção às custas do dinheiro público e imagina ser rei.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO