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Amnéris Maroni

Amnéris Maroni é psicanalista.

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O tigre branco (The White Tiger)

A principal metáfora do filme é um galinheiro e uma pergunta: por que as galinhas, nós mesmos, permanecemos no galinheiro sem nos rebelar, sem sequer tentar fugir, muito embora as galinhas saibam que serão as próximas a serem brutalmente assassinadas, depenadas, destrinchadas

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Rápida introdução sem spoiler

Distopias tornaram-se no cinema e na literatura um tema dominante, concorrendo com a realidade nossa de cada dia que consegue ser ainda mais distópica,   quando comparada à ficção. Ramin Bahrani, filho de imigrantes iranianos, nascido nos Estados Unidos em 1975, é um consagrado e premiado diretor de cinema, um jovem mestre, considerado o novo diretor da década. Muitos filmes, entre eles Farenheit 451 (2018), adaptação de Ray Bradbury, novela distópica de 1953; 99 Casas (2015) etc. O Tigre Branco é o título do filme/2021 e do livro de Aravind Adiga, seu romance de estréia, que conquistou o Booker Prize, em 2008. O Booker premia os livros escritos por  cidadãos da Comunidade Britânica que inclui as ex-colonias britânicas e a Irlanda.

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Quando assistimos O Tigre Branco rapidamente o colocamos ao lado de Coringa, do diretor Todd Phillips/2019, e de Parasita, do sul coreano Bong Joon-ho/2019. Essa não me parece uma boa filiação por que vazando a distopia, fios de utopia se tecem quase à revelia de quem assiste o filme e, talvez,  à revelia do autor e diretor do filme! Faço uma escuta fina e sútil do não-dito e por isso pude alinhavar fios invisíveis e quem me lê poderá recuperá-los no filme. Os críticos de cinema não tem essa escuta. Orgulho-me de tê-la e por isso filio O Tigre Branco também a Bacurau, dos diretores Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles/2019,   a grande máquina de guerra utópica do Brasil.

A principal metáfora do filme é um galinheiro e uma pergunta: por que as galinhas, nós mesmos, permanecemos no galinheiro sem nos rebelar, sem sequer tentar fugir, muito embora as galinhas saibam que serão as próximas a serem brutalmente assassinadas, depenadas, destrinchadas. Por que permanecemos no galinheiro, pergunta Balram-Halwai, filho de um puxador de riquixá,  interpretado brilhantemente por Adarsh Gouran que se arrisca a ganhar o Oscar. Estamos com Balram  em 2010, em Délhi, mais precisamente em Bangalore, Índia, escrevendo um e-mail para o premiê chinês que visitará a cidade e o país para compreender o tipo de milagre econômico ali vivido nos últimos anos. Nesse momento Balram se tornou um grande empresário de Bangalore, uma espécie de vale do Silício indiano. E para que o premiê compreenda como se tornou um empresário de sucesso Balram nos conta a sua trajetória de vida e, com isso, nos revela a verdade sobre a Índia. Já nesse momento compreendemos o deslocamento que o mundo está sofrendo, pois Ashok Sharman, o novo nome de Balram, não hesita  em apostar que os ¨brancos¨ - os americanos principalmente - já eram! Quem dominará o mundo daqui para frente serão os asiáticos. A esse deslocamento do eixo da terra, visto do ponto de vista econômico, seguem-se muitos outros, entre eles,  a universalização do que é tão íntimo na Índia para o resto do mundo: redução das mil castas – e mil destinos - a  tão somente duas: os devoradores e os devorados. Os 36 milhões de deuses indianos, antigamente cultuados, agora valem, no mercado, como objetos  de troca: se não der certo com um, vamos nos valer de outro deus para corromper e extorquir o outro. Aliás, esse é o uso dos valores, todos os valores, pois  o empresário indiano, espelho do mundo, é  ético e anti-ético, crê e não crê em deus ao mesmo tempo. A Índia e o mundo global são perversos e o diretor Ramin Bahrani não nos deixa com nenhuma dúvida a esse respeito desde o primeiro instante do filme. A trajetória de Balram saindo de um vilarejo muito pobre da Índia, chamado Laxmangarh, até mudar de nome e se transformar no empresário que o premiê chinês deve conhecer cometerá muitos crimes, assassinatos inclusive e, todavia, nós expectadores continuamos atentos e empáticos com o personagem. De qual  mágica  Ramin Bahrani se valeu? Por que gostamos tanto desse filme merecedor, ao meu ver, de vários oscáres? Refaço meu argumento: nem todos gostarão tanto desse filme; muitos irão embora entediados, muitos nada compreenderão, por que são muitas as iscas, mas também muitos os véus que encobrem a nossa empatia por Balram. Muitos  odiarão o filme e desistirão dele pouco depois de ter se iniciado, pois é um fato, o filme coloca seus leitores à prova, é prolongadamente desconfortável – muito embora tempere esse desconforto com ironia e humor. Só nos interessa os que amaram o filme e amaram Balram. A chave é o galinheiro, melhor dizendo, os que querem fugir do galinheiro, mesmo às vezes sem saber disso. Os que o amaram, perseguirão a pergunta e se deixarão atravessar por ela, sem perder uma única cena. Como Balram conseguiu escapar? – é disso que se ocupa este artigo e também ocupou o expectador durante as  duas horas de filmagem.

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O tigre branco como objeto conservativo

 Quando estamos em uma situação sem saída, prolongadamente sem saída, evocamos uma experiência singular: voltar o olhar ¨para dentro¨ pode ser  atitude salvadora:  acesso aos sonhos, às imagens, às fantasias e/ou voltar os olhos ¨para fora¨ e fazer   a ¨ leitura de sinais¨ do mundo, que Carl Gustav Jung chamava de religere; esses sinais podem vir a  desvelar nosso destino,  nos ajudar a sair do calabouço-galinheiro.

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Concordo com os que estão me lendo que ambas experiências podem ser perigosas pois, não raro, sonhamos nosso desejo reprimido, nossa esperança e não um rasgo de sentido que nos permita abrir caminhos e, é verdade,  também não raro, fazemos uma leitura paranóica dos sinais. É o risco que corremos, é o risco que Balram corre. Quem está no galinheiro e deseja fugir arrisca.

 Essa aventura arriscada se inicia, para Balram, quando o diretor da escola pobre de vilarejo o distingue, presta atenção nele e depois de perguntar ¨quem é o animal raro,  tão raro que só existe um a cada geração?¨ lhe faz uma oferta inesperada. O maltrapilho Balram  responde ¨é o tigre branco¨. O diretor de dedo em riste apontando para ele diz ¨você é o tigre branco¨ e promete-lhe uma bolsa de estudos em Délhi.  Balram agarrou um fiapo importante do seu psiquismo, das suas emoções e...se reconheceu. Se reconheceu e, em seguida, esqueceu.

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A família de Balram é tipicamente indiana, pelo menos é o que Ramin Bahrani nos sugere: quem manda é a avó chamada Kusun, que explora até o talo todos os membros da família, humilha a todos, suga até a última gota e determina os casamentos. Balram não irá para Délhi, não desta vez,  com a prometida bolsa de estudos, mas trabalhará em uma casa de chá, como impõe a avó. O irmão mais velho de Balram sucumbiu a essa avó, seu pai falecido precocemente também sucumbiu, a família inteira se entregou a essa avó que, por sua vez, é submetida e humilhada por Cegonha e seus filhos Mangusto e Ashok,  que cobram taxas, impostos e exploram os moradores desse feudo territorial até o limite do possível e não dão nada em troca. Aliás, a leitura de sinais de Balram começa no momento em que vê Ashok: ¨sabe¨ que o filho mais jovem de Cegonha, Ashok,  será o seu patrão! A  família -cegonha  é também miliciana.  Não são só corruptos, são milicianos.

Kusun rouba a todos, rouba o self verdadeiro de todos, provavelmente por que  também foi roubada da sua possibilidade existencial. Christopher Bollas, psicanalista inglês, no seu melhor livro A sombra do objeto chama essa terrível defesa perversa de ¨introversão extrativa¨. Penso que ela aparece sim em muitas  famílias e todo psicanalista sabe que é muito difícil revertê-la, quase impossível; quando somos  roubados de partes de nosso self verdadeiro, de nossa potência,  a única resposta  para que haja sobrevivência psíquica é a adaptação passiva e isto explica e nos explica porque as galinhas na Índia, mas também no Brasil,  não fogem do galinheiro, não reagem. Essa defesa mortífera porém  só  se atualiza plenamente no fascismo e entre os fascistas. Nos campos de concentração durante o nazismo essa defesa perversa era diuturnamente usada e, a leitura do famoso livro de Primo Levi, É isto um homem?, a explicita passo a passo. Bolsonaro faz uso cotidiano dessa defesa, roubando tudo dos brasileiros, inclusive a vida!O que a família não  deu a Balram, o reconhecimento de si, lhe foi ofertado por um instante pelo diretor da escola do vilarejo. Por um minuto Balram se viu, por um minuto sabe quem é: ele é o tigre branco, o animal raro, único da sua geração. Por um momento  ele possuiu um pedacinho de seu mundo interno, uma imagem e deu-lhe uma piscada. Bollas, antes citado, tece considerações preciosas em torno disso, valendo-me dele, chamo a imagem do tigre branco de ¨objeto conservativo¨ que será esquecido por Balram durante anos. O objeto conservativo na compreensão de Bollas fica lá na mente esquecido, mas guarda um destino, guarda o destino de Balram.

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Etienne de la Boétie e a cascata de poder

É notável e por vezes, no filme,  estereotipada a leitura de Ramin Bahrani do mundo e da política. Não há em O tigre branco um ditador, um tirano. Pelo contrário vivem uma democracia política e quem rege o país então é a Grande Socialista que extorque aqueles que extorquem, os ricos: ela é muito corrupta. Vinda do povo, de um lugarejo pobre, a Grande Socialista trata muito mal os ricos do país e isso agrada muito os pobres. Eleita por eles, ela porém não se diferencia de Cegonha, o que cobra taxa e explora os miseráveis, o patrão de Balram. Com dois filhos, Cegonha rege o seu pequeno reino. Mangusto, o filho mais velho, assemelha-se a ele e Ashok, casado com Pinky, destoa da linha paterna, e assemelha-se à mãe que o incentivou a estudar nos Estados Unidos. Voltou dos Estados Unidos, depois de muito fingir ser um outro, ser um americano; voltou casado com Pinky, também indiana. E voltou moderno, muito contemporâneo. Sua contemporaneidade o esvaziou completamente de qualquer raiz indiana, não sabe nada sobre a Índia: suas comidas, seus deuses, os lugares sagrados, os templos. Mora em Délhi como em Nova York. É cidadão do mundo, cosmopolita e vazio, completamente vazio.

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Embora a Índia, nesse momento, seja considerada uma democracia, lembramo- nos ao assistir o filme  de  Etienne de la Boétie ( 1530-1563), amigo de Michel Montaigne, em Discurso da Servidão Voluntária, pequeno opúsculo político, do século XVI, mais precisamente do ano de 1548, quando Etienne tinha 18 anos; essa preciosidade da filosofia política marginal marcou grandes intelectuais, por exemplo Pierre Clastres – em A Sociedade contra o Estado. Apostaria que Etienne  foi o livro de cabeceira de Ramin Bahrani.

O que é notável no discurso laboetiano é a noção de desejo. O tirano só existe porque reproduz tiranetes, reproduz uma cascata de poder, todos são Um: são Um com o tirano. Aliás, a tirania só é possível em função da cascata de poder. No filme isso é muito importante, a cascata de poder tem tal protagonismo que  é sim um personagem e todos desejam o mesmo: desejam servir. Balram é assim durante grande parte do filme. Faz parte do galinheiro, não pensa em fugir, mesmo se lhe dessem a chave da liberdade, não fugiria,  por que deseja servir. Não se trata de falta de  compreensão, não se trata de falta de  consciência política, trata-se de desejo, do desejo de servidão. Nós brasileiros também temos um tirano, Jair Bolsonaro, em uma sociedade que se lê como uma democracia política e nós também temos a nossa cascata de poder, os bolsomínions. E agora convido-os a uma reflexão sobre o Um, inspirada em la Boétie.

Por que os tiranos rapidamente, como se fosse um contágio psíquico,  reproduzem,  com velocidade os tiranetes, a cascata de poder? Isso acontece, parece-me, porque o Um é simples, o Um, o tirano, tem um psiquismo simples, mecânico. É essa simplicidade psíquica que facilita a cascata de poder rápida, quase que instantânea. Essa reprodução não é facilitada quando não há tirania pois uma mente democrática é uma mente povoada, outro feliz conceito de Christopher Bollas contra a mente fascista. A mente povoada é fruto de muito trabalho psíquico, emocional, ela dá trabalho e por isso, um democrata conquista seus simpatizantes, pela palavra. Usa a palavra, convence, conquista. Identificações instantâneas são  sinônimo de tirania e quando há identificações desse tipo é certeira a aposta na presença do Um...mesmo se mostrando, fingindo ser,  democrata, é tirano. E a sociedade mesmo fingindo ser uma democracia política, é tirania. Esse é um dos elementos da distopia desse filme. É o caso da Índia, em O tigre branco, universalizando-se para o mundo. Balram em certo momento dirige-se à sua platéia que sabe ser global e diz algo assim: ¨os pobres só saem da situação de pobreza  pelo crime ou pela política. Não é assim no seu país?¨

Para Etienne de la Boétie, esse gênio extemporâneo da filosofia política, que morre muito, mas muito jovem, o desejo de servidão é passível de ser compreendido como um ¨mau encontro¨, um acaso funesto, mas também  é possível aguardar,  a reviravolta do desejo de servidão em desejo de liberdade.  Balram não sabia, mas desde que se reconheceu como tigre branco, cultivou em si o desejo de liberdade...

O corvo, o encontro com o tigre branco e o imenso grito de liberdade

Balram continua, no filme, quase inteiro, no galinheiro e desejando servir, servir Cegonha, servir Ashok, seus patrões. Mas continua lendo os sinais, não os procura, mas também não foge deles, acolhe-os. O corvo foi um sinal importante. Um corvo grasnando na janela em um momento de aguda interação com seu amado patrão, Ashok – ambivalente Balram ama e odeia,  apostaria que ama mais do que odeia Ashok! Que associações livres o leitor deste artigo faria com um corvo grasnando? Não sei quais foram as de Balran, mas sei que o diretor do filme está nos levando nessa sútil direção, a da leitura dos sinais.

Mais um sinal e este é definitivo: Balram vai ao zoológico com o seu sobrinho que veio avisá-lo que Kusun – a avó tiranete – resolveu casá-lo, sem  sequer lhe perguntar. O cerco está se fechando sobre ele, pois seus patrões Mangusto e Ashok resolveram, inadvertidamente, substituí-lo na função de motorista. Sofremos por Balram, pois parece que  ficará no galinheiro – ele e nós que aguardávamos ansiosos por algo que também nos livrasse do galinheiro. No zoológico Balram depara-se e se confronta com o animal muito raro, só existe um na sua geração, o tigre branco, ele mesmo, sua imagem de self verdadeiro, sua potência, seu pedacinho autêntico de mundo interno. Meus pacientes-clientes em processos individuantes, em individuações na idade adulta, quando podem ser descritas me trazem imagens semelhantes, sonhos semelhantes. Ilustro clinicamente: um deles no momento da ¨virada¨, quando um novo nascimento se insinua na individuação, sonhou com uma tartaruguinha albina muito rara que estava muito escondida em seu quarto; outro paciente no momento de seu nascimento, re-nascimento, sonhou que encontrou um ovo e, de repente, o ovo começa a quebrar e vem à luz um jacarezinho albino muito, mas muito raro...Revelamos a nós mesmos nosso devir através do mundo vegetal e animal. E não trato essa ¨abertura¨ do psiquismo, na individuação, como símbolos individuantes, como fazem os junguianos ou como objetos sustentadores de nossas projeções, como sustenta a psicanálise clássica. Trato essa ¨abertura¨ psíquica como um enlace com a alma do mundo animista, já que as individuações permanentes são os processos que nos levam para o animismo e não é por acaso que a obra de Carl Gustav Jung lê os instintos-arquétipos nos vegetais, animais e nos humanos.

 Quando Balram cruza seus olhos com os do tigre branco – o que interessa para o diretor indiano é a troca de olhares entre Balram e o tigre branco - no momento em que isso acontece, dizíamos  Balram cai desmaiado no chão frente a força  desveladora que se impôs a ele ao compreender o seu destino. Seu devir tigre branco se anunciou ali. Esse momento do filme é de tirar o folego porque Balram se recorda de um poeta mulçumano que diz algo assim ¨no momento que reconhecemos o que é belo neste mundo, deixamos de ser escravos¨. A transfiguração do desejo é assim ancorada na beleza. Balram acordou – e ele mesmo não se intimida em comparar-se com Buda no momento da iluminação!

O filme está próximo ao final e depois de  um sem número de atos impróprios e criminosos, Balram solta um grito espantoso de liberdade. A estátua de Mahatma Gandhi tantas vezes presentes no filme e sem um sentido, a não ser nostálgico,  ganha agora pleno sentido com o grito de liberdade emitido por Balram. Ainda escrevendo o e-mail sobre sua trajetória ao premiê chinês, Balram nos diz algo assim: ¨ mesmo que me peguem nunca vou admitir que errei. Valeu à pena saber ainda que por um dia, por uma hora, por um só minuto o que significa não ser escravo, não ser um serviçal¨. É a ¨virada do desejo¨, o fim do mau encontro anunciado por Etienne de la Boétie; para Balram o desejo transfigurou-se, o desejo de liberdade será doravante o grande protagonista do filme. Quem ¨vira o desejo¨ da servidão para a liberdade, nunca mais cessará de buscar alianças com outros tigres brancos. Quem saiu do galinheiro precisa montar seu pequeno exército de tigres brancos. E com Balram não será diferente. Precisará de novas alianças. 

Como sabemos ao acompanhá-lo no filme e neste artigo Balram tornou-se Ashok Sharman e é um empresário de sucesso. Tornou-se um empresário moderno, faz contratos, não trata mal os seus empregados, não os pune e responsabiliza-se quando algo acontece. É isso que significa sair do galinheiro? Tornar-se empresário de sucesso e modernizar-se!? Não, definitivamente, não é esse o recado...

Duas cenas nos permitem compreender o que significa para Balram, agora Ashok, sair do galinheiro. A primeira cena é o jantar com seu sobrinho, uma criança de uns doze anos. O menino ao final pede mais sorvete e Balran-Ashok lhe diz que só no ¨ próximo domingo¨. O menino afirma o olhar e diz: ¨agora¨. Balram- Ashok responde ¨criança esperta¨. Sair do galinheiro é sustentar o outro na afirmação de si, na sua capacidade desejante. Na cena final – para nosso espanto e perplexidade – Balram reúne seus empregados e re-afirma seu gesto criminoso. Convoca seus funcionários a fazerem o mesmo gesto, dando-se em holocausto. De novo, está nos mostrando, como um Bakunin pelo avesso, o que significa sair do galinheiro, afirmar até o fim o outro na sua potência desejante. Balran-Ashok doravante precisa de alianças com outros tigres brancos! Definitivamente é um filme que ilustra a transfiguração do desejo de servir em desejo de liberdade e quais são as atitudes – ou um novo modo de existência -  de quem saiu do galinheiro. É Bacurau. É utopia!

 

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